NOVELA DA VIDA

Raquéis da vida real: histórias de mulheres empreendedoras

Raquel Accioli encontra na venda de lanches uma maneira de garantir o seu sustento, na novela ‘Vale Tudo’.

Belém,Pará, Brasil, Caderno cidade-  Suelen Karina é mais uma uma mulher com visão, fé e determinação  conseguiu superar as dificuldades e hj tem seu peóprio negócio.
Local rua  2 de Junho , bairro da Terra Firme.
25/03/2025
Foto Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Belém,Pará, Brasil, Caderno cidade- Suelen Karina é mais uma uma mulher com visão, fé e determinação conseguiu superar as dificuldades e hj tem seu peóprio negócio. Local rua 2 de Junho , bairro da Terra Firme. 25/03/2025 Foto Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Depois de ter sua casa vendida pela própria filha, Raquel Accioli encontra na venda de lanches uma maneira de garantir o seu sustento e superar os enormes desafios que encontrou pela frente. O enredo está no centro da trama da novela ‘Vale Tudo’, sucesso dos anos 1980 que retorna à televisão com uma regravação que começa a ser exibida na segunda-feira (31).

Apesar de ficção, a história da protagonista que encontra na gastronomia uma maneira de empreender não é diferente da de muitas paraenses da vida real. São mulheres que conseguiram vencer através do trabalho com a culinária.

Suellen Karina. FOTO: Celso Rodrigues – Diário do Pará

A inspiração que faz a empreendedora e gastrônoma Suellen Karina, 38 anos, preencher a vitrine de sua doceria vem de sua mãe. Muito antes de pensar em criar a La’Doceriana, Suellen conta que já aprendia a preparar os mais variados doces dentro de casa. “Tudo começou desde a minha infância mesmo. Eu trago essas raízes da minha mãe. Eu fui criada, junto com mais dois irmãos, fazendo essas coisas”, recorda.

“Então, hoje a gastronomia que eu apresento para os meus clientes é a dos doces afetivos. É algo que remete à minha infância e era algo que eu fazia junto com a minha mãe para a gente ter a nossa renda. A minha mãe é a minha grande inspiração”.

Suellen conta que a mãe sempre foi dona de casa e não abria mão de preparar, ela própria, os bolos e doces das festas de aniversário dos filhos. À medida que Suellen foi ficando mais velha, foi crescendo nela o gosto pela confeitaria e, depois de alguns anos, ela decidiu tomar esse talento e a inspiração vinda da mãe para gerar renda.

“Eu comecei a trabalhar com os doces porque a minha mãe já não estava mais dando conta e, dentro da nossa casa, a única renda era a minha. Mas, mesmo eu sendo CLT, a renda não dava porque nós éramos várias pessoas em casa. Então, eu consegui contornar fazendo a junção do trabalho como CLT e o empreendedorismo. Eu fazia o doce, levava para o trabalho, já oferecia lá e assim com isso eu fui tomando gosto”.

A decisão de estudar gastronomia e sair do emprego com carteira assinada para se dedicar ao seu negócio veio depois que Suellen passou por um momento difícil de perdas familiares. E foi na gastronomia o caminho encontrado para superar o momento de maior tristeza.

“Quando eu perdi a minha mãe foi um choque muito grande, eu fiquei querendo desistir de tudo. Depois de dois anos, eu também perdi o meu pai. E depois que eu perdi ele, eu pensei em fazer algo por mim. Foi quando eu fui estudar e me formei, recentemente, em gastronomia”, conta. “Eu decidi fazer o que eu gosto, o que está dentro de mim, o que me move. E também foi um dos meios que eu encontrei para sair da depressão que eu estava pela perda da minha mãe e, logo em seguida, pela perda do meu pai”.

Através dos doces afetivos que produz, a gastrônoma não apenas garante a sua fonte de renda, mas também encontra uma maneira de sentir a presença da mãe com ela. Vendo o negócio prosperar e sabendo a importância que a gastronomia tem na sua vida, Suellen já tem planos futuros de levar esse conhecimento também para outras mulheres.

“O meu projeto é trabalhar e apresentar a gastronomia, seja de comida quente ou pela confeitaria, para aquelas pessoas que estão em vulnerabilidade social, para aquelas mães solo que criam seus filhos e que acham que não conseguem mais, mas conseguem sim. Eu pretendo montar em um espaço culinário para dar um curso de baixo custo”, planeja. “Acredito que a confeitaria em si, ou a gastronomia no geral, salva vidas. Às vezes a gente pensa que está tudo acabado, mas não. Quando a gente se descobre, que foi o que aconteceu comigo, a gente começa a voar”.

MÃE

O voo de Maria Helena Galdino, empreendedora e idealizadora do Sabor da Nega, também teve uma participação fundamental de sua mãe. Também foi a partir do conhecimento repassado pela mãe, que ela encontrou um meio de garantir a renda familiar depois de sair do trabalho em um ramo completamente diferente.

“Eu trabalhava no setor do comércio, em shopping, em lojas de sapatos. Mas, a situação apertou aqui em casa, desde que a minha mãe adoeceu e eu saí da última loja em que eu trabalhei”, lembra. “Foi uma dificuldade tremenda porque somos apenas eu e a minha mãe, eu não tenho irmãos. E eu comecei a fazer alguns pratos em casa. Eram coisas que a minha mãe sempre gostou de cozinhar”.

No início, Maria Helena conta que os pratos que ela preparava eram apreciados por amigos. As delícias eram preparadas e servidas na casa da empreendedora, no seu quintal. Com o tempo, começou a incrementar os pratos, a oferecer também a bebida, e o sabor foi levando os amigos a chamarem outros amigos. “Acabou surgindo o ‘Quintal da Nega’, mas alguns vizinhos começaram a se incomodar e eu encerrei e comecei a vender mingau de milho na porta da vila onde eu moro. Depois eu passei a fazer café da manhã”.

Vencendo as dificuldades que apareciam ao longo do percurso, inclusive a necessidade de mudar o tipo de comida oferecida, Maria Helena seguiu firme no ramo da gastronomia. E assim que teve oportunidade, retornou aos preparos de pratos típicos da culinária paraense.

“Chegou uma época em que uma tia minha encontrou um quiosque na avenida 25 de Setembro e foi quando eu comecei o ‘Sabor da Nega’, o nome que ficou até hoje. As pessoas falavam ‘o sabor da nega é ótimo’ e ficou esse nome”, lembra. “É muito bom ouvir quando a pessoa gosta do nosso caranguejo, da nossa maniçoba porque a gente acorda de madrugada para fazer tudo com todo esse carinho”.

Chef Zezé. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Maria Helena conta com sua mãe no preparo dos pratos e as delícias preparadas pelas duas marcam presença em eventos. Entre os pratos mais pedidos, Maria Helena destaca a casquinha de caranguejo, a maniçoba, a lasanha paraense e o Pirarucu da Dalva, batizado em homenagem à mãe.

“Foi com ela que eu aprendi a gostar de cozinhar. Ela me puxava, me chamava para aprender. E é um ensinamento que fica para a vida porque hoje é o meu trabalho, é a minha fonte de renda, e é uma coisa que eu amo. Um dia eu estou em uma feira, outro em um festival, um evento e eu gosto de lidar com as pessoas, de mostrar o nosso trabalho que nós fazemos com toda dedicação e amor”.