TRABALHO

Trabalho informal: o sustento de quem vive das ruas de Belém

Muitas pessoas encontram no trabalho informal uma fonte de renda em Belém, com a venda de produtos como bandeiras e lanches ou como malabaristas. Conheça as histórias de algumas delas

Foto: Antonio Melo - Diário do Pará
Foto: Antonio Melo - Diário do Pará

Sob o sol ou na chuva, homens e mulheres transformam as ruas de Belém em pontos de sustento. Entre bandeiras, lanches e o café que desperta os transeuntes pela manhã, está a história de quem faz do trabalho informal uma forma de oportunidade. Luiz Guilherme Melo, 56, vende lanches pelas ruas há dez anos. De segunda a sexta-feira, sai de casa no bairro da Terra Firme às 6h e, de bicicleta, tem o bairro do Marco como um rumo certo. Permanece nas ruas até 12h e aos sábados estende o trabalho até 16h.

“Meu filho tinha uns 12 anos, precisava trabalhar, então comecei a vender lanche e nunca mais parei. A gente vive de venda e tem que vender todo dia, porque os gastos também são diários: café, almoço e por aí vai. Não dá para parar”, diz. Com o que ganha, sustenta a esposa e o filho.

Nildo Serra Batalha, 50, é vendedor de bandeiras, cavalinhos dos times do brasileirão, luvas e raquetes elétricas. Há 25 anos, ele viu na informalidade uma maneira de pagar as contas. Morador do bairro Jaderlândia, em Ananindeua, sai às 6h30 para pegar um ônibus rumo à avenida Duque de Caxias, bairro do Marco, em Belém, e só encerra as vendas às 18h. De todos os produtos, Nildo não esconde a paixão azulina e espera pelos clientes sentado perto da bandeira do Clube do Remo.

“Trabalhava na construção [civil], mas vim para a rua porque era um bom negócio. Tem sol e chuva, mas vale a pena. Aqui tenho bandeiras pequenas de R$50 e a de dois metros R$150. Dá para tirar a renda e cobrir o meu aluguel, pagar a energia e sustentar a filha, que ainda não trabalha”, compartilha o vendedor, que mantém o sonho de conquistar um imóvel.

ANDRE BAIA, 30,ARTISTA MALABARISMO. FOTOS ANTONIO MELO

No semáforo da Duque próximo a avenida Doutor Freitas, Márcio Farias, 49, oferece frutas aos motoristas. “Trabalho aqui há anos. A gente se acostuma com o calor, com a correria”. Para ele, a informalidade foi uma necessidade. “Sempre trabalhei como vendedor de algo. Há 20 anos vendo frutas pelas ruas, mas aqui no perímetro já estou há 15 anos. Permaneci por escolha, pois tenho minha liberdade. E como eu moro com minha mãe, posso ajudar ela também”.

A autônoma Wilainny Lopes, 35, escolheu o café como carro-chefe. Seguindo os passos da mãe, ela começou a trabalhar aos 15 anos de idade. Com o tempo transformou o antigo carrinho ambulante em, agora, um pequeno café fixo na avenida Rômulo Maiorana, próximo da travessa Perebebuí.

Mesmo tendo tentado outros empregos formais no passado, Wilainny se reencontrou na venda de café e afirma que é ali que deseja continuar. “Eu gosto do que eu faço. Só que é trabalho todo dia, de manhã e de tarde, porque a gente não tem férias certas como um trabalho formal, não tem seguro desemprego, nada disso. Mas com o meu trabalho consigo pagar as contas da minha casa, manter minha mãe e minha filha e seguir em frente”, diz.

Márcio Paracampos, 44, viu na venda de água de coco uma oportunidade. Desde os 20 anos de idade trabalha por conta própria, já tendo passado por diversas atividades antes de se estabelecer na venda do coco.

MARCIO PARACONPOS, 44, VENDEDOR DE ÁGUA DE COCO – FOTOS ANTONIO MELO

Mesmo com uma rotina intensa, saindo de casa às 5h30 do bairro Guanabara, em Ananindeua, e retornando apenas às 22h30, ele se orgulha da independência conquistada. “Aqui tem dias bons e ruins. Consigo tirar mais que um salário mínimo. O que importa é que consigo me manter e ajudar minha mãe. É um trabalho digno. Aqui eu sei que, quanto mais eu me esforço, mais retorno eu posso ter”.