Pará

'Romance scam' e a 'sextorsão': crimes virtuais crescem no Pará

Práticas criminosas como o “romance scam” e a “sextorsão” têm registros inclusive no Pará. Estudo mapeou perfil das vítimas e como se proteger dessas ocorrências na internet
Práticas criminosas como o “romance scam” e a “sextorsão” têm registros inclusive no Pará. Estudo mapeou perfil das vítimas e como se proteger dessas ocorrências na internet

Luiz Flávio

O “Romance Scam” ou Golpe do Romance, quando o criminoso finge paixão pelas vítimas para conseguir benefícios financeiros; e a “Sextorsão”, quando o criminoso extorque a vítima utilizando conteúdo íntimo dela, vêm crescendo em todo o mundo, inclusive no Pará. Esses dois tipos de golpes são praticados através de aplicativos de relacionamento e pelas redes sociais como Instagram, Twitter e Facebook, vitimando, na sua maioria mulheres, que utilizam cada vez mais a tecnologia no seu cotidiano.

Mas se relacionar através do ambiente virtual na busca pelo par ideal pode trazer muitos riscos, prejuízos e decepções amorosas. Dados da Diretoria de Combate ao Crime Cibernético (DECCC) e da Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT) mostram que os registros de Romance Scam e Sextorsão cresceram entre os anos de 2018 e 2020 no Pará. No caso do Romance Scam, os casos subiram de 5 para 18 ocorrências. Já para a Sextorsão, saiu de “zero” registro oficial para 18 casos.

Esses números constam da dissertação “Sextorsão e Romance Scam no Estado do Pará”, de autoria da Delegada de Polícia Civil Fernanda Maués de Souza e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública (PPGSP/IFCH) da UFPA, sob orientação dos professores Marcus Alan de Melo Gomes e Edson Marcos Leal Soares Ramos.

“O objetivo do estudo foi entender melhor esses crimes cibernéticos e a pesquisa buscou analisar do perfil das vítimas desses tipos de crime, buscando identificar o modo de agir dos criminosos”, explica Fernanda Maués. Segundo a pesquisadora, as medidas de isolamento social durante o ano de 2020, por causa da pandemia da covid-19, podem ter causado uma subnotificação na quantidade de registros criminais.

Para analisar o perfil das vítimas, o estudo avaliou categorias como faixa etária, estado civil, sexo e profissão das vítimas. Em sua maioria, o perfil das vítimas do Romance Scam é formado por pessoas do sexo feminino (92,5%), com idade entre 40 e 59 anos (57,5%) e solteiras (72,7%). “Esse é o principal perfil procurado pelo criminoso para aplicar o golpe, uma vez que o foco são pessoas que buscam um romance e que tenham renda disponível.

De acordo com a delegada, os golpistas geralmente afirmam estar apaixonados pela vítima desde o início. “À medida em que o relacionamento se desenvolve, os golpistas podem pedir pequenos presentes à vítima, como estratégia de teste. Uma vez atendidos, serão solicitadas quantias maiores”, detalha.

O levantamento constatou ainda que os golpistas tiveram sucesso na obtenção de vantagem financeira em 60% do total de casos analisados de Romance Scam. A maioria das vítimas alegou que tiveram prejuízo de até R$ 10 mil. “É importante destacar que esse tipo crime resulta em um golpe duplo, tendo em vista que há perda de dinheiro e a perda de um relacionamento, sendo que essa segunda pode impactar mais a vítima do que a primeira”.

De acordo com a delegada Fernanda Maués, os golpistas geralmente afirmam estar apaixonados pela vítima desde o início

No que se refere à Sextorsão, o perfil das vítimas também é majoritariamente composto pelo sexo feminino (95,4%) e por solteiras (72,7%). A divergência entre os dois crimes está na faixa etária do perfil, visto que a maioria das vítimas têm entre 20 e 29 anos (50%). A dissertação ainda destaca que 13,6% das vítimas são menores de idade.

Sobre como as autoridades policiais lidam com a situação, a pesquisa mostra que 81,82% dos registros de ocorrência analisados não viraram inquérito policial. “Existe uma dificuldade em trabalhar com os dados dos boletins de ocorrência, em razão de haver uma falta de alimentação dos dados do registro da ocorrência pelo operador, que preenche as informações do sistema de maneira incompleta ou equivoca”, afirma a policial. Fernanda Maués produziu uma cartilha acerca do Romance Scam com orientações contra o crime.

Entretanto a delegada ressalta que o fato de não haver inquérito tombado não significa que não houve apuração do fato. “É possível que a denúncia tenha sido apurada por meio de Verificação Preliminar de Inquérito (VPI), espécie de investigação preliminar antes da instauração do procedimento inquisitorial. Há casos também em que as vítimas não formalizam a representação para que a autoridade policial dê prosseguimento ao procedimento investigativo também. Então nesse caso são diversos os fatores que levam a esse número”, explica.

Fernanda ressalta que o conhecimento e o amparo familiar são fundamentais quando as vítimas sofrem esse tipo de golpe, uma vez que, por vezes, no caso do crime de Romance Scam (ou golpe do amor) as vítimas têm dificuldade de entender que estão em um relacionamento falso.

“Percebemos que muitos desses casos são denunciados apenas quando há pedido da família e, mesmo assim, a pessoa, ainda ludibriada por acreditar no falso romance, não compreende que está sendo vítima de um crime e que aquela pessoa por quem se apaixonou virtualmente de fato não existe”.

 

PARA ENTENDER

Os principais cibercrimes envolvendo relacionamentos amorosos

Golpe de romance

O Romance Scam envolve a criação de relacionamentos online falsos, nos quais o criminoso se faz passar por alguém em busca de um relacionamento romântico ou afetivo. Esses criminosos geralmente criam perfis atraentes em redes sociais, sites de namoro ou outros espaços online onde as pessoas buscam relacionamentos. Eles estabelecem uma conexão emocional com a vítima, muitas vezes investindo tempo para construir confiança. Eventualmente, o criminoso inventa uma história trágica ou uma situação financeira difícil e pede dinheiro emprestado à vítima. Depois de receber o dinheiro, o criminoso desaparece, deixando a vítima emocionalmente e financeiramente prejudicada.

Sextorsão

A Sextorsão envolve a coação de vítimas para compartilharem imagens, vídeos íntimos ou outras informações sensíveis, geralmente por meio de conversas ou trocas online. O criminoso convence a vítima a fornecer material pessoal sensível, muitas vezes explorando a confiança da vítima ou ameaçando divulgar informações comprometedoras publicamente. Depois de obter o material, o criminoso ameaça torná-lo público a menos que a vítima pague dinheiro ou cumpra suas exigências. Isso pode causar danos significativos à reputação e à privacidade da vítima.

 

RECOMENDAÇÕES PARA SE PREVENIR:

  • Aceite amizades nas redes sociais de preferência com pessoas que possuam amigos em comum com você;
  • Regra de ouro: jamais transfira valores sob qualquer pretexto;
  • Nunca forneça informações de caráter pessoal, cópia de documentos e/ou fotos íntimas na internet;
  • Sob hipótese alguma apague o registro de mensagens;
  • Caso caia no golpe, registre um boletim de ocorrência, levando a maior quantidade de informações, como números de telefone, o aparelho por meio do qual as mensagens foram trocadas, além dos comprovantes de movimentações bancárias, caso tenham sido realizadas;
  • Caso tenha realizado transações bancárias, procure seu gerente bancário para informar sobre a situação.

ENDEREÇOS IMPORTANTES:

Diretoria Estadual de Combate à Crimes Cibernéticos

Av. Pedro Miranda, 2288 – Pedreira, Belém – PA;

Delegacia Geral de Polícia Civil

Av. Gov. Magalhães Barata, 209 – Nazaré, Belém – PA.