A aprovação no vestibular é um sonho de muitos jovens que concluem o ensino médio, com Crislane Silva, de 18 anos, não foi diferente. Ela terminou o ensino médio no final do ano passado, na classe hospitalar do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém, e, desde então, sonhava em ingressar na universidade.
Mesmo com as dificuldades impostas pela leucemia, tipo de câncer que acomete a medula óssea, a aluna-paciente nunca desistiu do objetivo. A persistência e a dedicação fizeram com que conseguisse ser aprovada no curso de Biologia da Universidade Estadual do Pará (Uepa), localizada no município de Vigia.
A adolescente conta que começou a sentir tontura, febre, dor de cabeça e apresentar um emagrecimento rápido. Com o quadro que somente piorava, a cada dia, foi transferida para o Hoiol em 2018, onde recebeu a notícia que considera uma das mais difíceis de toda vida: o diagnóstico de leucemia.
No hospital, começou a frequentar a Classe hospitalar presencialmente, porém quando o quadro se agravou, as aulas foram ministradas no leito, até mesmo de forma on-line, durante o período de pico da pandemia. Um acompanhamento educacional que fez a diferença na vida da estudante.
“Cheguei ao hospital quando cursava a 1ª série do ensino médio. Havia todo um cronograma a ser cumprido; deixei a classe somente após a minha formatura. Os professores foram muito importantes durante o período de hospitalização, não desistiram de mim. Sempre tive vontade de entrar na universidade, meu desejo inicial era fazer medicina veterinária, mas surgiu essa oportunidade e agarrei. O resultado saiu no último dia 4 deste mês. Fiquei muito emocionada ao ver o meu nome na lista de aprovados, não vejo a hora de começar a vida acadêmica”, disse.
Nesta quarta-feira(09), Crislaine retornou ao hospital para mais uma sessão de quimioterapia, intervenção terapêutica realizada uma vez por semana, e também para celebrar a conquista junto aos profissionais que contribuíram durante o processo de ensino-aprendizagem. Esse vínculo escolar permitiu que desse continuidade ao processo de desenvolvimento no âmbito da educação básica, favorecendo o ingresso e retorno da jovem ao ensino regular.
“Conhecemos a Crislaine no momento em que estava internada fazendo os exames iniciais para iniciar o tratamento contra o câncer. Informamos sobre a classe hospitalar, então ela ficou motivada e estava decidida a voltar a estudar, disse que não iria parar. Começamos a dar o suporte pedagógico, mesmo não estando efetivamente matriculada, enquanto acontecia o trâmite da documentação, pois ela ainda estava matriculada na escola de São Caetano de Odivelas, onde reside”, informou Ana Elvira dos Santos, professora referência da Classe.
Em funcionamento na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), a classe se configura como modalidade de Educação Especial e possibilita que crianças e adolescentes continuem os estudos, garantindo o direito à educação, à continuidade do processo ensino-aprendizagem e à reintegração ao grupo escolar. “Nosso objetivo principal é contribuir para que eles não parem o percurso escolar. Não medimos esforços para garantir essa escolarização”, destacou a professora Elvira.
“O programa de educação especial é ofertado desde a inauguração do hospital em 2015, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Os alunos são matriculados nas Escolas Estaduais Barão do Rio Branco e Visconde Souza Franco, e cursam a série que fazia antes do adoecimento. É uma escola dentro do hospital, com toda a grade curricular de uma escola comum. Para nós, é uma imensa satisfação poder contribuir para a concretização de momentos como esse. Isso só evidencia a importância da parceria entre o hospital e a secretaria, informou Natacha Cardoso, coordenadora do Núcleo de Educação Permanente do Hoiol.
Fonte: Agência Pará