Pará

Projeto de reflorestamento no Pará atrai investimento privado de R$ 258 milhões e mira créditos de carbono

A área concedida fica entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, já havia sido invadida e foi recuperada pelo governo.

O governador do Pará, Helder Barbalho, lembrou que a área concedida foi invadida "por um cidadão que desmatou 10 mil hectares para fazer pecuária, gerando três ou quatro empregos". A concessão, afirmou, representa um novo modelo estratégico para recuperar áreas degradadas.
O governador do Pará, Helder Barbalho, lembrou que a área concedida foi invadida "por um cidadão que desmatou 10 mil hectares para fazer pecuária, gerando três ou quatro empregos". A concessão, afirmou, representa um novo modelo estratégico para recuperar áreas degradadas.

Empresa que tem participação minoritária do banco BTG Pactual e única concorrente na disputa, a Systemica venceu nesta sexta-feira o primeiro leilão de uma área desmatada no país realizado na B3. A empresa levou a concessão para reflorestamento da Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu, no Pará, oferecida pelo governo do estado.

A Triunfo do Xingu foi concedida para reflorestamento para iniciativa privada com aproveitamento de créditos de carbono de restauração. Outra possível concorrente, a Genuíno Reflorestamento, foi desclassificada porque não apresentou toda a documentação exigida e não comprovou a legitimidade de seu representante legal, segundo texto no Diário Oficial do Pará.

O projeto-piloto prevê a restauração de mais de 10,3 mil hectares. O prazo da concessão é de 40 anos, com investimento privado previsto de R$ 258 milhões. A estimativa de receita total é de R$ 869 milhões, com a criação de cerca de 2 mil empregos na região. Ao longo da concessão serão sequestradas 3,7 milhões de toneladas de CO2.

Pelo modelo previsto no leilão, empresas que não conseguem reduzir emissões de gás carbônico podem comprar créditos de carbono relacionados ao terreno reflorestado. O sócio-diretor da Systemica, Tiago Ricci, lembrou que a empresa tem outros dois empreendimentos de uso de crédito de carbono na Amazônia e anunciou investimentos de R$ 200 milhões nos próximos dez anos no parque. O estado do Pará terá R$ 100 milhões de receita, previu.

– Vamos utilizar mão de obra e fornecedores locais – afirmou Ricci.

O diretor afirmou que a Systemica tem interesse nos próximos leilões de reservas florestais na Amazônia, mas a confirmação vai depender muito do que será concedido.

– Cada território tem suas características, suas peculiaridades, suas questões sociais. A gente precisa avaliar isso muito bem – afirmou, lembrando que a maior área que a empresa tem projeto no Pará possui 400 hectares, em Parauapebas.

A concessão leiloada ontem prevê a recuperação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, de capacitação técnica da população local, incentivo à criação de viveiros e fortalecimento das cadeias produtivas regionais. Especialistas apontam como desafios do grupo a questão logística e de segurança contra novos desmatamentos.

O governador do Pará, Helder Barbalho, lembrou que a área concedida foi invadida “por um cidadão que desmatou 10 mil hectares para fazer pecuária, gerando três ou quatro empregos”. A concessão, afirmou, representa um novo modelo estratégico para recuperar áreas degradadas.

– Tivemos a ousadia de propor uma transição de modelo, com oportunidades econômicas e sensibilidade social. A escolha daquela região representa o maior exemplo de conflito e pressão no passado sobre o bioma amazônico e que se transformou em regra. Não há território tão emblemático como a Triunfo do Xingu – disse Barbalho, para quem, mesmo com apenas um participante, o leilão foi vitorioso.

A área concedida fica entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, já havia sido invadida e foi recuperada pelo governo. Mesmo com a queda de 65% do desmatamento registrada no ano passado na Amazônia, na comparação com 2022, a Triunfo do Xingu continua sob pressão, numa região em que a grilagem de terras, o avanço da criação de gado e de plantações de soja avançam sobre a floresta.

O Pará tem 1 milhão de hectares de áreas que podem ser restauradas e prepara um programa de concessões para restauração florestal. O leilão feito ontem é a base para a criação do programa.

A advogada especialista em direito ambiental Ana Claudia Franco diz que conceder áreas públicas já desmatadas pode ser positivo se vier acompanhado de critérios ambientais rigorosos e mecanismos eficazes de monitoramento:

– A concessão precisa estar ancorada em métricas robustas de recuperação ecológica, sob pena de se tornar mais uma forma de greenwashing (uso de medidas ambientais para recuperar a reputação de empresas) institucionalizado, especialmente em regiões marcadas por conflitos fundiários e grilagem.

*40 anos é o período de concessão da Triunfo do Xingu – Systemica terá de recuperar mais de 10,3 mil hectares com aproveitamento de créditos de carbono

Texto de: João Sorima Neto (AG)