Luiz Flávio
Produzir um jornal impresso diário na década de 1980 do século passado era uma tarefa que exigia uma série de desafios, uma vez que a tecnologia da informação estava longe do estágio atual. Sem internet (que só começou a prosperar no Brasil no início dos anos de 1990), sem celulares ou redes sociais. Antes da era digital, todo o processo de redação era realizado manualmente, com jornalistas escrevendo suas matérias em papel ou máquinas de escrever. Essas matérias precisavam ser revisadas, editadas e diagramadas à mão antes de serem enviadas para a gráfica.
Um dos profissionais mais importantes na Redação era o operador de telex. Era ele que recebia as informações que eram repassadas para os editores transformarem em notícia. As fotografias de agências nacionais e internacionais chegavam às redações através do “telefoto”, aparelho que enviava as imagens através de uma linha telefônica, como um aparelho de fax.
Naquele tempo para receber uma imagem enviada pelas agências era necessário utilizar uma bobina e levar até a máquina para receber a imagem e levá-la para a revelação. As cenas do dia a dia eram capturadas por câmeras fotográficas analógicas com rolo de filme. As redações mais modernas possuíam um laboratório de revelação na sede do jornal. As que não tinham, precisavam revelar os filmes de um dia inteiro de trabalho numa loja de fotografias.
O paginador Júlio José Andrade Coelho, ou simplesmente “Júlio Brasília”, 62 anos, é um dos pioneiros da edição impressa no Estado, conhecedor de todos os processos que levam à construção de uma edição de jornal desde o início da década de 1980.
Ele trabalhava como desenhista em 1982 quando ouviu um anúncio no rádio convocando pessoas para trabalhar em um jornal, na rua dos Mundurucus com a Tupinambás. “Vi uma fila enorme de pessoas com currículo na mão. As vagas para redação já estavam preenchidas, então eu falei que queria trabalhar em qualquer coisa, já que estava desempregado na época e me colocaram na oficina do jornal, na gráfica”, lembra.
Mais tarde Júlio foi deslocado para o jornal, no mesmo prédio. “O jornal naquele tempo ele era rodado numa rotativa antiga, com chapas nylon print. Foi quando me colocaram na fotomecânica para retocar fotolitos. Com o tempo passamos para o chumbo. Trabalhava na tituleira fazendo os títulos do jornal no chumbo e na paginação. As matérias eram digitadas pelos lynotipistas e as fotos eram em clichê”, lembra.
Quando Jader ganhou a eleição para governador a redação saiu da rua dos Mundurucus e foi transferida para outro prédio, na rua Gaspar Viana. “Lá eu trabalhava na paginação de cola. Recebia o diagrama da redação das mãos dos diagramadores, riscava o que eles traçavam no papel para o meu outro diagrama e montava as matérias, que eram digitadas nas máquinas IBM. Quando terminava, vazava as fotos com o estilete no diagrama e mandava para a fotomecânica fotografar a página. Em seguida as chapas eram queimadas no fotolito para imprimir o jornal”.
Júlio Brasília lembra da correria para fechar o jornal na edição experimental. Era um grande teste, para ver os erros e acertos da equipe para que a primeira edição fosse colocada na rua sem falhas. “Lembro que tinha uma janela na paginação, e quando dei por mim, o dia já estava clareando e as máquinas estavam rodando a primeira edição do DIÁRIO DO PARÁ”.
TECNOLOGIAS
Ao longo das últimas quatro décadas o DIÁRIO foi se adaptando às novas tecnologias jornalísticas que vieram junto com o anseio do público leitor por um produto, ágil, de fácil compreensão e com credibilidade. E o surgimento das plataformas digitais acelerou muito esse processo, já que transformaram completamente as formas de comunicação no planeta.
Saíram de cena os aparelhos de telex, bobinas, máquinas de datilografar, réguas, canetas, papéis, câmeras e telefones analógicos e surge a internet com toda a sua gama de possibilidades, incluindo as transmissões online e em tempo real, computadores ultramodernos, programas de diagramação eletrônica e principalmente os smartphones conectados à rede mundial de computadores e, com eles, os aplicativos de mensagens que revolucionaram a forma de comunicar e fazer jornalismo pelo mundo afora.
O Diretor de Redação do jornal, Clayton Matos, chegou ao DIÁRIO no ano 2000 quando essa revolução tecnológica já estava em pleno vapor e quando o jornal já estava liderando o mercado de impressos no Estado, movimento iniciado no final da década de 1990. Ele começou como estagiário da editoria de Esportes, passando em seguida para repórter, editor do caderno Bola e finalmente foi promovido Chefe de Redação do jornal, em 2018.
Clayton sabe da importância da popularização das plataformas digitais e a forma como influenciam o jornalismo diário. “Sem essas plataformas não teríamos como fazer o jornalismo moderno e ágil que fazemos hoje, não apenas no jornal mas em todos os veículos do grupo RBA. Isso obrigou a integração dos veículos. Hoje as rádios, a RBATV, o Portal Diário Online e o DIÁRIO DO PARÁ funcionam de maneira compartilhada para levar sempre a melhor informação ao nosso público, independente da plataforma. A internet está definitivamente inserida na nossa rotina”, coloca.
Ferramentas como QR Code, edições online e podcasts trouxeram uma riqueza ainda maior ao noticiário, possibilitando um conteúdo cada vez mais diferenciado ao leitor, ouvinte ou telespectador. “Mas sem o olhar atento profissional de jornalismo e seu feeling de nada adiantaria toda essa riqueza tecnológica, que nos possibiliza inúmeros enfoques e abordagens para pautas que seriam “batidas”. O jornal sempre procurou entender o que o público leitor busca e sempre esteve lado a lado com ele nesse anseio e acho que essa é a razão do nosso sucesso. E continuamos atentos a isso como nunca”, avalia.