INOVAÇÃO

Startup criada por médico no Norte desafia a lógica do mercado de saúde

Em 2024, as chamadas healthtechs movimentaram R$ 799 milhões no país, impulsionadas por uma nova geração de startups

Em 2024, as chamadas healthtechs movimentaram R$ 799 milhões no país, impulsionadas por uma nova geração de startups
Em 2024, as chamadas healthtechs movimentaram R$ 799 milhões no país, impulsionadas por uma nova geração de startups. Fotos: Divulgação

O ecossistema de inovação em saúde no Brasil está em expansão. Em 2024, as chamadas healthtechs movimentaram R$ 799 milhões no país, impulsionadas por uma nova geração de startups que buscam responder a problemas históricos da área: gestão ineficiente, sobrecarga de profissionais, lacunas tecnológicas e dificuldade de acesso. Na América Latina, os investimentos cresceram 37,6% no último ano, com o Brasil liderando com folga a atração de recursos.

Apesar do cenário promissor, a maior parte desse movimento ainda se concentra nas regiões Sudeste e Sul. Os grandes hubs de inovação estão em São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis e Curitiba, enquanto as regiões Norte e Nordeste enfrentam desafios estruturais que vão desde acesso a capital até visibilidade.

Empreender a partir do Norte, especialmente na área da saúde, ainda é um exercício de persistência. A distância dos grandes centros de decisão, o custo logístico, a falta de interlocução com aceleradoras e a baixa penetração das pautas de inovação nos debates regionais tornam o caminho mais árduo, mas não impossível.

Foi a partir dessa realidade que o médico Jonathan Sarraf decidiu apostar em um negócio local e visão nacional. Há três anos ele decidiu trocar os plantões por uma atuação voltada à inovação no setor da saúde. Desde então, lidera iniciativas na área de educação financeira e soluções de gestão voltadas a médicos, com atuação crescente no Brasil.

A proposta surgiu da vivência real: colegas sobrecarregados, com boa renda, mas pouca estrutura de gestão e nenhum preparo para lidar com finanças ou planejamento de carreira. “Comecei a perceber que o problema não era o quanto o médico ganhava, mas o quanto ele não conseguia organizar. Faltava conhecimento, mas também ferramentas e linguagem. Eu decidi criar algo que conversasse com essa rotina”, conta Jonathan.

A Trajetória da Portí

A Portí nasceu no Norte, mas hoje atende médicos de diversos estados do país. Atua desde a formalização do CNPJ até o planejamento tributário, e tem ganhado espaço entre jovens profissionais que já não desejam repetir o modelo tradicional de carreira. A empresa também desenvolve conteúdos educativos e consultorias personalizadas, com foco em autonomia e clareza financeira.

Para Jonathan, empreender longe dos grandes centros exige uma dose a mais de resistência, mas também abre portas para um tipo de conexão mais profunda. “A gente ainda precisa romper a ideia de que inovação só acontece em São Paulo. Existe uma inteligência local que entende os problemas da saúde daqui, das realidades do Norte, das urgências que não cabem nas soluções prontas. Aqui a gente conhece a realidade do profissional de perto. Sabe o que ele vive, o que ele enfrenta. E por isso consegue criar soluções mais humanas, mais aplicáveis.”

Para Sarraf, empreender fora dos grandes centros exige resistência, mas também abre espaço para conexões mais profundas com as dores reais dos profissionais de saúde.
Para Sarraf, empreender fora dos grandes centros exige resistência, mas também abre espaço para conexões mais profundas com as dores reais dos profissionais de saúde.

A fala dele encontra eco entre outros empreendedores da região que buscam estruturar um ecossistema de inovação mais descentralizado, onde o conhecimento técnico local seja valorizado e canalizado para soluções sustentáveis e conectadas com a realidade.

“O que falta, muitas vezes, não é ideia, é ponte, é oportunidade. Tem muita gente boa por aqui. Gente com visão, com experiência na ponta e com ótimas ideias. Mas sem visibilidade, muitos negócios nascem e morrem sem sair da fase embrionária”, avalia Sarraf.