Pará

Uso de contêiners como locais onde funcionam lojas e bares vira tendência

Oportunidades vão além de comemorações tradicionais do varejo e devem ser aproveitadas de acordo com perfil de cada negócio
Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
Oportunidades vão além de comemorações tradicionais do varejo e devem ser aproveitadas de acordo com perfil de cada negócio Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.

Pryscila Soares, Ana Laura Costa e Alexandre Nascimento

Quem acompanhou a Copa do Mundo do Catar, realizada em novembro de 2022 certamente, recorda de um inusitado estádio que fez parte do mundial e recebeu o nome de “974”. O número fazia referência à quantidade de contêineres utilizados na construção daquele espaço. A estrutura chamou a atenção do público presente e, também, dos telespectadores.

Apesar de ter sido uma novidade um estádio de contêineres na copa, no mundo dos negócios, a utilização das estruturas já é uma tendência e tem ganhado cada vez mais espaço por ser uma alternativa mais prática e viável economicamente do que investir em um ponto comercial, por exemplo, para a abertura de novos empreendimentos/escritórios.

Em Belém, já existem algumas lojas com este conceito e modelo para negócios. Do inglês container, o contêiner funciona como um “cofre de carga” cuja finalidade é promover o transporte seguro de mercadorias variadas. A resistência é uma das principais características, uma vez que são projetados para o uso continuado.

Costumam ser fabricados com aço corten, uma liga muito mais resistente à corrosão que o aço comum. Ou seja, a estrutura por si só representa uma economia na manutenção do espaço, por exemplo.

Antes de enveredar pelo empreendedorismo, o empresário André Sancler, 43, atuava como gestor hospitalar. Ele havia mudado de Belém para um estado do Nordeste, onde trabalhava e passou a morar com a família. Contudo, a rotina de viagens constantes prejudicava a convivência dele com a esposa e os filhos. Isso fez com que André começasse a estudar o mercado de franquias para investir e, com isso, fazer a sua transição de carreira.

Depois de muito estudo, André optou por retornar à capital paraense e montou uma franquia de uma renomada rede de chocolates finos dentro de um contêiner. O empresário inaugurou a primeira loja em outubro do ano passado, no bairro do Marco, em plena Avenida Almirante Barroso com a travessa Lomas Valentinas, e recentemente está operando com a segunda loja, com o mesmo modelo, no bairro Coqueiro.

André Sancler 43 anos, empresário. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

“O modelo contêiner vi uma vez em São Paulo e me chamou muito a atenção. Fora que é mais barato que uma loja. É mais econômico, porque o gasto inicial é um pouco menor (do que uma loja tradicional). É uma loja expressa”, explica.

“Não é só uma loja de chocolates, é uma loja de presentes. Com R$ 50,00 você consegue comprar uma caixa de chocolate bem bonita. Inaugurei essa loja em outubro de 2022 e desde lá está sendo um sucesso. Não me arrependo, tanto que dia 1º de abril inaugurei a segunda loja contêiner no Coqueiro. É uma vantagem. Você tem um espaço reduzido, mas consegue colocar todos os itens e vender”, garante André, que já conta com dois funcionários por loja para dar conta da procura.

Segundo ele, o feedback do público é bastante positivo, sobretudo pela facilidade e comodidade de haver uma loja numa área de grande circulação. “Ninguém sai de casa para comprar chocolate. Mas hoje a pessoa passa aqui, entra e compra um chocolate, uma trufa, um presente. Você tem um custo menor e consegue trabalhar com menos pessoas. Já tem casas contêiner. A tendência é essa para quem é investidor, quer trabalhar com um valor reduzido e ter mais opções”, destaca.

MERCADO

Com criatividade, parceria e claro, contêineres, também é possível transformar um espaço antes ocioso, num complexo cultural e gastronômico que inspira a diversidade e estimula economias locais, por exemplo. Na avenida Nazaré, uma das principais vias no centro da capital, a Vila Container é espaço de empreendimento criativo.

O complexo que nasceu há 5 anos, hoje movimenta a cena cultural da cidade, com programações aos fins de semana e apresentação de artistas locais. Porém, tudo isso nunca foi um plano, como conta o engenheiro civil, artista e síndico da Vila, Almir Trindade, de 30 anos.

Em Belém, algumas lojas adotaram um novo modelo de espaço para os negócios, que são os contêineres. Na foto, Almir Trindade, “síndico” do Vila Contêiner. Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.

Junto à sócia do empreendimento e arquiteta Jade Jares, o síndico revela que os dois já possuíam um escritório onde trabalhavam com alguns projetos de arquitetura e engenharia e, no início, com a aquisição do primeiro contêiner, a intenção era mesmo continuar atuando no ramo, como explica Almir.

“Na verdade, o primeiro contêiner foi comprado para que pudéssemos ocupar o espaço e investir para fazer as instalações para o nosso escritório de engenharia e arquitetura. Esse terreno, é um terreno da minha família que estava ocioso, parado. Na época, com a concessão dos meus familiares, vimos a oportunidade de usar o espaço para continuarmos trabalhando no ramo. Então, todo esse complexo que vemos hoje, veio depois. A gente realmente não sabia onde é que ia dar, porque de fato não era algo sobre empreendedorismo”, revela.

“As construções em containers são uma realidade no mundo todo, importante lembrar que a gente não inventou a roda”, destaca Trindade.

Almir, que também é idealizador da Semana de Arte e Muralismo, que mostra o poder das intervenções artísticas como instrumento de transformação dos espaços e da sociedade, conta que já havia feito uma exposição, enquanto sua sócia Jade estudava curadoria, ou seja, os dois já estavam inseridos no mercado criativo.

INVESTIMENTO

O primeiro contêiner, que abriga a Galeria Azimute, espaço em que artistas urbanos da cidade podem expor suas obras, foi o primeiro a ser comprado, o xodó dos empreendedores. Na época, há 5 anos, custou por volta de 6 mil reais. Em seguida, foram comprados outros dez para a construção da vila, já valendo R$6.600 cada.

“Tivemos o privilégio de ter algumas reservas e que podíamos destinar para isso, sem falar na segurança de ser um terreno familiar. Em estrutura de contêiner, investimos quase 80 mil reais. Ao todo foi um investimento de quase 300 mil reais para fazer um complexo como esse”, afirma Almir.

A Vila Container possui 1.500 metros quadrados, onde metade do espaço é destinado para estacionamento com mensalistas e a outra para a locação das estruturas em contêineres, onde funcionam restaurantes, lojas de vestuário, entre outros. Almir conta que boa parte dos empreendedores da vila são de primeira viagem. “A maioria dos empreendedores que estão aqui trabalharam por muito tempo em algum lugar e vieram para a vila com a grana que juntaram durante toda a vida de trabalho, são primeiros empreendedores”.

Por isso, a prioridade agora é a manutenção dos espaços, para melhorar as experiências das pessoas que frequentam o complexo, assim como valorizar os empreendedores que apostaram e escolheram o espaço para a iniciativa. “Queremos ser caracterizados pelas pessoas que frequentam o espaço, pelos empreendedores que estão aqui, que escolheram estar com a gente por esse meio criativo que a gente criou. As pessoas se atraem porque se identificam com o comportamento, estilo de música que a gente promove, com a curadoria que a gente faz”, destaca.

 

Estrutura se torna diferencial para o público

O empreendimento Bar Araguaia é um dos muitos estabelecimentos que funciona na Vila Container. Antes chamado de Bar do Macaco, a mudança de nome não implicou no número de clientes que frequentam o local. “O bar existe há 3 anos e, independente do nome, sempre atraiu grande público”, disse João Gabriel, gerente do estabelecimento.

João Gabriel, gerente do Bar Araguaia. Foto: Antonio Melo/Diário do Pará

Ainda de acordo com o gerente, o fato de funcionar num contêiner sempre foi um diferencial a mais, o que mostra que espaços desse tipo são tendências na cidade. “Por isso caprichamos na personalização do espaço, que seja de maneira que incremente ainda mais o espaço, que atraiu as pessoas justamente por funcionar assim”, completou o gerente.

Além disso, a opção de montar um negócio partiu no início pelo custo mais baixo dos contêineres, muito embora a proliferação desses espaços tenha aumentado o valor do investimento. “Ainda assim, é ainda mais vantajoso do que ter que construir de madeira ou alvenaria. O certo é que, montar um empreendimento em um contêiner ainda é tendência, por isso vemos estabelecimentos serem montados neles”, concluiu João Gabriel.