Na última semana, o estado de São Paulo confirmou o primeiro caso da subvariante arcturus da Covid-19. Conhecida por ter relação com a conjuntivite em infectados, a cepa foi identificada pela primeira vez em janeiro de 2023 e, desde então, se espalhou por diferentes países.
Em março, a arcturus foi considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) uma variante sob monitoramento. Menos de um mês depois, a instituição indicou que a arcturus era uma variante de interesse, o que significa um grau de maior preocupação.
Questionada pelo DIÁRIO, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que não há, até o momento, identificação da sub variante XBB.1.16 no estado do Pará. De acordo com os relatórios de resultado do sequenciamento genômico, somente a variante ômicron está sendo detectada no Estado, adiantou a Sespa.
SAIBA MAIS SOBRE A SUBVARIANTE ARCTURUS
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O QUE É?
Com o nome técnico XBB.1.16, a arcturus teve o primeiro registro em 9 de janeiro de 2023 e é descendente da XBB, uma linhagem da variante ômicron. Ela tem um perfil semelhante ao da XBB.1.5, subvariante que assustou a OMS quando foi descoberta, por sua capacidade de transmissão. A arcturus, no entanto, guarda duas mutações diferentes na proteína S, utilizada pelo vírus para entrar nas células humanas.
O país com mais casos registrados é a Índia, mas outros 36 também já sequenciaram a cepa, segundo o último relatório epidemiológico da OMS que considera dados de até 23 de abril.
A cepa foi considerada uma variante de interesse em abril de 2023. Segundo a OMS, uma cepa é classificada dessa forma quando apresenta mutações que podem afetar características como transmissibilidade, virulência ou escape de anticorpos. Além disso, a cepa precisa ter um crescimento da sua disseminação em diferentes regiões do mundo, causando um aumento no número de casos, para ser considerada de interesse.
QUAIS OS SINTOMAS?
A arcturus pode causar os sintomas já conhecidos da Covid-19, como febre, tosse, dores e problemas respiratórios. Uma das características que chama atenção, contudo, é a arcturus ter relação com o aparecimento de conjuntivite nos infectados.
Fernando Spilki, virologista e coordenador do projeto de sequenciamento genômico Rede Corona-ômica BR-MCTI, diz que existem relatos na Índia e em outros países da relação da arcturus com a inflamação ocular, especialmente em crianças. Ele afirma, porém, que é preciso uma avaliação mais minuciosa, até porque esse sintoma já era visto anteriormente.
“Casos esporádicos de conjuntivite já vinham sendo reportados desde 2020”, diz.
Mas a informação do sintoma já pode ser útil para que as pessoas fiquem atentas em caso de suspeita de infecção pelo coronavírus.
CAUSA CASOS MAIS GRAVES?
A arcturus apresenta semelhanças com a XBB.1.5 -e isso também vale para a proteção conferida pelas vacinas ou por infecções prévias.
Um documento da OMS que avaliou a arcturus a classificou como de risco moderado. A conclusão se baseia em parte em um estudo pré-print (quando não é veiculado em uma revista científica com revisão de outros especialistas) que observou não haver diferença no grau de escape imunológico entre a arcturus e outras subvariantes já registradas, como a XBB.1.5 e a XBB.1.
Mas esse grau não é um indicativo de que a cepa necessariamente cause quadros mais graves da doença. Na Índia, por exemplo, a circulação da arcturus não ocasionou aumento nas hospitalizações, nem maior necessidade do uso de ventilação mecânica em uma população em que cerca de 70% já tomou alguma dose de reforço de vacina contra Covid-19.
“Evidências disponíveis não sugerem que a XBB.1.16 tenha um risco adicional para a saúde pública que outras linhagens descendentes da ômicron em circulação”, resume a OMS na avaliação de risco da subvariante arcturus.
A TRANSMISSÃO É MAIOR?
O mesmo estudo pré-print que concluiu não haver diferenças da arcturus para o sistema imunológico observou que a variante pode causar um maior número de casos se comparada a outras cepas, como a própria XBB.1.5.
O ponto também é visto no relatório de risco feito pela OMS. A organização informa que a variante pode “se espalhar globalmente e levar a um aumento na incidência de casos”. A própria classificação da arcturus como variante de interesse é um indicativo de que ela já se espalha em diferentes regiões e causa novos casos.
Por isso, o órgão recomenda que os países estejam atentos ao grau de disseminação da cepa e disponibilizem essas informações para uma avaliação constante de seus impactos.
O que a arcturus representa para o Brasil?
O primeiro caso registrado da arcturus pode causar preocupação, mas Spilki diz que é importante esperar um pouco mais para entender seus impactos. “Ainda é cedo para dizer qual é e qual será o grau de disseminação dessa variante.”
O virologista afirma que dados de amostras de semanas passadas não apontam um grau de disseminação da cepa. No entanto, essa constatação pode mudar a partir de novas análises.
Segundo Spilki, com o anúncio do caso confirmado, é esperado que o sequenciamento de amostras passadas aumentem para observar se já houve outras infecções da cepa no país. E diz que o sequenciamento das próximas semanas também será necessário para avaliar o grau de disseminação.
O especialista ressalta ainda que o aumento de casos da subvariante arcturus em outros países não significa que necessariamente isso irá ocorrer no Brasil. “Na Índia, por exemplo, ela se disseminou grandemente, mas claro que a gente tem uma dinâmica própria no Brasil. Nem sempre se repete o mesmo panorama”, conclui.