
Aos 43 anos, o agricultor Rozinaldo Teixeira de Jesus ainda recorda do tempo em que o uso do machado e da motosserra imperava nas atividades no campo. Seguindo o bom exemplo vindo de seu avô, que ensinou o amor pelo trabalho com a terra, Rozinaldo decidiu fazer diferente e hoje é um dos produtores agrícolas que conciliam a produção agrícola à conservação da floresta, equilíbrio que faz a diferença no estado do Pará.
Da comunidade ribeirinha de Barreiras, no município de Almeirim, oeste do Pará, Rozinaldo e sua família mantêm toda a atividade agrícola concentrada em áreas que já haviam sido abertas anteriormente, buscando aproveitar da melhor maneira possível o espaço. Com isso, eles conseguem manter intacta uma grande área de floresta nativa presente na propriedade.
“A gente está aproveitando o máximo possível das áreas degradadas. Antigamente, as pessoas logo pensavam em tirar uma nova área lá na floresta nativa para plantar, mas hoje nós não fazemos mais isso. Ainda bem que a gente sentiu que isso causa um grande impacto no nosso trabalho, no dia a dia, na nossa atividade de campo”, conta.
“Então, hoje eu posso dizer que a gente já melhorou bastante e temos todo esse cuidado. Nós temos muita floresta em pé. Eu mesmo tenho área titulada que não foi mexida em nada. Não há necessidade. Hoje a gente trabalha, realmente, em cima da área já degradada”.
Através de técnicas como a rotação de culturas, Rozinaldo e outros produtores conseguem garantir uma boa produtividade em suas terras, sem que seja necessário desmatar novas áreas, conservando-as intactas. Para além dos benefícios climáticos sentidos durante o próprio trabalho no campo, o produtor e sua família também já receberam incentivos financeiros para manter a conservação da vegetação nativa, isso através do projeto Floresta+ Amazônia, um projeto piloto desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Mais do que receber o reconhecimento pela contribuição prestada para a redução de emissões de gases de efeito estufa através da conservação, Rozinaldo ainda faz questão de compartilhar conhecimento e incentivar outros produtores a produzir, mantendo a floresta em pé. “A gente vem conscientizando os vizinhos, levando bom exemplos. De início, a gente tocava no assunto e as pessoas desconfiavam, diziam que era mais um que estava chegando pra levar as nossas coisas, mas hoje não”, avalia.
“Hoje o município de Almeirim tem um número que não é pequeno de pessoas que fazem parte do projeto. E eu não deixo de passar a minha mensagem, onde eu encontro um companheiro, eu converso. Você pisa todos os dias ali, então, se você não cuidar, quem vai cuidar pra você? Se você não zelar, quem vai zelar pra você?”.
Projeto Floresta+ Amazônia valoriza trabalhadores e trabalhadoras rurais da Amazônia Legal
Através do sistema de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), o Projeto Floresta+ Amazônia valoriza trabalhadores e trabalhadoras rurais da Amazônia Legal que preservam a floresta em suas propriedades. E a própria adesão ao projeto evidencia a importância que os produtores familiares têm para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), além de demonstrar que o Pará se destaca nesta atuação.
O assessor técnico do Projeto Floresta+ Amazônia pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Carlos Casteloni, aponta que o programa tem como objetivo causar um impacto positivo para o meio ambiente, ao mesmo tempo em que reconhece o papel do pequeno produtor na conservação da floresta.
“Os pequenos produtores têm um papel importantíssimo na redução das emissões desses gases de efeito estufa e de todo esse cenário de mudança climática que a gente tem enfrentado atualmente. As pessoas que moram na Amazônia são guardiãs da floresta, elas têm uma relação muito equilibrada com a área de floresta”, considera.
“Se você está conservando uma área dentro do seu imóvel, você está contribuindo para a manutenção de todos os animais que estão no entorno, está gerando água, está gerando oxigênio, tem toda essa captação do CO2 que está relacionado com os efeitos estufa. Então, acho que o objetivo do projeto é esse: reconhecer o papel do pequeno produtor rural na conservação e valorizar eles pelo papel que eles têm tanto na produção de alimentos, quanto na conservação”.
Carlos explica que o programa é implementado com recursos do Fundo Verde para o Clima (GCF) em função da redução de desmatamento que o Brasil obteve nos anos de 2014 e 2015. Com base nessas reduções, o governo brasileiro apresentou um projeto ao GCF e recebeu o recurso que agora está repartindo com os produtores.
Como projeto piloto, o Floresta+ Amazônia vem testando várias abordagens de como recompensar as pessoas por todo o impacto ambiental positivo que elas apresentam, incluindo aí não só os pequenos produtores, mas também comunidades tradicionais, como os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, dentre outros.
Floresta+ Amazônia: Pará lidera iniciativas de Conservação Ambiental na Região
Desde o lançamento do projeto, a atuação no estado do Pará tem se destacado. “Dos nove estados da Amazônia Legal, o Pará, por sua tradição e por estar há mais tempo na agenda de regularização ambiental, é o que possui mais beneficiários. Na modalidade de conservação, por exemplo, já realizamos duas chamadas em 2022 e os pagamentos são anuais, ocorrendo em 2022, 2023 e 2024. Destinamos mais de R$3 milhões, sendo a maior parte para o Pará”, explica Carlos Casteloni.
Outro dado relevante é a quantidade de floresta conservada pelo projeto. Até o momento, o Floresta+ Amazônia preservou 3.117 hectares, dos quais 2.075 hectares estão no Pará. “Ou seja, a maior parte do projeto está no Pará, graças ao histórico do estado e a outras iniciativas, como o CAR (Cadastro Ambiental Rural), que começou no Pará e hoje é uma estratégia nacional, além do programa Regulariza Pará”, ressalta.
Em novembro, foi lançada uma nova chamada para quem tem pelo menos 50% de vegetação nativa e atende a critérios como não ter embargo ou multas. Serão realizados pagamentos em lotes ao longo do ano, e um deles ocorrerá no final de março, com a distribuição de cerca de R$2 milhões. Desses, R$1,3 milhão serão destinados ao Pará, que conta com 124 dos 204 beneficiários da nova chamada. “O Pará é o estado da Amazônia Legal que mais contribui com essa agenda”, finaliza.