DO CONCEITO AO EMPREENDEDORISMO 

Startups: ideias criativas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia 

Entenda como tirar boas ideias sustentáveis do papel, onde buscar ajuda e como aproveitar a COP 30 para empreender.

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Imagem áerea de Belém com o PCT Guamá. Foto: Ascom PCT Guamá
Imagem áerea de Belém com o PCT Guamá. Foto: Ascom PCT Guamá

Você já deve ter ouvido por aí a palavra “startup”, um termo usado para descrever empresas emergentes que surgem com ideias inovadoras e operam em cenários de incerteza. Essas empresas buscam validar e escalar um modelo de negócios repetível e escalável, geralmente com investimento inicial relativamente baixo, mas com alto potencial de crescimento e lucratividade. É como se o lema delas fosse “pensar fora da caixa!”

No Brasil, a plataforma Sebrae Startups contabiliza mais de 20 mil startups cadastradas e espalhadas por todas as unidades da federação. Desse total, 150 delas estão localizadas no Pará

Esse tipo de empreendimento na Amazônia é considerado essencial, em especial por ser uma região em que os olhos do mundo se voltam e cobram a floresta em pé, redução das emissões de carbono, desenvolvimento da economia criativa e sustentável, além da valorização e respeito aos povos originários. Tudo isso em um território onde será realizada a Conferência das Partes Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP 30, marcada para Belém, em novembro.   

ENERGIA SUSTENTÁVEL

Microturbinas que geram energia limpa e renovável para os ribeirinhos 

Hidroturbina criada e desenvolvida pela DCO Sustentável. Foto: Divulgação

Entre as startups paraenses, a DCO Sustentável, sediada no bairro do Guamá, em Belém, é um exemplo de que tirar do papel boas ideias pode ajudar a atingir esses objetivos. A empresa surgida em 2019 para prestar serviços de engenharia nas áreas de saneamento e meio ambiente, passou a desenvolver, em paralelo com a energia fotovoltaica, microturbinas axiais – dispositivos que utilizam a energia cinética de um fluido para girar um rotor e gerar eletricidade. 

“A gente viu que esse negócio tinha mais viabilidade devido às demandas do mercado nacional e internacional para gerar energia limpa”, conta Leila Pother, CEO da empresa . “Já estávamos trabalhando em formulações matemáticas de turbinas a vapor e também energia eólica e hidrocinética. Dentre as três, nós vislumbramos que a hidrocinética, devido à capilaridade das bacias hidrográficas que têm na região amazônica, teriam maior aplicabilidade em termos de espacialização geográfica. Então, nós optamos pelo desenvolvimento da ‘hidroturbina’ como nosso primeiro produto”.

Com um faturamento médio anual de R$ 215 mil, a startup aproveita o interesse cada vez maior pela energia renovável, com a comercialização de energia solar, para investir na produção das microturbinas. “A partir do pleno desenvolvimento da microturbina versão 1, começamos a comercializar essa hidroturbina. Estamos buscando junto a diversos bancos, oficiais principalmente, que operam os créditos do FNO (Fundo Constitucional de Financiamento do Norte), por exemplo, para estruturar nossa fábrica, que a gente chama de planta-piloto, com produção inicial entre 80 e 130 turbinas por mês”, estima Leila Pother.

Segundo a CEO da DCO Sustentável, o diferencial das microturbinas é o baixo custo que pode beneficiar diretamente comunidades ribeirinhas pela Amazônia. “Em 2027, possivelmente vamos estar comercializando a turbina eólica. Aí vai na sequência, um ano ou dois anos depois, iniciaremos a prototipação da turbina a vapor. E aí vai, ano a ano, introduzindo um novo projeto de desenvolvimento de produto”, planeja. 

Veja o vídeo da turbina em funcionamento. Imagens: Divulgação

E as ideias de novos produtos seguem a todo vapor, literalmente. “Além das turbinas de geração de energia, temos um projeto de armazenamento mecânico de energia, que é para evitar aquele investimento excessivo de recursos com banco de bateria. Tem ainda um projeto para desenvolver um banco mecânico de armazenamento de energia. Então, a DCO opera assim: pesquisa, desenvolvimento, fabricação e venda, instalação e manutenção dos geradores próprios e venda, instalação e manutenção de gerador solar fotovoltaico de terceiros”, detalha.

Leila Pother não disfarça o brilho no olhar ao descrever o impacto disso na rotina de quem precisa se virar sem energia elétrica. “Encontro ribeirinhos falando na hidrocinética. Pessoas que muitas vezes têm uma atividade econômica como a comercialização de pescado e fruta in natura. Aí passa por lá um atravessador e esse atravessador leva a produção deles, deixa com eles um valor baixo, que os impede de prosperar. Eles estão lá naquela mesma condição há duas, três gerações. A partir do momento que a energia chega nessas comunidades, de imediato, elas já conseguem, por exemplo, agregar valor a essa produção”, cita. 

“Então, o açaí pode ser batido, pode ser extraída a polpa, que pode ser congelada, e aí pode vender a polpa. Ou levar até um grande centro ou pode passar um atravessador, mas ele já vai levar um produto com valor agregado e vai deixar uma renda melhor para essas famílias. O primeiro impacto que a gente vê é esse, o impacto econômico”, exemplifica. 

Outro ponto positivo destacado é o de a energia limpa trazer melhor acesso aos serviços públicos como vacinas, que na pandemia, por exemplo, não puderam ser estocadas nessas regiões por falta de refrigeração. “A gente ouviu pela mídia que alguns lotes se perderam. Se uma pessoa for picada por um escorpião, por cobra, não vai ter ali naquela localidade o antídoto, porque não tem um refrigerador para conservar esse antídoto. A pessoa tem que ser colocada num barco, viajar horas, às vezes metade de um dia, para chegar à sede do município e muitas vezes não tem tempo para isso”, comenta. “Às vezes não chega água potável porque não tem bombeamento, tratamento. Tudo isso precisa de energia. Quando nós botamos a nossa turbina lá no Acará – nordeste paraense, a internet chegou até lá e aí hoje uma moradora me relatou que consegue falar com o filho dela que está morando no Ceará. Então, é esse tipo de impacto, de benefício que as pessoas que são atendidas pela tecnologia DCO sofrem”.

MODA SUSTENTÁVEL 

Combinô e TexBi são exemplos do ‘green fashion’ 

Plataformas Combinô e TexBi faz a economia circular com roupas e tecidos usados. Foto: Divulgação

Enquanto a DCO Sustentável se preocupa em levar energia limpa, de baixo custo e acessível para os ribeirinhos da Amazônia, a CEO e cofundadora da plataforma digital e startup Combinô e da startup TexBi, Cleide Ornela, resolveu empreender a partir de uma preocupação: o que fazer com as roupas usadas e resíduos da indústria têxtil após a vida útil dessas peças? 

A Combinô funciona como uma plataforma que permite que qualquer pessoa consiga monetizar roupa parada no guarda-roupa. “Elas podem vender, podem alugar as suas peças diretamente na nossa plataforma, que vai criar um marketplace (e-commerce) próprio e a nossa plataforma vai realizar o split de pagamento (divisão), onde o dono da peça, o fornecedor, ele vai ganhar uma renda extra e a gente, dono da plataforma, vai ganhar uma comissão sobre cada transação”, explica. 

“Ou seja, quanto mais as pessoas vendem ou alugam, mais elas vão ganhar também. Além de, claro, gerar trabalho, visibilidade para aqueles profissionais de costura, artesãos, de economia criativa que vão atuar na transformação ou até mesmo na criação de roupas e a gente faz aquela ponte entre os seus produtos e o consumidor final”, completa. 

Biomassa têxtil da TexBi. Foto: Divulgação

Dessa forma, a Combinô, consegue inserir as peças que estavam paradas e sem uso em um ciclo de reutilização e de revalorização do produto. “Isso beneficia desde os consumidores finais, que botam as peças na plataforma, até as costureiras, os criadores, as marcas que têm estoque parado, as lavanderias e os pequenos e grandes negócios da moda”, lista a CEO. 

Ainda segundo Cleide, a startup TexBi permite que outras marcas consigam adotar práticas mais circulares, fazendo a logística reversa. Os resíduos da indústria têxtil são transformados em biomassa têxtil. 

“A gente cria novas oportunidades de trabalho, de renda para toda uma cadeia têxtil. Além disso, a gente também consegue gerar empregos diretos e movimentar toda uma rede local de fornecedores e também de prestadores de serviços. Então, dessa forma, a gente diz que é uma cadeia que gera renda, impacto social e que ainda resolve um problema ambiental em crescimento constante”, constata.

“Nesse momento, a gente está investindo em tecnologias para aprimorar a nossa plataforma, para fortalecer também cada vez mais a operação da TexiBi e sempre buscando parcerias estratégicas para levar tanto a Combinô quanto a TexBi para outros mercados, para que a gente consiga de fato expandir”, conta. 

“Sinceramente não existe outro caminho. Não dá mais para pensar em moda ou empreender ou criar um negócio sem pensar em responsabilidade. Então, principalmente no setor da moda, que é o segundo mais poluente do mundo, se a gente não criar soluções inteligentes, acessíveis e sustentáveis, esse problema cada vez vai crescer mais. Oferecemos essa alternativa real para o consumo mais consciente, para a redução dos impactos ambientais gerados por toda essa indústria da moda e que, infelizmente, hoje em dia, a responsabilidade fica em cima do consumidor de dar um destino final àquele produto”.

Beatriz Ornela e Cleide Ornela, CEO’s e Co-fundadoras da Combinô e da Texbi. Foto: Divulgação

Em quatro meses de operação real, a Combinô já tem mais de 500 peças em circulação no site Combino.com.br, entre vendas, aluguéis e também doação. “Nós já atingimos nesses quatro meses quatro estados diferentes do Brasil e já contamos com mais de 100 cadastros na nossa plataforma. E nós impactamos diretamente mais de 40 pessoas, entre clientes, fornecedores, parceiros, os projetos que apoiamos e criadores que estão dentro da nossa plataforma”, revela a CEO. 

“Já com a Texbi, que nós ainda estamos em processo de desenvolvimento do produto, a gente já recebeu mais de 600 quilos de resíduos têxteis, que serão transformados em novos produtos através da biomassa têxtil, retornando assim ao mercado”, explica. 

ONDE BUSCAR AJUDA

SEBRAE PARÁ 

Tem uma boa ideia? Saiba como tirar do papel

Boas ideias como as da DCO Sustentável recebem apoio de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Microempresas (Sebrae) e o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá). 

Renata Batista. Foto: Divulgação

Gerente da Unidade de Sustentabilidade e Inovação do Sebrae (PA), Renata Batista conta que, para tirar do papel o empreendimento inovador, é preciso mais do que uma boa ideia. “O primeiro passo é entender o problema que se quer resolver e validar se há mercado para essa solução. Depois, é fundamental planejar bem o modelo de negócio, buscar capacitação, testar o produto ou serviço em pequena escala e estar aberto a ajustes constantes”, ensina. 

“Também é imprescindível se conectar ao ecossistema de inovação, participar de programas de apoio como os oferecidos pelo Sebrae e estar atento às oportunidades como a COP 30, que abre espaço para soluções sustentáveis e de impacto”, ressalta.

A representante do Sebrae Pará destaca que o Serviço oferece diversos programas e iniciativas para apoiar essas startups e fomentar o empreendedorismo inovador. “O exemplo disso é o programa Inova Amazônia, focado no desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal. E este programa visa capacitar empreendedores com negócios de base tecnológica em estágio inicial, promovendo a bioeconomia e inovação na região. Além disso, disponibilizamos trilhas de pré-aceleração para startups de forma online e gratuita, que são distribuídas em seis módulos que abordam desde empreendedorismo e propósito até inovação e investimento”, dá a dica.

O Sebrae oferece ainda uma série de ferramentas gratuitas e acessíveis para apoiar os microempreendedores individuais, desde a formalização até a gestão do negócio. “Entre os principais serviços estão os cursos online e presenciais, consultorias personalizadas, ferramentas de finança e precificação, acesso a crédito orientado, além do aplicativo Sebrae MEI, que facilita o controle do dia a dia na gestão do negócio. 

“Além disso, nós promovemos a participação em feiras, como exemplo, a Semana do MEI, rodadas de negócios, ajudando o MEI – microempreendedor individual – a vender mais e se posicionar no mercado. Tudo isso com o objetivo de fortalecer esses pequenos negócios e gerar mais oportunidades”, conta.

Renata Batista pontua que no Pará ainda há muito espaço para novos empreendedores, especialmente em áreas relacionadas à sustentabilidade, turismo, gastronomia regional, economia verde e inovação social. “Setores que têm ganhado destaque com a realização da COP 30 em Belém. A demanda por soluções sustentáveis, serviços de apoio a eventos, hospedagem alternativa, alimentação saudável, produtos da bioeconomia, abrem novas oportunidades para quem deseja empreender com propósito e impacto. É um momento estratégico para crescer”, incentiva.

PCT GUAMÁ

Berço da criatividade na Amazônia 

Sede do PCT Guamá. Foto: Ascom/PCT Guamá

Localizado às margens do Rio Guamá, o PCT Guamá conta com um ecossistema rico em biodiversidade, estendendo-se por 72 hectares, destinados a edificações e à Área de Proteção Ambiental (APA) da Região Metropolitana de Belém. Com gestão da Fundação Guamá, é o primeiro parque tecnológico da região Norte do Brasil com objetivo de estimular a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável, a fim de melhorar a qualidade de vida da população. 

A iniciativa é do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), com as parcerias da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). 

Segundo o professor da UFPA e diretor técnico da Fundação Guamá, Renato Francês, o complexo conta com mais de 30 empresas residentes (instaladas fisicamente no Parque), mais de 40 associadas (vinculados ao Parque, mas não fisicamente instalados), além de 12 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de processos, produtos e uma escola técnica.

“Atualmente, a Fundação Guamá gerencia 50 projetos em andamento, abrangendo uma ampla variedade de temáticas estratégicas voltadas ao fortalecimento do ecossistema de inovação e ao desenvolvimento sustentável da região”, explica. “Muitas startups vinculadas ao PCT Guamá desenvolvem produtos e serviços que aproveitam os recursos naturais da Amazônia de forma sustentável. Exemplos incluem a produção de bebidas fermentadas a partir de insumos amazônicos e o

reaproveitamento de resíduos plásticos na construção civil”, conta. “A estrutura enxuta e dinâmica das startups permite uma rápida conversão de conhecimento científico em soluções práticas. O PCT Guamá facilita esse processo ao oferecer infraestrutura, laboratórios e apoio técnico, promovendo a conexão entre universidades, empresas e governo”, complementa.

Francês destaca ainda que o PCT Guamá integra a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e International Association of Science Parks and Areas of Innovation (Iasp), e faz parte do maior ecossistema de inovação do mundo. 

“Os projetos sob gestão da Fundação Guamá abrangem setores estratégicos que refletem os principais desafios e oportunidades da região amazônica, além de impulsionar o seu desenvolvimento sustentável. Entre os setores contemplados estão: meio ambiente, sustentabilidade, biotecnologia agrícola, tecnologias sociais e inclusão, tecnologia da informação e comunicação, agropecuária sustentável, agroindústria, bioeconomia, gestão da inovação e empreendedorismo”.

Desde a sua criação em 2010, o PCT Guamá tem se consolidado como um dos principais ambientes de estímulo à inovação e ao empreendedorismo na região Norte. “O número de iniciativas apoiadas é significativo e inclui projetos em diferentes áreas, voltados à solução de desafios regionais. Um exemplo que se destaca é o da startup Solved, que se destacou no cenário de inovação ao desenvolver soluções tecnológicas voltadas para o monitoramento e gestão de dados geoespaciais. Durante a pandemia de COVID-19, criou as plataformas ‘Geocovid-19’ e o ‘Alerta Indígena Covid-19’, que auxiliavam no acompanhamento da disseminação do vírus em diferentes regiões, especialmente entre populações indígenas”, exemplifica. “Essas ferramentas permitiram uma visualização precisa da distribuição dos casos, facilitando a tomada de decisões por parte das autoridades de saúde”.

Para quem tem uma ideia inovadora para empreender, o PCT Guamá oferece um ecossistema de apoio abrangente. “Para ingressar, o empreendedor precisa estar formalizado como pessoa jurídica e submeter sua proposta a um edital de fluxo contínuo, que permanece aberto enquanto houver disponibilidade de espaço. O parque atende empresas em diferentes estágios de desenvolvimento e disponibiliza suporte em diversas etapas, incluindo incubação e aceleração; consultoria especializada; conexões e networking; além de interação com laboratórios de PD&I”. 

🔍 PARA ENTENDER – COMO PROCURAR AJUDA DO PCT GUAMÁ?

Seja você empreendedor, pesquisador ou empresário, o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, gerido pela Fundação Guamá, oferece diversos caminhos de apoio e conexão com seu ecossistema de inovação. Confira como cada perfil pode buscar suporte:


👩‍💼 EMPREENDEDORES

Desejam se conectar ao ecossistema ou se instalar no parque:

  • Utilizar a infraestrutura dos laboratórios multiusuários (ex: alimentos, biotecnologia, mecânica etc.);
  • Firmar parcerias com startups residentes;
  • Alugar sala e se instalar fisicamente como empresa residente ou associada.

🧪 PESQUISADORES

Vinculados a Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), interessados em projetos colaborativos:

  • Usar a infraestrutura do parque para experimentos, análises ou prototipagens;
  • Solicitar apoio técnico ou institucional para submissão de projetos a agências de fomento.

🏢 PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

Buscam inovação com base em ciência e tecnologia:

  • Desenvolver novos produtos ou processos inovadores;
  • Contratar serviços tecnológicos ou consultorias dos laboratórios do parque;
  • Acessar o ecossistema como empresa residente ou parceira.

📞 CONTATO

Para mais informações:
📧 [email protected]
📞 (91) 3321-8908 / 3321-8909

COP 30 é divisor de águas para a economia sustentável da Amazônia

Mario Ramos Ribeiro. Foto: Arquivo pessoal

Professor da UFPA de Economia da Mudança Climática e Teoria Econômica e Finanças Empresariais, o doutor Mário Ramos Ribeiro conversou com a reportagem do DIÁRIO sobre o papel das startups na Amazônia. Com o conhecimento de quem foi secretário executivo do Ministério da Integração Nacional (atual Ministério do Desenvolvimento Regional), presidente do Banco do Estado do Pará e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), ele também destaca os desafios da região para a COP 30 e a necessidade de incentivos externos para ideias empreendedoras como as relatadas nesta reportagem.  

“Os desafios são enormes. Em primeiro lugar, é necessário estarmos atentos para o fato de que, embora o Acordo de Paris (2015) tenha sido melhor desenhado do que o Protocolo de Kyoto, ele carece de mecanismos e arranjos institucionais para levá-lo a termo. Não há cláusulas para o monitoramento das ações globais de enfrentamento da mudança climática simplesmente porque não há sanções previstas contra os inadimplentes -não há mecanismos de ‘enforcements’ para o cumprimento do Acordo, e por isso  assim surgem incentivos oportunistas. Os países mais prósperos aproveitando-se desta falha regulatória passaram a executar algo diferente do contratado em Paris. Executaram um ‘fake Paris’”.

Acompanhe a entrevista a seguir. 

– Como verificar isso?

Basta uma rápida lida nos artigos nos artigos 10,11,e 12 do Acordo contratado em Paris , onde estão listadas as obrigações dos países ricos para com os países em desenvolvidos e com os países mais vulneráveis  e comparar com o que foi feito por eles de 2015 até hoje. Podemos constatar com placitude  que o Acordo de Paris , no seu núcleo vital, nunca foi cumprido pelos países ricos. Estão absolutamente inadimplentes. A cada dia amplia-se uma gravosa distância entre a execução feita por estes países – o ‘Fake Paris’- e o que deveriam ter feito conforme as suas obrigações assumidas no Acordo de Paris.

– Que acordos são esses?

No Acordo assinado em Paris, os países ricos se comprometem em disparar três canhões: o canhão do financiamento do combate à mudança climática a ser executado pelos países desenvolvidos em benefício dos países em desenvolvimento e dos mais vulneráveis; desenvolver e transferir inovações tecnológicas, na transição da economia marrom para a economia verde, para os países menos prósperos e para os mais pobres; e financiar o surgimento de capital humano no assim chamado “Sul Global”. Até hoje nenhum canhão foi disparado. Sem financiamento, sem inovação, e sem capital humano não dá para entrar em campo. Um tremendo calote. 

– Então não há mais o que se fazer ?

Ao contrário. É exatamente por isso que a COP 30 precisa e deve ser realizada em Belém! É sempre melhor o nosso time jogar em casa. Foi por excesso de jogo fora de casa que fomos transformados em vilões. É urgente retomar a ordem consagrada na Convenção do Clima, em 1992, aperfeiçoar o Acordo de Paris, e fugir deste ‘Fake Paris’. Neste último todas as prioridades estabelecidas  antes foram jogadas fora. A cada COP o que existe é “promessa e revisão. A COP-30 em Belém deve ser o momento para superar tudo e criar arranjos institucionais que funcionem. Não é quer muito. Nem desejar o impossível.

– A COP 30 pode servir de vitrine para o patrocínio de novas ideias?

Exato. Mais uma razão para a COP-30 ser em Belém. Se a Amazônia tem todos estes erros que eles dizem que temos, nada melhor do que conversarmos aqui. Conversar sem rodeios, conversando tecnicamente as novas ideias surgem. Sem essa de dançar com rosto colado, é ter conversa séria, cara a cara, discutir os custos sociais das medidas. Temos de caminhar, com novas informações e ideias diferentes para uma nova Convenção do Clima. Não apenas para a Amazônia corrigir seus erros, mas sobretudo para recuperar efetivamente o maior de todos os princípios: o “Princípio das Responsabilidades Comuns Porém Diferenciadas” (PRCD), que impõe a repartição do ônus do combate ao aquecimento global nos seus termos originais. Todos temos a responsabilidade de agir, de alguma forma, nesse enfrentamento. O assim chamado Sul Global tem a obrigação de fazer, mas os países do Norte Global têm a obrigação ética, jurídica e econômica de bancar o financiamento. 

– Qual o papel das startups na economia da Amazônia?

A inovação e tecnologia tem um papel vital neste momento. E isso naturalmente atrai investimentos de risco, atrai as startups. Mas temos graves dificuldades de financiamento público doméstico. As startups ajudariam a trazer financiamento privado externo. Vai depender do desenho das regras de entrada e saída que conseguirmos implantar na COP 30. A sua pergunta me lembra que também devemos estimular as Private Equities, porque são uma forma de emissão de capital privado para o financiamento de investimentos direto.  Elas também trazem a cultura associativa – a Amazônia precisa muito desta cultura de empreendimento associativo.

– Dentro desse universo há espaço para novos empreendedores? 

Se conseguirmos fazer da COP 30 uma nova Convenção do Clima, operando dentro das Regras do Acordo de Paris, fazendo o funeral do ‘Fake Paris’. Veja, grave isto: A Amazônia nunca mais será a mesma depois da COP 30. Ou participaremos  de um futuro mais feliz ou aos pouquinhos não haverá mais vida humana aqui. É duro dizer isso, e sei que é difícil de ouvir tal o barulho que os ambientalistas românticos fazem na defesa do ‘Fake Paris’.