Pule Carnaval no bloco da Segurança. Veja orientações!

Luiz Octávio Lucas

Comemorar o Carnaval após dois anos de fase mais aguda da pandemia é motivo de alegria para os foliões nos quatro cantos do Brasil. No Pará, não é diferente. Com tantos bloquinhos de rua, casas de shows e o desfile das escolas de samba neste fim de semana, na Aldeia Cabana, em Belém, é quase impossível não se deixar contagiar pelo reinado de Momo.

Mas, nem tudo é festa, quando não se toma os cuidados necessários para evitar problemas como furtos, roubos e assédio sexual. É aí que mora o perigo!

O relato a seguir aconteceu com uma servidora pública, em um bloco com atração nacional, no último sábado, em um espaço no bairro do Guamá, na capital paraense. Na companhia de três amigos, a foliã saiu da festa e foi para as proximidades da UFPA chamar um Uber, quando foi surpreendida por um bando de assaltantes.

“Três deles vieram para cima de mim e puxaram a minha bolsa. Um me puxou e o outro me empurrou. Caí, bati a cabeça numa pedra. Eles levaram meu celular, na parte traseira estava minha carteira de habilitação”, conta.

O prejuízo emocional, financeiro e físico ainda não foi superado. “Meu celular era um iPhone, tinha um ano e custou R$ 5 mil. Me socorreram e cheguei em casa, estava toda machucada, estou com hematomas até hoje. Precisei bloquear tudo que estava no aparelho e ainda passei uma noite em observação no hospital”, conta ela, que ainda precisou se afastar do trabalho por conta do ocorrido.

“Fiz uma ocorrência e o aparelho está sendo rastreado. Consegui recuperar só a CNH”, explica, para justificar o motivo de não querer se identificar nesta reportagem.

O triste relato da servidora pública é bastante comum nessa época do ano e chama atenção para a necessidade de se tomar todas as precauções que ajudam a evitar esse tipo de situação, alerta o especialista em segurança pública Thiago Ximenes, mestre em Direito Penal, criminalista e também especialista em cibercrime e cibersegurança.

“As ocorrências mais comuns são os furtos, aquelas pessoas que vão para o bloco com celular e os oportunistas furtam. As mulheres também precisam ter cuidado com drogas nas bebidas e algo pior, o estupro de vulneráveis posteriormente. Também tem o perigo das lesões corporais, já que está todo mundo ingerindo bebida alcoólica e, em uma confusão, isso pode desaguar em homicídio, inclusive com crimes de trânsito”, cita.

“As pessoas que bebem e dirigem, o que já é um crime, podem ocasionar lesão corporal de natureza leve até gravíssima e morte. Na Justiça, se pode entender que houve dolo eventual, quando se assume o risco de matar, a depender da situação, e o condutor foi indiferente”, exemplifica Ximenes. “Quando você ultrapassa o sinal e em velocidade superior ao permitido, você assumiu o risco de matar e foi indiferente”, continua. “São os crimes que mais acontecem”.

A seguir, Thiago Ximenes relata como se comportar para evitar surpresas desagradáveis que podem acabar em ocorrência policial e problemas na Justiça:

COMO IR PRA FOLIA COM SEGURANÇA

SMARTPHONE

“Em regra, quem for levar celular para dentro do bloco, coloque o aparelho numa sacolinha, no plástico, colado ao corpo, na parte da frente. Jamais coloque no bolso, porque no tumulto os criminosos ‘batem’ mesmo. É regra deixar sempre na parte da frente, com a camisa cobrindo, como se fosse o porte de uma arma”, ensina.

“Seja prudente, cuidado com selfies. No tumulto é rápido e você não consegue ver quem pegou. Ainda mais se for ingerir bebida alcoólica, que perde o reflexo. O ideal era que no grupo, só um leve o celular para chamar o Uber, para qualquer emergência, mas a gente sabe que a tecnologia virou fundamental e ninguém quer deixar em casa”.

BOLSAS

“Nem pense em levar bolsas a tiracolo para carnaval. Aquelas ‘doleiras’ – pequenas bolsas com elástico, estilo pochete – seriam o ideal”, sugere.

PROTEÇÃO DO CELULAR

“A gente aconselha que não tenham senhas gravadas no aparelho, nem e-mail. Isso facilita o acesso aos dados das pessoas, surge uma série de complicações. Evite ter fotos íntimas vazadas e ser vítima do que a gente chama de ‘sex extortion’, quando pedem dinheiro para não vazar fotos. Não armazene essas imagens, nem tenha senhas pré-gravadas. Outro erro é ter blocos de notas com todas as senhas. Não grave nenhuma”.

BEBIDAS

“Tenha cuidado com drogas nas bebidas, que colocam para roubo e estupro de vulnerável. As meninas devem ter cuidado para não serem levadas para lugares sem estar sabendo e serem violentadas. Se deixar o copo de bebida, quando voltar, renove o líquido. Nunca deixe o copo sozinho. Se for beber na sua latinha, se for ao banheiro, leve junto. Lembre que alguém pode colocar coisas na sua bebida e isso é muito cruel”.

NA PAZ

“Evite ao máximo discussões e conflitos, isso pode gerar lesão corporal e progredir para um homicídio. Lembre que sempre tem pessoas com porte de armas escondidos, isso pode resultar em traumas maiores”, avisa Thiago Ximenes.

“Importante lembrar também que injúria racial passou a ser crime inafiançável e imprescritível. Chamar alguém de ‘macaco’ não tem mais fiança. Cuidado com as brincadeiras e xingamentos gratuitos. Proferir xingamento relacionado à cor, raça e etnia faz a pessoa ser presa, não tem fiança. O STF (Supremo Tribunal Federal) também decidiu que práticas homofóbicas são tratadas como racismo, então cuidado com isso”.