Muito além do expediente, o conhecimento adquirido no trabalho acompanha muitos profissionais na rotina pessoal. Um psicólogo que recorre à escuta ativa nas relações familiares ou um nutricionista que aplica seus próprios princípios alimentares, a fronteira entre vida profissional e pessoal muitas vezes se dissolve. Profissionais de diferentes áreas compartilham como suas carreiras impactam nas suas escolhas cotidianas.
O infectologista é um médico especializado em doenças infecciosas, causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas. O profissional pode atuar em diversas áreas como Infectologia Hospitalar, Ambulatorial, Infectologia em Saúde Pública, Interconsultas em Infectologia, com foco no diagnóstico, tratamento, prevenção e pesquisa de doenças infecciosas. A profissão também tem papel central no combate a doenças que podem gerar surtos, epidemias e pandemias, como foi o caso da Covid-19.
Formada em medicina, Andréa Beltrão atua na área da infectologia há cerca de 30 anos. A especialidade foi escolhida logo após a graduação, quando ela se interessou pelos cuidados aos pacientes infectológicos. Na época, os casos de HIV estavam no auge, sendo uma doença causada por infecção viral sexualmente transmissível que pode provocar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Devido às consequências bastante intensas e ainda desconhecidas, a médica percebeu uma oportunidade de investigação da doença, que afeta o corpo humano de forma generalizada.
Entre as experiências profissionais estão a convivência com pacientes com doenças sérias e com alto grau de complicação, como Covid, dengue, cólera e raiva, além do trabalho com foco no controle de infecção hospitalar, ocasionada por bactérias multirresistentes. O contato com essa realidade, que geralmente envolve pacientes imunodeprimidos com histórias complexas e delicadas com a doença, é um desafio a ser trabalhado diariamente. Por isso, o cuidado com a saúde física e mental se tornam essenciais para não absorver todas essas mazelas.
“A saúde mental está relacionada justamente com a questão de conseguir se colocar no lugar do paciente, não só na infectologia, mas na parte clínica. Se você não fizer isso, não consegue resolver o problema dele. Eu busco muita afinidade e isso me traz alegria. Eu não vejo só a patologia do paciente, eu tento ver o máximo para que eu possa ajudá-lo. Mas eu tento não absorver tudo o que o paciente me mostra. Eu faço terapia holística, faço meditação, trabalho com aromaterapia, isso é superimportante para que eu mantenha o meu equilíbrio emocional”, relata a médica.
Nesse sentido, a alimentação correta também é aliada da infectologista no cuidado da própria saúde. “Os meus hábitos alimentares, eu tenho que ter uma rotina. Quando a gente está no corre corre isso é difícil, mas eu procuro, onde estou, uma comida mais saudável possível, eu tenho que parar para comer algo saudável, comida mesmo. Como às vezes a gente não consegue comer, muitas vezes eu faço jejum intermitente que é justamente para eliminar as gorduras e as toxinas. E quando eu volto a comer tem que ser o mais saudável possível”, afirma Andréa.
Mestre em Psicologia de Desenvolvimento (UnB) e especialista em Psicologia Clínica, Mariana Mendonça é psicóloga graduada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) desde 2003. Atualmente, atua em consultório com atendimento de jovens adultos e adultos e na docência, há 15 anos, em Análise do Comportamento Aplicada nas áreas de Psicologia Clínica, da Saúde e Jurídica.
Suas experiências profissionais envolvem tanto o atendimento clínico quanto o atendimento hospitalar, áreas que possuem uma sobrecarga diferente, tendo um fator estressor que exige um alerta maior ou menor, dependendo do contexto. Já no campo da docência, a psicóloga revela que a demanda de trabalho dentro e fora de sala de aula é o que afeta a gerência do tempo pessoal dos profissionais, impactando no tempo de qualidade nas relações familiares e no autocuidado.
Atualmente, segundo a psicóloga, a sociedade nutre uma lógica de se entregar muito ao outro, ao trabalho e até mesmo para as relações nas mídias sociais, esquecendo de si, da própria família, das pessoas mais próximas e dos relacionamentos afetivos. Para ela, essa lógica deve ser inversa: o foco deve ser em si mesmo e nas relações que fundamentam a nossa vivência. Ao contrário, nutrindo uma ideia de que as relações pessoais já estão conquistadas, as consequências podem ser severas.
“Todas essas práticas, talvez num mundo muito acelerado hoje, as pessoas olhem e digam que o que é importante é a minha força de trabalho, é o quanto que estou produzindo, o quanto que estou sendo reconhecida. E o que te dá a possibilidade de acessar isso de maneira estável, prolongada e segura é você cuidar de você mesmo primeiro. Então eu entendo que isso seria a minha prática prioritária”, diz a psicóloga.
Lidando diariamente com pacientes que vivem questões instigantes, desafiadoras e inesperadas, Mariana Mendonça também faz acompanhamento psicológico. A terapia auxilia a lidar com a vulnerabilidade e o sofrimento do outro, e a reconhecer suas qualidades, fraquezas e limites. Além disso, a profissional preza pelo inverso da lógica social, priorizando o autocuidado e o tempo de qualidade com os familiares.
“Eu priorizo muito estar com meu filho, fazer atividades que gostamos em conjunto, nutrir as relações dele com os amigos, estar com meu esposo, com a minha mãe. Muitas vezes a gente não encontra tempo hoje em dia para estar presencialmente com as pessoas, mas você consegue fazer isso de forma remota, fazer ligações à noite para as pessoas que a gente gosta, perguntar como elas estão, assistir muitas séries e filmes interessantes em casa, cozinhar em casa. Também a prática de esporte ao ar livre é uma coisa que me faz muito bem, como a canoagem, o remo em canoa havaiana é uma coisa que tem aqui em Belém, que eu também tenho essa prática. Tomar vinho com os amigos sempre que possível”, conta.
CONTROLE
Formado em Economia desde 2003, Pablo Damasceno é conselheiro suplente do Conselho Regional de Economia (Corecon PA-AP), vogal da Junta Comercial e atua como educador financeiro e docente em faculdades da Região Metropolitana de Belém. Especialista em Gestão de Empresas, ele possui vasta experiência profissional em uma área de ampla atuação no mercado, tendo trabalhado no setor de infraestrutura, logística, distribuição, gestão hospitalar, entre outras áreas.
Dessa forma, o conhecimento técnico acumulado na área de Economia é, sim, o responsável para que o profissional o adapte para a prática na vida pessoal. “De certa forma, eu tento buscar toda a teoria que eu passo, adaptando para a minha realidade cada planilha, anotação e conselho. Não existe segredo, o que existe é a questão de saber poupar seu dinheiro, saber sempre elevar sua receita e diminuir os custos, na medida do possível, para gerar riqueza. Na verdade, essas teorias a gente traz para o dia a dia, busco trabalhar o máximo que eu posso, desde que isso não gere impacto na minha saúde e, ao mesmo tempo, conter minhas despesas, os gastos supérfluos e gastar com aquilo que é mais útil”, revela Pablo Damasceno.