Pará

UFPA debate a presença de pessoas trans e travesti na Universidade

Professores de universidades, centros de educação tecnológicas e institutos federais das cinco regiões do Brasil decidiram entrar em greve a partir desta segunda-feira. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Professores de universidades, centros de educação tecnológicas e institutos federais das cinco regiões do Brasil decidiram entrar em greve a partir desta segunda-feira. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Na próxima semana, a Universidade Federal do Pará realizará o I Seminário Construindo a Presença de Pessoas Trans e Travestis na UFPA. O evento vai ocorrer nos dias 25 e 26 de junho, no auditório do prédio anexo do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA), e contará com a participação de pesquisadores, Instituições de Ensino Superior que já têm experiência no assunto, poder público e representantes da luta LGBTQIAP+.

Garantir os direitos à Educação Superior e dignidade para a população trans e travesti estão no foco dos debates que acontecerão pela manhã e tarde. Para o superintendente de Assistência Estudantil da UFPA (SAEST/UFPA), Prof. Dr. Ronaldo Araujo, é dever da Universidade eliminar barreiras que segregam e marginalizam as minorias.

“A UFPA tem o compromisso de assegurar o acesso e a permanência de todos os grupos que tiveram, historicamente, o seu acesso ao Ensino Superior negado. Este seminário representa uma oportunidade única de debate, para que possamos alinhavar as ações de ingresso e conclusão do curso da pessoa trans e travesti”, afirma.

Conquistar uma vaga na universidade, no entanto, é ainda mais desafiador para grupos vulnerabilizados pela sociedade. Segundo a estudante e diretora de Assistência Estudantil da União Nacional dos Estudantes (UNE), Nayan Aviz, as barreiras enfrentadas por trans e travestis colocam-nos(as), desde cedo, em um lugar de exclusão e oportunidades escassas. “A falta de apoio familiar faz com que, muitas vezes, essa pessoa seja expulsa de casa. E, mesmo quando temos apoio dentro de casa, lidamos com o preconceito na escola, piadas transfóbicas e o não respeito ao nome social e pronomes. São coisas que vão minando a nossa autoestima e afetam o desenvolvimento das nossas vidas”, diz.

O advogado e membro do Programa de Empregabilidade e Formação LGBTI do ICJ/UFPA, Davi Almeida, explica que a baixa escolaridade leva a comunidade trans e travesti à invisibilidade da força de trabalho e a recorrer a profissões que colocam suas vidas em risco. “O poder público não dispõe de dados sobre quais são os trabalhos executados pela população TRANS como um todo. A gente só tem um único dado: 90% das travestis hoje atuam na prostituição, e a gente não sabe aonde estão os outros 10%”.

Para o professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Dom AC Condeixa de Araujo, a garantia de direitos vai muito além do acesso às universidades. “Qualquer política que seja criada para pessoas trans e travestis precisa ser pensada em vários aspectos, porque não basta criar as cotas e nem só ter o dinheiro para bolsas de auxílio e permanência. A gente tem que pensar sobre violência simbólica, uso do banheiro, letramento, para que a pessoa se sinta parte da comunidade. Se vamos colocar a população para dentro das universidades, precisamos incluir, abraçar e acolher.”

DADOS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR – De acordo com o levantamento da Assessoria da Diversidade e Inclusão Social da UFPA (ADIS/UFPA), desde 2021, o total de estudantes na Instituição que solicitaram a inclusão do nome social é de 123, número que vem crescendo ao longo dos anos, seja nos cursos de graduação, pós-graduação, cursos técnicos e especialização. Dentre os cursos que eles(as) estudam, estão: Ciências Biológicas, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Dança, Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo (UFPA/Salinas), Engenharia de Telecomunicações, Engenharia Química, Farmácia, Geografia, História, Letras – Libras, Música, Odontologia e Turismo.

PSS 2024 – Dados do CEPS (Centro de Processos Seletivos) da UFPA também apontam que dos(as) 57.571 candidatos(as) inscritos(as) no último Processo Seletivo, 60 pessoas se autodeclararam Mulher Transexual Transgênera e 68 Homem Transexual Transgênero. Destes, 16 foram classificados(as), mas apenas 11 estão cursando o Ensino Superior, o que representa 0,16% do total de calouros(as) 2024 – taxa cerca de dez vezes menor que o esperado.

A coordenadora de Diversidade Étnica da ADIS/UFPA, Profa. Dra. Isabel Rosa Cabral, afirma que, apesar do aumento gradativo que vem ocorrendo ao longo dos anos, é preciso intensificar a inclusão e permanência desde a Educação Fundamental. “A baixa representatividade no Ensino Superior é reflexo de uma grande exclusão desse grupo desde o Ensino Fundamental, pois pesquisas apontam que aproximadamente 80% das pessoas trans e travestis têm seu processo educativo interrompido nessa fase. Esse quadro precisa ser urgentemente modificado com ações intersetoriais, que garantam a educação e outros direitos fundamentais ao grupo.”