Wesley Costa
A mitomania é uma condição psicológica em que a pessoa tem compulsão por mentir, independentemente do tamanho ou suas consequências. Embora possa parecer inofensiva, a mitomania pode ter sérios impactos na vida pessoal e profissional. Em casos mais graves, essa compulsão pode levar à perda de credibilidade quando, por exemplo, se é uma figura conhecida.
Especialistas explicam que quando uma pessoa mente com frequência, ela pode criar situações em que é difícil distinguir o que é verdade do que é mentira. A prática pode gerar conflitos e ressentimentos, levando ainda a uma deterioração dentro de relacionamentos entre amigos, familiares ou parceiros (a). No pior dos casos, a mitomania também abre brecha para isolamento social e surgimento de outras doenças que vão piorar o estado da pessoa.
O termo “mitomania”, ganhou maior destaque nas últimas semanas quando histórias contadas pelo cantor Naldo Benny, durante entrevistas, passaram a ser contestadas na internet. A mais recente situação relatada pelo cantor foi de que ele teria sido responsável pela vinda da modelo Gisele Bundchen ao Brasil, durante o período de Carnaval. Porém, outras fontes afirmaram que Gisele teria sido convidada por uma empresa do ramo da cervejaria que pagou mais de R$ 10 milhões pela presença da top model em seus espaços de divulgação.
Quando uma pessoa mente sobre coisas importantes, ela pode acabar enfrentando sérios problemas, inclusive dentro dos termos legais da lei. A psicóloga Márcia Yamada, explica que há diferença entre uma mentira comum e a mitomania. “A primeira refere-se a algo dito em prol de uma preservação, como forma de evitar, por exemplo, situações constrangedoras socialmente de forma esporádica. Já a mitomania é a mentira patológica, compulsiva e exagerada”, diz.
Atualmente, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) não classifica a mentira patológica como uma condição relativa à saúde mental isolada. A mitomania é tida como sintoma ou característica de outros transtornos como por exemplo: bipolaridade; transtornos de personalidade narcisista ou antissocial; borderline; transtorno obsessivo-compulsivo; transtorno de déficit de atenção com hiperatividade; ansiedade ou depressão.
DIAGNÓSTICO
A especialista destaca que, na maioria das vezes, o mitomaníaco não mente por má-fé e explica como é feito o diagnóstico. “Como já destacamos, a característica compulsiva nos remete a um impulso sem um propósito definido. Podemos verificar a mitomania nos casos em que a mentira está associada, por exemplo, a um transtorno de personalidade antissocial, que se caracteriza por desrespeito e violação de direitos dos outros ou que pode vir a se mostrar prejudicial a outras pessoas”, diz.
Daniele Sarmanho, 40 anos, conta que conhece algumas pessoas que gostam de mentir bastante. “Ao nosso redor tem sempre aquele ser humano que gosta de mentir, não é? Muitas vezes, a gente já até sabe quando é verdade ou não, e mesmo assim, a pessoa continua contando a história falsa”, disse. “No meu caso, mesmo em situações complicadas prefiro me omitir do que mentir, ou aumentar alguma conversa”, assegura a dona de casa.
Já o motorista de aplicativo Sebastião Costa, 59, revela que em alguns momentos precisou utilizar a mentira ao seu favor. “É quase impossível não encontrar alguém que tenha mentido, mas tudo tem um limite. Acredito que quando a mentira contada é para prejudicar o outro ou como forma de todo tempo contar vantagem, como muitos fazem, já não é uma coisa tão legal”, analisa.
Se você acha que sofre de mitomania ou conhece alguém que sofre, é importante procurar ajuda profissional para lidar com a condição e minimizar seus impactos. “Na maioria das vezes a identificação da compulsão é percebida por pessoas mais próximas. Nesses casos a orientação é não confrontar, mas sim, acolher e tentar sugerir ajuda especializada”, afirma a psicóloga.
Quando uma pessoa mente para tentar sempre ser destaque em alguma situação, essa mentira também pode confirmar um caso de mitomania. “Em alguns casos há uma prevalência da baixa autoestima levando a este tipo de comportamento. Mas é importante que se caracterize a compulsão, quando o indivíduo enfrenta dificuldades de autocontrole em relação ao hábito de mentir”, pontua Márcia Yamada.
O tratamento da mitomania pode acontecer de várias maneiras, principalmente pela psicoterapia “Por ser considerado sintoma de outras patologias, o tratamento desse paciente pode variar. No caso do acompanhamento psicológico, busca-se contextualizar e compreender este funcionamento, levando ao autoconhecimento e as possibilidades de encarar a realidade que foi falseada ou fantasiada. E não menos importante o acompanhamento psiquiátrico”, conta a especialista.