Luiza Mello
A produção artesanal do Queijo do Marajó, com 100% de leite de búfala, coalhado naturalmente e sem adição de conservantes é considerado único no mundo. Tanto é que foi escolhido entre os queijos que representaram o Brasil na cesta dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente francês Emmanuel Macron, que visitou o Brasil no final de março.
Lula presenteou Macron com oito tipos de queijos, todos premiados internacionalmente. A escolha pelo Marajó não é mera coincidência: com sabor único e carregando uma tradição de mais de 200 anos, o queijo marajoara tem conquistado os brasileiros, não apenas pelo sabor, mas por sua procedência e benefícios à saúde.
Com tradição iniciada por fazendeiros portugueses e franceses, que se estabeleceram na região, os queijos produzidos naquela época usavam o leite de vaca. Com o aumento do rebanho de búfalos na Ilha do Marajó, o produto passou a ser exclusivamente de leite de búfala.
O Queijo do Marajó foi reconhecido como patrimônio de valor coletivo pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que atribuiu aos produtos originários da região, o registro de Indicação de Procedência, uma das formas de Indicação Geográfica do Brasil.
A Associação de Produtores de Leite e Queijo do Marajó solicitou, em 2018, a Indicação de Procedência. Um sonho se materializando, resumiu a produtora Gabriela Gouveia, que relembra a introdução do leite de búfala na produção. “O reconhecimento como primeiro produto com serviço de inspeção sanitária em 2013 e a conquista do Selo Arte em 2020 para venda em todo país mostraram que o queijo do Marajó existe, que é bom e tem valor “, ressaltou Gouveia.
FAZENDA SÃO VICTOR
Entre os tipos de queijos brasileiros escolhidos pelo Itamaraty para compor a cesta com iguarias nacionais, entregue por Lula ao presidente Macron, está o Queijo Marajó, da Fazenda São Victor. Produzido desde 2006 pelo casal Cecilia e Marcus Pinheiro, proprietários da fazenda que fica no município de Salvaterra, é um dos mais premiados do Brasil.
Nos 18 anos de produção, o queijo da Fazenda São Victor foi premiado no Brasil e na França, terra de Emmanuel Macron, onde recebeu, no ano passado, o Prêmio Prata e Bronze do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, na França.
O reconhecimento pela qualidade começou com o Prêmio Ouro do Encontro Nacional de Criadores de Búfalo e Marajó Búfalos em 2017; Prêmio Queijo Brasil, sendo Bronze em 2017, Super Ouro em 2018 (com 500 queijos artesanais brasileiras participantes, ficando com o 1º lugar isolado) e Ouro em 2019 e 2023.
Além disso, o Queijo do Marajó da Fazenda São Victor obteve em 2020 o Selo Arte, certificado que assegura que o produto foi elaborado de forma artesanal, com receita e processo com características tradicionais, regionais ou culturais.
O Selo Arte permite que a Fazenda São Victor venda o produto para outros estados. “Fomos pioneiros na região Norte em obter esse selo de inspeção”, comemora a família Pinheiro. “Estamos muito gratos, aprendemos muito com o queijo, e trabalhamos pela valorização do queijo artesanal do Brasil”, completa Marcus.
“O Queijo do Marajó da Fazenda São Victor é produzido de forma simples, porque entendemos que a produção de queijo de maneira artesanal é o que temos de mais valioso, uma vez que está intrinsecamente ligada aos nossos costumes e gastronomia da região”, relata Cecília.
A história da Fazenda São Victor só foi começar no ano 2000, depois que Marcus retornou de um período estudando agribusiness nos Estados Unidos e, assim, se sentiu preparado para começar a sua própria criação de búfalas leiteiras. Seis anos depois, em 2006, já ao lado de Cecília, o casal começou a produzir o queijo do Marajó.
“No início tivemos várias dificuldades, até mesmo porque não tínhamos legislação para a produção do queijo do Marajó. Até hoje temos encontrado adversidades. Mas acreditamos que estamos tendo grandes progressos com o queijo artesanal no Marajó”, citam Cecília e Marcus.
SAUDÁVEL
Além do sabor, o queijo produzido a partir do leite de búfala é considerado um poderoso aliado para a promoção da saúde. É mais rico em cálcio e magnésio do que o leite da vaca e com baixa quantidade de cloro, potássio e sódio, o que é considerado positivo para uma alimentação saudável.
O arquipélago do Marajó concentra todo o leite das fazendas de criadores de búfalos nos campos da região. Os municípios de Chaves, Soure e Cachoeira do Arari se destacam na produção deste insumo, e dados da Adepará concluíram que por mês são produzidos algo em torno de 4,170 toneladas, informa a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará). O arquipélago do Marajó ostenta o maior rebanho bubalino do Brasil, cerca de 72%.