Grande Belém

RUAS HISTÓRICAS: Padre Eutíquio, travessa republicana

Travessa São Matheus, hoje a popular Padre Eutíquio. Foto: Divulgação
Travessa São Matheus, hoje a popular Padre Eutíquio. Foto: Divulgação

Cintia Magno

Marco da região central da capital paraense como se conhece hoje, a extensa travessa Padre Eutíquio tem a sua história ligada ao processo de interiorização da cidade, ainda durante o período de formação do território. Quando Belém ainda se restringia às áreas próximas ao rio, a abertura da antiga travessa de São Matheus, hoje Padre Eutíquio, significou a possibilidade da capital crescer rumo ao seu interior. Não é à toa que, hoje, a rua histórica se estende ao longo de três bairros de Belém.

Via nos dias atuais tem importante papel na vida da cidade. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

O historiador Jairo Agrassar aponta que a travessa Padre Eutíquio conta a história do processo de formação e interiorização de Belém, na medida em que se estende desde o litoral da cidade até a área que, na época, era o interior do seu território. “Até o século 18, a cidade de Belém se restringia à parte próxima do rio, então, naquele período, Belém crescia para os lados. Ela só vai crescer para o interior do território já no século 18 e 19, principalmente a partir do aterramento de alguns rios, como o Rio Piri. A partir do aterramento completo do Rio Piri, essa área da Campina se consolida como bairro”, explica.

Com o passar dos anos e séculos, a via foi se expandindo e moldando às novas realidades que eram apresentadas, acompanhando o desenvolvimento urbano apresentado por Belém. Tais características podem ser observadas ainda hoje, quando se observa a diferença de largura que a travessa Padre Eutíquio apresenta quando comparado o seu início, ainda no cruzamento com a avenida Portugal, e o seu término, já no encontro com a avenida Bernardo Sayão. “Quanto mais a cidade vai crescendo, mais essa rua vai aumentando. Se observarmos no mapa, a Padre Eutíquio começa bem estreita, no bairro da Campina, e já na altura do bairro de Batista Campos ela começa a se alargar porque no século 19 a cidade de Belém começa a ganhar padrões europeus e a própria rua acaba se moldando à essa nova realidade, se alargando para atender a essa nova estética urbana”, destaca o professor.

TRANSFORMAÇÕES

Da estrada de terra que a caracterizava quando seu nome ainda era de travessa São Matheus, a rua deu lugar aos trilhos dos bondes elétricos e, mais tarde, ao asfalto que permite o trânsito rápido dos veículos movidos a gasolina. Parte dessas transformações foram acompanhadas pelo aposentado Milton Miranda, 92 anos, que mora em um casarão na Padre Eutíquio desde 1945.

“Eu nasci na avenida Generalíssimo Deodoro, mas vim para a Padre Eutíquio quando eu tinha 15 anos, ainda de ‘calças curtas’”, rememora o morador. “Estou aqui desde 1945, quando muita gente aqui ainda não era nascida. Era muito diferente, passava o trilho do bonde bem aqui na frente, aqui do lado de casa era uma fábrica de castanhas, depois virou a Mesbla e depois o shopping. Foram muitas mudanças…”.

Apesar do passado bem mais recente, as lembranças da atendente Shirley Dias, 44 anos, também remontam a mudanças significativas. Ainda com 17 anos de idade, ela começou a trabalhar na banca de revistas da família e viu muitos comércios se modificarem, inclusive alguns que fazem parte da memória afetiva de Belém.

“Mudou muita coisa nesses anos. Aqui na esquina da Padre Eutíquio com a Pariquis ficava a sorveteria Tip Top, que depois virou uma farmácia. Do outro lado tinha uma lavanderia que também não tem mais e muitos casarões antigos que acabaram saindo”, recorda, ao lembrar da sorveteria que fez sucesso em Belém nas décadas de 70 e 80. “Até o público que frequenta a rua e os comércios mudou bastante”.