PROJETO

Projeto prevê uso da maconha como biocombustível

Estudo feito em parcerias entre universidades e a Polícia Federal prevê o uso da cannabis como biogás.

A transformação da biodiversidade em produtos úteis, enquanto se combate ao crime, é um grande passo para uma abordagem mais abrangente na gestão de drogas.
A transformação da biodiversidade em produtos úteis, enquanto se combate ao crime, é um grande passo para uma abordagem mais abrangente na gestão de drogas.

Transformar a maconha apreendida em biocombustíveis e outros produtos de valor agregado é uma abordagem inovadora que não apenas ajuda a reduzir o impacto ambiental, mas também pode otimizar os recursos da Polícia Federal.

Essa possibilidade vem sendo desenvolvida há dois anos num estudo das universidades Federal do Pará (UFPA) e de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Polícia Federal e denominado “Cannabiocombustíveis: Biocombustíveis da Cannabis sativa L.” que une, num mesmo projeto, inovação e sustentabilidade, mostrando que é possível encontrar soluções criativas para problemas complexos.

A transformação da biodiversidade em produtos úteis, enquanto se combate ao crime, é um grande passo para uma abordagem mais abrangente na gestão de drogas. Além disso, a possibilidade de produzir biofiltros para comunidades isoladas e gerar energia a partir do biogás é uma forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável das regiões afetadas. Todo o processo é realizado no Laboratório de Química da Superintendência da Polícia Federal no Pará, onde a maconha apreendida é transformada em bio-óleo.

Antônio Canelas, perito criminal da PF, que planejou e construiu o laboratório, diz que uma grande quantidade de maconha é apreendida pela corporação anualmente e todo o produto é incinerado. “Foi aí que percebemos que, através de conhecimento técnico, através do processo de pirólise, podíamos fazer essa incineração e uma maneira controlada e criar bio-óleo e biocombustíveis além de outros produtos de valor agregado”, destaca o perito.

A pirólise é a decomposição térmica em baixa presença de oxigênio, onde é possível criar biocombustíveis como gasolina e diesel verdes, além de biogás e biocarvão, que pode ser usado em sistemas de filtragem e até na agricultura, reduzindo o uso de fertilizantes nas plantações. “São produtos de valor agregado que vão inclusive nos dar créditos de carbono e que não poluem a atmosfera, já que tudo que é produzido a partir do processo pode ser reaproveitado”, justifica o perito.

O processo acontece dentro de um pequeno reator montado no laboratório onde a droga e colocada e aquecida a uma temperatura que pode atingir 500 graus. O resultado da decomposição da maconha é um bio-óleo, escuro e denso que, após destilado, pode produzir querosene, gasolina e diesel verdes. É possível processar mais de mil quilos da droga em 24 horas, dependendo do tamanho do reator.

A pesquisa encontra-se em fase de ajuste para garantir um melhor rendimento e a qualidade do bio-óleo produzido, mas outros produtos podem ser produzidos a partir da quebra da molécula da maconha, o que garante um aproveitamento de 100% da matéria-prima, reduzindo os custos logísticos da PF.

“Acreditamos que daqui a mais ou menos um ano, em março do ano que vem, possamos chegar a bons parâmetros com um bio-óleo de melhor qualidade e com bons índices de hidrocarbonetos e a um menor custo energético para aumentar a escala de produção em etapas futuras”, detalha Canelas.