Na contemporaneidade, onde o tempo gasto diante das telas digitais se tornou uma realidade alarmante, iniciativas presenciais que buscam resgatar a saúde mental e a alegria na infância ganham um valor inestimável para a sociedade como um todo.
No Dia da Conscientização do Suicídio Infantil, 10 de setembro, o papel das Usinas da Paz tem uma vitalidade importante. Esses complexos humanitários fazem parte do programa estadual Territórios Pela Paz (TerPaz), iniciativa elaborada pelo governo do Pará e coordenada pela Secretaria Estratégica de Articulação da Cidadania (Seac).
O aumento da presença de telas, como smartphones, tablets e Smart TV, nos lares brasileiros impactam no comportamento de crianças e adolescentes em todo o país. Estudos, especialistas e instituições têm observado uma crescente dependência da tecnologia na rotina desse grupo.
Os recursos são utilizados como entretenimento, substituindo atividades físicas e até mesmo o contato com pessoas da mesma idade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira passa mais de 90 horas por semana conectada, o que equivale a quatro dias inteiros. Essa estatística impressionante ressalta a necessidade de intervenções adequadas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também alerta sobre os malefícios do uso excessivo de telas, listando problemas de saúde mental, transtornos psiquiátricos, transtornos alimentares, sedentarismo, transtornos da imagem corporal, transtornos posturais e músculo-esqueléticos, e problemas auditivos como preocupações graves.
Para compreender melhor os desafios que as telas eletrônicas impõem às crianças, a psicóloga da UsiPaz Guamá, Lenamaria Furtado, destacou a relação entre o uso excessivo de dispositivos e a depressão:
“Uma das sensações que as telas trazem é que você não está acompanhado, apesar de ter outras pessoas interagindo. Por não ter contato físico e estar junto, pode provocar sinais como ficar distante, só querer conversar através dessa tela, como se fosse uma linguagem. Desenvolvendo assim irritabilidade, problema de sono, compulsão alimentar ou anorexia, distúrbios de humor, podendo levar a algo mais grave”, ressaltou Lenamaria.
A psicóloga também ressalta a importância da presença dos pais e da autoridade deles, limitando o tempo de tela. “Muitas vezes os próprios pais não conseguem limitar, porque tem dependência nesses aparelhos. Afinal, existe um vício nas telas por conta do prazer dos ‘likes’, por exemplo. A solução neste caso é dar alternativas de sociabilização e interação, para que tenham outras fontes de prazer e recompensa”, complementou.
Transformação – Regina Durão, mãe de Letícia, que frequenta a aula de balé na Usina da Paz Prof. Amintas Pinheiro, em Ananindeua, inicialmente recebeu um pré-diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) devido à dificuldade da criança em socializar. Entretanto, após um ano, essa hipótese foi descartada, uma vez que ela demonstrou melhorias significativas, incluindo a capacidade de memorizar os passos de dança, interagir com outras crianças e desenvolver gosto pela participação na Usina da Paz.
“Ela é meu orgulho”, disse Regina, que também faz cursos na Usina da Paz e já teve um aumento significativo de renda graças ao que aprendeu. “A Usina da Paz trouxe atividades como Colônia de Férias, cinema, teatro e brinquedoteca, tornando a infância das crianças mais saudável. Além disso, eles organizam eventos especialmente pensados para nossas crianças, proporcionando interações reais e mantendo-as afastadas das telas”, complementou.