Trayce Melo
Colchão, sofá, fogão, pedaços de madeira, entulho de materiais de construção, galhos de árvore, resíduos plásticos e lixo doméstico. O amontoado de entulhos é uma realidade que tem incomodado os moradores de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém.
A reportagem percorreu ontem vários trechos da Cidade Nova V e VI e encontrou vários pontos de descarte irregular de lixo e entulho. Quem trabalha e mora nessas áreas relata que com frequência as calçadas e vias públicas são tomadas por lixo. O amontoado de sujeira, além de atrapalhar a vida dos moradores, ainda atrai focos do Aedes aegypti, moscas e outros insetos para as residências e estabelecimentos.
Na Cidade Nova VI, na Travessa WE 78, exatamente em frente ao antigo Sindicato dos Taxistas, havia muito lixo doméstico, galhos de árvore, entulho e poças d’água com grande quantidade de larvas e de mosquitos. Os moradores precisam se arriscar para conseguir passar pelo local.
Outro local, na Travessa WE 80, atrás da Escola Estadual Assis Ribeiro, virou um verdadeiro lixão a céu aberto e ainda funciona como uma espécie de depósito irregular de lixo. Lá haviam restos de colchão, sofá, geladeira, pedaços de madeira, entulho de materiais de construção, galhos de árvore, objetos que acumulam água parada e lixo doméstico.
O grafiteiro Jesus de Nazaré Teixeira, conhecido pelas redondezas como “Surfista”, conta que a situação só não está pior porque realiza um trabalho de limpeza no local. Ele instalou pneus com plantas e árvores para barrar o despejo de lixo. Mas mesmo com essa iniciativa, carroceiros despejam entulhos no local. “Antes aqui era pior, já melhorou bastante. É muito triste essa situação, ainda mais porque tem uma escola de educação infantil aqui na rua. É um risco muito grande esse lixo próximo dessas crianças. Eu tento ao máximo manter o local limpo e arborizado”, disse.
O grafiteiro também desempenha um trabalho de reciclagem. A sua residência é toda mobilhada com os restos de móveis que foram despejados no lixão a céu aberto. “Os móveis e alguns utensílios que utilizo em casa, foram encontrados aqui no meio do lixão. São coisas que demoram para se decompor e achei uma finalidade para elas. O que para muitos é lixo e sem utilidade, tem um outro significado para mim. Eu uso meu dom para transformá-los em móveis novos”, diz.
Ameaçada
Já na Cidade Nova V, na Travessa WE 35, onde fica localizada a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o entulho tomava conta da rua. Durante a permanência da equipe no local, foram vistos carroceiros despejando mais lixo na área.
A dona de casa Fátima Lopes, de 58 anos, capinava a rua na hora, na tentativa de minimizar os estragos perto da sua casa. Ela diz que denuncia constantemente os problemas para a gestão municipal e que também já chegou a ser ameaçada por carroceiros. “Eu tento fazer a minha parte, mas aqui virou um ponto de descarte irregular de lixo. Quem sofre é a gente que mora aqui, com a questão do fedor e de ser um atrativo para roedores e mosquitos”, comentou.
“Eu denuncio constantemente para a gestão esse descarte irregular de lixo, até chegam a mandar uma equipe para retirar. A coleta de lixo acontece no local, pelo menos duas vezes na semana. Mas já aconteceu recentemente de nem passar aqui”, acrescenta.
O corretor de imóveis José Silva, de 62 anos, também morador das redondezas, diz que a população também não colabora com a limpeza das ruas. “Existem os dias que o carro do lixo passa em um horário específico. Mas já ficamos algumas semanas sem coleta de lixo recentemente”, declara.
O que diz a prefeitura
- A Prefeitura de Ananindeua enviou nota ao DIÁRIO em que informa que a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Seurb) realiza regularmente a retirada de entulhos e a fiscalização em vários pontos de Ananindeua. “Mas há a ocorrência de pontos críticos nos quais os entulhos são descartados irregularmente por carroceiros. Vale salientar que a Secretaria está buscando estratégias para coibir esse tipo de ocorrência e em breve deve implantar ecopontos para o descarte adequado de resíduos sólidos”.
- Na mesma nota afirma que “quanto à penalidade para esse tipo de descarte clandestino, a Secretaria municipal de Meio Ambiente (Sema) informou que o descarte irregular de lixo ou inservíveis é considerado um crime ambiental e está previsto na Lei de Crimes Ambientais, neste caso apresentado, enquadra-se no artigo 54, parágrafo 2º do inciso V da lei federal 9605/98. O crime é inafiançável e a pena prevista é de reclusão de um a cinco anos”.