A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio da Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais (Cesipt), orienta a população que está viajando de barco neste período de férias escolares para evitar casos de escalpelamento, acidente causado pelo eixo exposto dos motores das embarcações que, ao enroscar e puxar os cabelos longos das meninas e mulheres, podem arrancar parte ou todo o couro cabeludo, levando à morte.
“Nessa época há uma circulação maior de pessoas navegando em barcos pelos rios do Pará. Ou seja, são alguns cuidados essenciais que devem ser tomados para que os acidentes não ocorram”, explicou a coordenadora estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, Tatiany Peralta, ao lembrar que esse tipo de agravo é recorrente no Estado, cujas características geográficas contribuem para que a população utilize as embarcações como meio de transporte principal, sobretudo às proximidades de festas religiosas e períodos de férias escolares.
Mulheres e crianças são as maiores vítimas e geralmente ficam com graves sequelas físicas e psicológicas. Grande parte desses pacientes é oriunda de 42 municípios localizados entre o Arquipélago do Marajó e do oeste paraense. No primeiro semestre deste ano já são quatro ocorrências, sendo dois em Afuá, um em Tailândia e um em Melgaço.
Prevenção
No campo preventivo, a Sespa vem se empenhando em combater o escalpelamento por meio das ações da Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes de Motor com Escalpelamento, que já promoveu, entre outras atividades, a ação de cobertura de carenagens, feita pelos militares da Capitania dos Portos, responsável pelas ações de segurança naval nos rios do Pará, das quais destaca-se a colocação de proteção no eixo do motor, procedimento feito em parceria com a Sespa e que desde 2009, por meio de lei federal, tornou-se obrigatório.
Desde então, mais de seis mil embarcações receberam proteção nos eixos. A instalação não tem custo para o dono da embarcação, porque é patrocinada por empresas privadas. A medida reflete uma das consequências de 16 anos de campanhas preventivas, que contaram ainda com a adesão de grupos de mestres carpinteiros, que são responsáveis pela construção de pequenas e médias embarcações utilizadas como principal meio de transporte de quem vive nas áreas onde os rios, furos e igarapés são as únicas ‘estradas’ disponíveis – que corresponde a 63% dos municípios paraenses.
O acidente ocorre quando os cabelos de um passageiro ou passageira se prendem ao eixo do motor, e a força da rotação arranca violentamente o couro cabeludo e algumas áreas do rosto, deixando cicatrizes e deformações permanentes. Provoca muitas dores e a intensa hemorragia pode levar à morte. Além de muito dolorido, o tratamento normalmente se estende por anos, causando traumas e sofrimentos para as vítimas e seus familiares.
A principal medida preventiva a ser tomada pelos donos de embarcação é cobrir o eixo do motor. A proteção é instalada gratuitamente pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental/Marinha do Brasil.
Quanto aos passageiros, adulto ou criança, as principais medidas são: manter os cabelos totalmente presos em forma de coque e cobertos, de preferência, com boné, e não usar rabo de cavalo; não tirar água do fundo do barco e nem se movimentar enquanto o motor estiver ligado; não se abaixar para juntar moedas, prendedores de cabelo, brinquedos e outros objetos do fundo do barco; ter cuidado com fraldas, lenços ou qualquer tecido que possa se enrolar no eixo do motor; ter cuidado com o volante do motor, que é tão perigoso quando o eixo; observar se o eixo está coberto e sentar o mais longe possível desse equipamento.
Em caso de acidente, a vítima deve receber os primeiros socorros no município ou no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, na Região Metropolitana de Belém, para estabilização do quadro clínico. Depois, será encaminhada à Fundação Santa Casa do Pará, em Belém, que é referência no atendimento a casos de escalpelamento.
Serviço:
A cobertura do eixo do motor é gratuita e pode ser solicitada à Capitania dos Portos pelos telefones (91) 3218-3950 ou (91) 99114-9187.