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Redes sociais podem ser aliadas ou vilãs de candidatos

Redes sociais podem ser aliadas ou vilãs de candidatos

Carol Menezes

Há pelo menos quatro ou cinco eleições gerais e municipais, as redes sociais passaram a desempenhar um papel decisivo na corrida eleitoral, seja para apresentar os candidatos a quem vai às urnas, seja para fisgar definitivamente um voto indeciso – e o contrário também pode ocorrer, se por trás não houver um planejamento direcionado e alinhado aos objetivos de quem concorre a um cargo eletivo.

Por conta disso, profissionais dedicados a traçar essa estratégia com base em pesquisas – e muitos dados – se tornaram indispensáveis nas composições de uma equipe de campanha política. Sai de cena cada vez mais o “monitoramento de redes sociais” para dar lugar a uma atuação que possui método, metas e que, se bem-sucedida, segue rendendo positivamente para além do período eleitoral.

A publicitária Carol Barata tem atuação de anos em campanhas majoritárias, já tendo integrado equipes de trabalho vitoriosas em Belém e também em municípios do interior do estado. Ela explica que cada estratégia é específica e desenvolvida a partir das necessidades da trajetória de cada candidato.

“Acredito que cada perfil tem seu desafio diferente. Um perfil novo necessita da criação de comunidade, análise do comportamento do público após o início da campanha, é o momento que as métricas (sendo on-line ou off-line) começam a ser estabelecidas. Já um perfil pré-estabelecido, muitas vezes apresenta alguma ‘chave’ que precisa ser virada. Em ambos você tem o desafio de começar algo novo”, analisa.

Também publicitário da área da comunicação política e governamental, André Godinho conta que, pelas experiências acumuladas nas campanhas em que liderou times de estratégia digital, já estabeleceu um método de atuação, o que não significa que um trabalho seja igual ao outro.

“Conta a realidade individual de cada um, o contexto político, o tamanho do município, e aí falando sempre em campanhas majoritárias, que é onde eu sempre procuro atuar mais, o contexto se estabelece de uma forma completamente diferente, assim como a estratégia que será aplicada”, detalha ele, revelando que detalhes aparentemente simples, como o fato de em determinada cidade a população ter acesso a pacotes de internet de poucos dados, por exemplo, contam na hora de definir o tipo de material que será feito e difundido entre os eleitores.

Para Carol, o resultado final é o que responde o que deu certo e o que deu errado na estratégia seguida. “Nos eleitos, se bem analisados, você enxerga um ponto de diferenciação do trabalho de marketing, de branding. O posicionamento, quando é possível a análise do resultado final, costuma nos dar essa visão de ações e características que terminaram por determinar um resultado”, afirma.

“O resultado dessa opção, geralmente, vai além do período eleitoral. Esse é o grande diferencial, na minha percepção, dos perfis políticos que se destacam tanto em posicionamento digital quanto iniciativas e atividades políticas de uma forma geral”, continua a publicitária, defendendo que o posicionamento digital permite a construção de uma imagem sólida que, em muitos casos, dependendo de como o candidato administra suas atividades, vai além das urnas.

André Godinho, por sua vez, garante que, independente de ser um rosto novo ou não, com rejeição ou não, quem decide concorrer em uma eleição tem o desafio de ter de ser uma pessoa, falando de redes sociais, atrativa.

“É preciso um esforço, inclusive financeiro, para produzir mais e com mais frequência, e produzir materiais relevantes. Cabe a nós, que trabalhamos com isso, pelo uso de ferramentas de escuta social, conseguir sentimentalizar e compreender onde estão os pontos de maior rejeição daquela pessoa para tentar começar a criar pilulas, vacinas para cada problemática. Tudo isso exige uma grande disposição”, garante o publicitário.

FOTO: WAGNER SANTANA

Inteligência Artificial ajuda, mas também preocupa

Carol e André concordam que uma rede social “bombada” é principalmente o reflexo de uma realidade, de uma estratégia política bem arregimentada. Se o candidato ou a candidata estiver sem rumo, atirando para todos os lados sem saber direito onde formar sua base ou em qual grupo focar, suas redes provavelmente refletirão algo nesse sentido.

“Um grupo de mobilizadores também é um pilar que pode ser tão ou mais importantes e relevantes que as plataformas digitais. Nós somos a verdadeira rede social, as plataformas são um reflexo do nosso comportamento. Por isso em alguns lugares a rede social de importância primária é o WhatsApp, por exemplo. Em determinados grupos, como já vimos anteriormente, é o telegram”, justifica a profissional.

Godinho lembra o enorme case de sucesso que é a estratégia política criada para eleger o atual prefeito de Recife, João Campos (PSB), filho de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco que morreu em acidente de avião em 2014, ano em que seria candidato à presidência da República.

“Desde a candidatura dele a deputado federal em 2018 a gente vê que foi tudo extremamente bem planejado e bem construído, atrelando ao histórico político e o legado que o pai havia deixado. E para mim é muito claro hoje o objetivo de fazê-lo governador, é uma questão de tempo, está muito bem planejado e definido. O plano é nítido em todo o processo, não só da comunicação”, analisa.

Ambos também admitem ver a Inteligência Artificial como um agilizador de processos, embora reconheçam que o uso irresponsável de ferramentas ligadas à IA representa uma constante fonte de preocupação.

“Tudo depende de como a tecnologia é aplicada. Se observarmos, tem sido assim há muitos anos. A inteligência só se torna efetiva e qualificada pelo trabalho de quem saiba utilizá-la. Um exemplo disso é a câmera digital. Você tem em um equipamento um milhão de possibilidades de automação, mas é preciso uma identidade, um estilo para fazer a combinação se tornar uma imagem genuína, uma visão. Em termos de criação de estratégias e posicionamentos/imagens também, eu acredito ser assim”, compara a publicitária.

André diz ser assinante de várias ferramentas de IA, e explica que embora ofereçam uma grande agilidade em determinados processos, nem de longe são a última palavra, seja no processo criativo, seja no operacional do dia a dia.

“Ajuda demais, imagina que hoje a gente grava aquele ‘vídeo diamante’ com o candidato, que tem duas, três horas de duração, e com uma ferramenta de IA eu já consigo transcrever rapidamente toda aquela fala. Aí eu isso esse material no chat GPT para que sejam criadas perguntas de todos os tipos, inclusive aquelas que em algum momento nos foge ou que a gente esquece. Fora outros usos especialmente para compilação de dados, é um caminho sem volta e não sou eu que afirmo isso. Mas é preciso que o uso seja responsável, a gente já vê grandes plataformas criando checagens mais apuradas, os tribunais superiores se posicionando nesse sentido. É como um carro, que serve para ir e vir, mas que se for usado de forma inconsequente, como em ‘rachas’, por exemplo, podem gerar os piores resultados”, finaliza.