INVESTIGAÇÃO

'Trataram minha filha como lixo', diz pai da criança que morreu na UPA de Ananindeua

O Conselho Regional de Medicina do Pará abriu um procedimento apuratório para investigar a morte de uma criança de um ano e nove meses.

A morte da criança se dá em um cenário de verdadeiro caos na saúde de Ananindeua
A morte da criança se dá em um cenário de verdadeiro caos na saúde de Ananindeua.

O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) abriu um procedimento apuratório para investigar a morte de uma criança de um ano e nove meses, ocorrida na UPA do Icuí, em Ananindeua, na noite de quinta-feira (3 de abril). De acordo com o CRM-PA, todos os casos recebidos pelo órgão são analisados, seguindo o sigilo previsto no Código de Processo Ético-profissional. A Polícia Civil do Pará (PC-PA) também acompanha o caso.

Prefeitura de Ananindeua Abre Apuração Interna

Em nota oficial divulgada nas redes sociais, a Prefeitura de Ananindeua informou que iniciou uma apuração interna sobre o ocorrido. A menina havia sido atendida três vezes na mesma semana na UPA, com sintomas de vômito e diarreia, mas foi medicada e liberada. Na terceira visita, seu estado piorou drasticamente, levando ao óbito.

A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que a criança foi atendida repetidamente com os mesmos sintomas. Segundo o comunicado, no último atendimento, ela chegou em estado grave e foi encaminhada à sala vermelha, onde recebeu todos os procedimentos de emergência, mas não resistiu. A equipe médica acionou as autoridades para apurar as causas da morte.

Família Relata Falhas no Atendimento e Descaso

Os pais da criança denunciaram mau atendimento e falta de empatia por parte dos profissionais. O pai, Matheus Santos, afirmou que a médica mal examinou a menina e que a família foi expulsa da UPA enquanto ela ainda estava sendo tratada.

A mãe, Lívia da Conceição, relatou que, após a última medicação, o braço da filha inchou e seu estado se agravou. Quando retornaram à UPA, foram informados do falecimento. “Ninguém explicou o que aconteceu. Me tiraram de lá como se eu fosse um cachorro”, desabafou. O laudo necroscópico deve sair em 30 dias.

Crise na Saúde Pública de Ananindeua

O caso ocorre em meio a uma grave crise no sistema de saúde do município. Em 13 de março, o Ministério Público do Pará (MPPA) pediu intervenção estadual na gestão da saúde de Ananindeua, diante do colapso nos serviços. O fechamento de hospitais tem sobrecarregado outras cidades da região metropolitana.

Vereadores e Deputados Cobram Respostas

O vereador Fábio Nobre (MDB) visitou o Pronto-Socorro Municipal – inaugurado em 2023 com investimento de R$ 20 milhões – e encontrou o local quase vazio, com apenas quatro pacientes. Funcionários relataram que a UTI nunca foi usada e que há falta de manutenção nos equipamentos.

Na Assembleia Legislativa, deputados criticaram a gestão do prefeito Daniel Santos (PSB). Fábio Figueiras (PSB) destacou o caos na saúde, enquanto Eliel Faustino (União Brasil) lembrou que Ananindeua está entre as piores cidades em saneamento básico do país.

População Revoltada nas Redes Sociais

Nas redes sociais, moradores relataram problemas crônicos nas UPAs da cidade, com profissionais despreparados e falta de estrutura. Uma usuária escreveu: “Se tivessem internado a criança, talvez estivesse viva. Uma nota oficial não a traz de volta”.

A morte da criança reacendeu o debate sobre a precariedade da saúde pública em Ananindeua, enquanto familiares e autoridades buscam respostas e justiça.