Luiz Flávio
O Estado do Pará e capital, Belém, estão prontos e se preparando para, daqui a 28 meses, receber a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30. Belém entrará para história como o palco onde os países resolveram dar um passo à frente para aumentar a luta contra a mudança do clima, promovendo um estilo de vida mais sustentável, promovendo a educação, ciência e tecnologia, além de abertura de mercados e economia de escala. A COP é o parlamento no qual as decisões sobre mudanças no clima são tomadas.
A vice-governadora Hana Ghassan preside o Comitê estadual da COP 30 que coordena uma gama de 36 projetos nas mais variadas áreas, que estão tendo um acompanhamento de desenvolvimento e execução a partir de consultorias contratadas para que o megaevento global deixe um legado concreto não apenas para a capital, mas para o Estado do Pará como um todo.
Para tanto o Comitê Estadual está estudando detalhadamente conferências anteriores para evitar atropelos que possam atrapalhar o evento em Belém. “Não queremos repetir os erros das outras conferências. A COP não é da União, do Governo do Pará ou da Prefeitura de Belém, mas de todos”, destacou a vice-governadora que a seguir, em entrevista ao DIÁRIO, faz um raio-x de todas as ações e projetos que estão sendo desenvolvidos pelo Estado para a conferência:
P Como o Governo do Pará vem se preparando para sediar a COP-30?
R Sediar a COP-30 é um grande desafio, mas para os paraenses, acima de tudo, é uma grande oportunidade de fazer uma virada e aproveitar todos os benefícios e legados que esse megaevento trará para o Estado do Pará. Taremos lideranças mundiais que debaterão aqui, dentro da Amazônia, pautas importantes como mudanças climáticas e políticas globais de meio ambiente e sustentabilidade.
Isso tudo será feito a partir da nossa realidade. Será um importante momento para quem nasceu e vive aqui. Antes mesmo do anúncio da COP-30 no Pará, o governador Helder Barbalho já era protagonista nacional e internacional na área ambiental e tudo que já vínhamos construindo aqui no Estado antes desse anúncio fez com que ganhássemos tempo na preparação para a conferência. Daqui até a realização do evento ainda temos 28 meses pela frente de muito trabalho.
P Que iniciativas o governo já fez concretamente para a realização do evento?
R Estamos trabalhando para buscar experiências de COP’s anteriores. Nesse curto espaço de tempo desde o anúncio que o evento seria aqui, contratamos a Fundação Getúlio Vargas para uma consultoria, que tem expertise em grandes eventos como a Copa do Mundo, Olimpíadas e Jornada Mundial da Juventude. Além da FGV, contratamos uma outra consultoria chamada Century, uma das maiores do mundo, que ainda ficará trabalhando aqui por mais 6 meses após a COP-30 para levantar quais os impactos que a conferência trouxe e trará para nosso Estado, na área de geração de emprego e renda, qualificação, entre outras. A Century montará um escritório de projetos estruturado para que possamos monitorar os projetos um a um, seu andamento e avanços e a mensuração dos resultados.
Estamos pegando ainda benchmarking de COP’s anteriores e de grandes eventos para que possamos entender todas as etapas que teremos que cumprir para fazer um grande evento. Também criamos um Comitê Estadual para organização e planejamento da conferência, do qual eu sou coordenadora, envolvendo 13 órgãos que farão um diagnóstico detalhado dos principais pontos de atenção para criar um plano de ação detalhado em cima dos vários eixos nos quais teremos que agir nesses próximos 28 meses. Existe ainda um Comitê federal com a participação de 5 ministérios e representantes dos governos estadual e municipal.
P Quais as principais obras que o executivo estadual fará para abrigar o evento?
R Sem dúvida, serão o Parque da Cidade e o Porto Futuro II, espaços que serão ativamente utilizados durante o evento. Serão obras extremamente importantes para a capital não apenas do ponto de vista da beleza arquitetônica, mas da estrutura da nossa capital. Para se ter uma ideia da magnitude dos projetos, a Estação da Docas hoje foi construída em apenas 3 galpões.
Já o Porto do Futuro fará intervenções em 7 galpões, mais que o dobro… Já o Parque da Cidade, será o grande centro da realização dos grandes eventos da COP. Essas duas obras custarão cerca de R$ 680 milhões com recursos exclusivamente do Estado e já estavam no planejamento desde o primeiro mandato do governado, mas foram emperradas pela não cessão dos espaços por parte da União no governo anterior.
P Quais os eixos que estão sendo trabalhados pelo Estado para que o evento transcorra a contento, sem atropelos?
R Estamos fazendo o levantamento de diagnósticos para que, a partir daí, possamos trabalhar nos principais eixos que iremos centrar, como meio de hospedagem, que vai requerer um tempo maior para solução. Estamos trabalhando com várias alternativas para viabilizar a hotelaria dos participantes da conferência. Outro ponto é o aumento do calado do porto de Belém que terá que ser aumentado para abrigar os grandes navios que aportarão aqui; a requalificação e mão-de-obra dos que vão atender aos visitantes e a revitalização dos espaços turísticos e culturais da capital.
Tudo isso será amarrado por um grande e arrojado Plano de Comunicação. Não estamos centrados apenas nos 15 dias de realização da COP-30, mas no pré e, principalmente, no pós-evento, com o legado que ficará para a nossa capital e para o Pará. Não queremos repetir os erros das outras conferências. Estamos estudando esses entraves para aprender com eles.
P Como está sendo desenhado e desenvolvida a parceria articulada entre Governo federal, estadual e municipal para que o evento ocorra sem esses erros?
R Esses 3 entes são integrantes de toda a construção desse grande evento e sem parceria não haveria como construir a conferência. Sem a união de esforços não teria como… E aliado a isso teremos que contar também com a parceria importantíssima da iniciativa privada e com as entidades da sociedade civil.
Todos precisam ser protagonistas. A COP não é da União, do Governo do Pará ou da Prefeitura de Belém, mas de todos. E para isso precisamos fundamentalmente de recursos que precisa ser compartilhado para que seja dado andamento a todos os projetos que já foram elaborados na área de infraestrutura.
P Como o governo pretende atuar junto aos órgãos de fomento públicos e privados para estimular a liberação de recursos para que possam viabilizar seus projetos, como, por exemplo, na área da hotelaria e transporte urbano?
R A hotelaria merecerá toda a nossa atenção e já estamos dialogando intensamente com o setor para encontrar soluções que atendam as demandas do segmento. E o retrofit, técnica de revitalização de construções antigas para transformá-las e adaptá-las às necessidades atuais, será fundamental nesse processo. Estamos buscando uma linha de financiamento junto ao BNDES especificamente para melhorar e ampliar a rede hoteleira. Demos entrada em várias cartas-consulta em órgãos como o BNDES para que financie diretamente a iniciativa privada para elevar o patamar dos serviços oferecidos na capital; e o governador está fazendo uma peregrinação em vários órgãos federais e ministérios para encontrarmos recursos para viabilizar os projetos.
Já temos projetos para os 13 principais corredores viários que vão levar o público para os eventos da COP no Hangar e Parque da Cidade, onde será montada toda a estrutura da conferência, feita pela ONU. Esses projetos são linkados ao conceito de Cidades Inteligentes e esses corredores terão modernizadas as ciclovias, energia elétrica, conexão à Internet.
Esses 13 projetos estão no bojo de 36 projetos nas mais variadas áreas, como economia verde, infraestrutura urbana e hidroviária, meio ambiente, mobilidade, turismo e saneamento. Estamos também pleiteando financiamento para viabilizar os ônibus elétricos na capital, além da requalificação das avenidas Doca de Souza Franco e Tamandaré. Ainda não temos como calcular agora quanto efetivamente será investido aqui nos próximos 28 meses e nem empregos serão gerados, pois, como já disse, apresentamos 36 projetos e à medida que eles forem sendo aprovados teremos como calcular essa demanda de empregos diretos e indiretos. Serão quase 3 anos de obras… Estamos trabalhando em conjunto para queimar etapas.
P A COP-30 certamente estará no plano de governo dos candidatos à prefeitura de Belém em 2024, um ano antes do evento. Como lidar com o uso político do evento?
R A COP não é de um político, não é de um partido. Já ficou bem claro que é um evento global, do mundo… E o governador Helder Barbalho tem sabido separa muito bem isso desde a sua primeira gestão. Realizamos um trabalho conjunto para os 144 municípios paraenses, independente de ideologias partidárias, já que lutamos por conquistas para o Estado como um todo….
Vamos seguir trabalhando para o bem do nosso Estado e da nossa capital, fazendo de tudo para que Belém entre de vez no cenário mundial da bioeconomia e da biodiversidade, atraindo recursos, investimentos e renda para a nossa população como um todo. Vamos unir esforços para que tudo dê certo.