As preparações para enfrentar a maratona de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2022, nunca são demais. E alcançar alunos de todas as regiões é importantíssimo, para que estudantes que participarão da prova possam ter as mesmas possibilidades.
Mais de 150 indígenas da etnia Tembé participaram de aulão intensivo para a prova do Enem neste sábado (24), na aldeia São Pedro, no município de Capitão Poço, nordeste do Pará. A iniciativa inédita da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), por meio do Enem Pará Itinerante, visa reforçar o conteúdo que repassado nas escolas indígenas do Estado. A aldeia fica às margens do alto Rio Guamá, e foi escolhida pela facilidade de acesso aos outros 15 povoados da região.
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Mamiry Tembé, 18 anos, contou que pretende fazer o curso de Medicina para ajudar na saúde de seu povo. “Eu tive essa inspiração. Acho um curso bonito, que lida com a vida. Eu sei que preciso intensificar os meus estudos e, por isso, estou aqui aproveitando essa oportunidade”, disse.
Seguindo a tradição dos povos originários, o aulão começou com uma dança indígena, que remete à espiritualidade positiva para abençoar os jovens e dar boas-vindas aos quatro professores da Seduc, que percorreram cerca de 250 km de Belém até a aldeia, aonde até pouco tempo só era possível chegar de barco. A ação ocorreu na ramada da aldeia São Pedro, considerada uma estrutura sagrada para o povo Tembé, e foi o local escolhido para abrigar alunos de povos originários de 16 localidades.
O professor de Matemática Marcelo Russo ressaltou a importância e a responsabilidade de levar o conhecimento aos indígenas. “Fica difícil a gente esconder a emoção e satisfação de estar em um local como esse, trazendo condições iguais para um povo que tem capacidade igual. É trazer, neste aulão, Matemática, Ciências da Natureza, a partir da Biologia, e dois professores de Códigos e Linguagem. Estamos aqui para orientamos não apenas para o Enem, como também para o processo letivo específico da UFPA (Universidade Federal do Pará) e já visando a Uepa (Universidade do Estado do Pará), que está desenvolvendo um processo seletivo específico para o povo indígena”, informou.
Qualidade de vida
Para a secretária de Educação do Pará, Elieth de Fátima Braga, “é momento de festejar mais esse importante avanço na democratização da educação em nosso Estado. Vamos avançar com essa iniciativa para outras etnias, fazendo com que aumente o ingresso do indígena nas faculdades e, consequentemente, o seu povo possa usufruir deste profissional no futuro, levando qualidade de vida e gerando emprego e renda”.
Materiais didáticos foram distribuídos aos estudantes, que receberam orientações para um bom desempenho nas provas, nas quatro áreas do conhecimento exigidas no exame nacional.
Oportunidade
O cacique da aldeia São Pedro, Kamiran Temém, engajado nas causas educativas, reconhece a importância do estudo para a sobrevivência de seu povo. “Ao longo da história, nós pudemos enxergar os avanços trazidos pelo conhecimento. Antes, nós não tínhamos nem autonomia para falar por nós mesmos. Hoje, nós temos essa liberdade, e por isso precisamos de conhecimento para lutar. Nossos jovens estão tendo uma bela oportunidade, coisa que os meus avós não tiveram”, contou.
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O cacique ressaltou ainda a importância de aliar o conhecimento do povo indígena e a educação convencional, com integração e respeito. “Estamos aqui oportunizando a nossa juventude sonhar. A educação, para nós, é muito importante, pois é um instrumento de luta. Nós deixamos nosso arco e flecha para travar uma luta ideológica em busca do nosso direito. A gente precisa fazer valor nossos direitos, principalmente diante de uma sociedade que ainda é preconceituosa”, concluiu o cacique.
A transmissão dos saberes tradicionais, por meio das narrativas em primeira pessoa, se mostra cada vez mais essencial na busca por direitos, muitas vezes já existentes. Somente a educação pode proporcionar esse feito, segundo a coordenadora da Educação Indígena da Seduc, Vera Arapiun. “Essa iniciativa é muito louvável. Aqui nós temos cinco escolas estaduais. Todos os anos esses alunos fazem parte de processos seletivos especiais, mas também fazem o Enem e, com certeza, essa oportunidade é muito significativa. Isso também descentraliza o intensivo e aproxima os indígenas dos outros candidatos”, afirmou a coordenadora.