Pará

Setores esperam grande demanda para a COP 30 em Belém

No total, o governo do Pará calcula que serão investidos de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura para a conferência Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.
No total, o governo do Pará calcula que serão investidos de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura para a conferência Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

Carol Menezes

Ainda faltam pouco mais de dois anos para a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, maior encontro do mundo sobre o tema, e que em 2025 será realizado em Belém, mas os eventos considerados preparatórios já realizados – Diálogos Amazônicos, Cúpula da Amazônia e Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, todos sediadas na capital paraense em agosto deste ano – já mostraram que principalmente os setores locais de Serviços e do Comércio serão cada vez mais demandados daqui até lá.

E que dar conta dessa demanda vai exigir investimentos e qualificação.

Assessora econômica da Federação do Comércio do Estado do Pará (Fecomércio), Lúcia Cristina Andrade Lisboa explica que a entidade não fez ainda nenhum estudo específico sobre a COP 30, mas pretende, já que as expectativas são bastante postiva para um evento dessa magnitude. Não só nos dias de programação propriamente ditos, mas nesta fase de preparação e sobretudo no momento pós.

“Setores produtivos já foram convidados pelo governo do Estado para reuniões em que estão obtendo informações sobre os investimentos que serão feitos e que também vão impactar no comércio e serviços, com necessidade de preparação dos estabelecimentos para atender a demanda, sobretudo na área de restaurantes , lanchonetes, serviços de transportes e hotelaria e produtos regionais”, adianta ela.

Sem ainda projetar números ou percentuais, Lúcia Cristina entende que locais relacionados a extensa programação de uma Conferência das Partes os diversos eventos da serão de oportunidades para o estabelecimento de novos negócios de comércio e serviços – e isso inevitavelmente inclui a expansão da rede hoteleira.

“Tudo isso terá impacto direto sobre vendas e negócios do setor terciário da Economia, inseridos os transportes, e também indiretos, porque abrirão vagas de trabalho, mesmo temporárias. Isso fará girar a renda advinda das oportunidades de novas ocupações que se reverterão em novas demandas no comércio pelos consumidores locais”, sugere a assessora econômica.

Para além da movimentação turística óbvia durante a COP 30, que costuma durar cerca de duas semanas, Lúcia confia também na possibilidade de impactos indiretos sobre o setor no momento após o encerramento da programação. “As obras de infraestrutura que serão realizadas para receber a COP 30 permitirão receber melhor os turistas mesmo depois do fim da Conferência. Também temos a expectativa de atenção e foco turístico para Belém e o Pará, para a Amazônia, e essa evolução tem grande impacto no movimento do comércio , serviços e hotelaria”, analisa.

Hotelaria tem receios de fazer investimentos e não ter retorno depois da COP

Os eventos internacionais sediados em Belém no mês passado para debater meio ambiente e a transição para uma economia verde, dentre outros assuntos correlatos, foram motivo de dor de cabeça para quem veio de fora e precisou se hospedar em algum hotel de Belém. Assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHRBS-PA), Fernando Soares afirma que o quantitativo de leitos de hospedagem da região Metropolitana gira em torno de 20 mil a 25 mil.

Assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHRBS-PA), Fernando Soares afirma que o quantitativo de leitos de hospedagem da região Metropolitana gira em torno de 20 mil a 25 mil.

“É insuficiente para atender a demanda de pessoas que vem para a COP 30. É preciso pensar em opções alternativas. Até onde tenho notícias, o governo estadual está pensando em trazer transatlânticos, parece que também há possibilidade de construções semelhantes às que foram feitas durante as Olimpíadas de 2016, que depois puderam ser usados pela população, ou como repartições públicas, isso seria uma boa ideia. Mesmo assim, teremos problemas. Agora durante os ‘Diálogos’ e a ‘Cúpula’ eu soube de uma delegação do Rio Grande do Norte precisou se hospedar em motel”, relata.

Em relação a oferta de qualificação, reciclagem e formação, o Sindicato aguarda o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detalhar o regramento para as linhas de crédito anunciadas em junho, somando um total de R$ 5 bilhões, que serão destinadas a Belém – empresas, associações, consórcios, sindicatos, etc – como investimento nesses preparativos.

“A gente pensa inclusive em oferecer só garçom, ao taxista, uma qualificação que inclua formação em pelo menos um idioma, já que será grande o número de pessoas de fora do Brasil nesses eventos todos. Estamos montando um projeto e já deveremos colocá-lo em prática a partir do início do próximo ano”, adianta Fernando.

Por outro lado, o assessor jurídico explica que o empresariado ligado ao setor hoteleiro está receoso em investir na criação de mais vagas de hospedagem e depois da COP 30 ficar sem demanda para ocupá-las

“É a preocupação de pegar valor, se envolver em um endividamento, mesmo que seja com juro subsidiado e prazo elástico, e só ter realmente hospedagem garantida no Círio, visto que, em Belém, nosso turismo é focado basicamente no fator religioso”, detalha.

Bares e restaurantes já tiveram agosto aquecido

De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Seccional Pará (Abrasel Pará), os eventos realizados em agosto foram sentidos positivamente pelo setor, como se fosse uma espécie de pré-Círio, até mesmo com filas de espera em alguns estabelecimentos. A presidente da entidade local, Bebel Lima, informa o aumento na procura varia entre 60% e 80% na comparação com o mesmo período no ano passado.

“Acredito que, de forma geral demos conta, afinal temos uma gastronomia muito rica e diversa. Mas com certeza podemos e devemos melhorar. Ouvi muitas críticas sobre a falta do inglês e espanhol para os atendentes, além de alguns serviços extras por parte dos restaurantes, como chamar ou indicar um táxi de uma cooperativa cadastrada. Estamos dialogando com o Poder Público e iniciativa privada, fechando parcerias, benefícios, dentre outras vantagens”, confirma.

A presidente da entidade local, Bebel Lima, informa o aumento na procura varia entre 60% e 80% na comparação com o mesmo período no ano passado.

No início do mês a Abrasel Pará trouxe um profissional de referência nacional em atendimento ao cliente para uma qualificação de dois dias para equipes de diversos estabelecimentos, e também fechou agenda com o Sebrae/PA para ofertar cursos gratuitos direcionados nesse preparo para a COP 30.

“A maior parte do setor está ansiosa para que as ações de preparo para Conferência sejam logo entregues ou iniciadas. Estão bem otimistas com os resultados, principalmente após um agosto aquecido com vários eventos de projeção nacional e internacional”, justifica.

Bebel conta que a Abrasel também está em diálogo com o governo estadual e o municipal no sentido de contribuir na construção do planejamento das ações a serem realizadas. “Fora algumas questões muito específicas por conta da pandemia, realmente o que mais precisamos são as linhas de crédito com condições especiais, pois alguns devem investir em um retrofit, novas tecnologias, na troca de uniformes, no cardápio ou até mesmo melhorar a questão da sustentabilidade nos estabelecimentos”, adianta.

Ela vê ainda como fundamental disponibilizar o máximo de capacitações possíveis, de forma descentralizada, com conteúdo direcionado e duração mais curta, como se fosse um “intensivão técnico”.

“Em paralelo a isso, também capacitar os colaboradores que já estão em nossas empresas, e como hoje temos um apagão de mão de obra em nosso setor, essas é uma oportunidade de atrairmos novos profissionais, preferencialmente preparados, e gerarmos mais emprego e renda”, finaliza.