Pará

Salário mínimo ideal seria de R$ 6,6 mil, segundo o Dieese/PA

Governo federal começa a receber a adesão de credores – empresas que têm dívidas a receber – para dar continuidade ao Programa de renegociações de dívidas que já viabilizou quase 10 bilhões de reais em renegociações. Foto: Divulgação
Governo federal começa a receber a adesão de credores – empresas que têm dívidas a receber – para dar continuidade ao Programa de renegociações de dívidas que já viabilizou quase 10 bilhões de reais em renegociações. Foto: Divulgação

Alexandre Nascimento

Já está em vigor o novo salário mínimo, fixado em R$ 1.302, concedido ainda no governo do então presidente da República Jair Bolsonaro (PL). O reajuste é de 7,41% em relação ao valor anterior de R$ 1.212, sendo que foi a primeira vez que o benefício apresentou aumento real, em cerca de 1,50%, durante todos os quatro anos da gestão passada, mas ainda assim o trabalhador não tem motivos para comemorar.

O motivo, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), se deve às fortes e sucessivas altas dos preços dos bens e serviços, mas sobretudo da alimentação básica.

O estudo do Dieese-PA abordou a realidade dos paraenses, uma vez que dos cerca de 3,8 milhões de trabalhadores do Estado, aproximadamente 1,9 milhão ou quase a metade, recebem o salário mínimo.

“Essa grande parte dos trabalhadores assalariados que vai conviver com R$ 43,40, valor que corresponde ao dia de trabalho, para poder se manter. E, a maior parte da destinação desse salário, exatos 57% dele, vai para os gastos com a cesta básica, que apresenta alta constante. Essa situação mostra que, mesmo com o reajuste salarial apresentando um aumento real, ainda não foi suficiente porque não incidiu no poder de compra do trabalhador”, explicou Everson Costa, técnico do Dieese-PA.

É possível observar essa realidade nas feiras e supermercados da cidade, onde os trabalhadores tiveram que adotar medidas na hora de fazer as compras para não comprometer o orçamento. “Toda vez que venho ao supermercado os produtos estão mais caros. Então, procuro reduzir a quantidade de produto ou levar uma marca inferior. Ainda bem que eu e meu marido trabalhamos, só assim para a gente fazer as compras de casa”, declarou Rosalina Almeida, 32 anos, gerente de loja.

Já a funcionária pública, Maria Miranda, 56 anos, retomou a profissão de costureira para complementar a renda, sobretudo para ajudar nas despesas da casa.

“Se eu fosse depender do salário que eu ganho, pode ter certeza que não teria condições de me alimentar. Como eu sei costurar, voltei a fazer roupas, consertar para ajudar. Fico imaginando como é difícil para uma família em que apenas uma pessoa trabalha, para garantir a alimentação. Com esse salário não tem como, só se fosse bem mais alto mesmo, talvez o dobro disso”, disse Maria Miranda.

E essa perspectiva de um aumento adicional pode vir a ser a realidade, uma vez que o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda a possibilidade de aumentar o salário para R$ 1.320 (PT), já aprovado no orçamento pelo Congresso Nacional.

“Mesmo se for decidido esse novo reajuste, ainda assim não influenciará no poder de compra do trabalhador, pelo mesmo motivo da alta dos preços dos produtos, cesta básica, assim como serviços de saúde”, declarou Everson Costa, técnico do Dieese-PA.

Diante dessa realidade, para que o salário mínimo atenda os preceitos constitucionais que garantam ao trabalhador o direito à habitação, vestuário, transporte, educação, alimentação, lazer o valor deveria estar, de acordo com o Dieese-PA, em torno de R$ 6.600.

“Seria um sonho, mas não recebemos nem a metade desse valor. Mas, vamos torcer para que um dia tenhamos um salário mais digno”, concluiu Breno da Silva, 33 anos, estudante.