Belém - A castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa) tem um tamanho bem peculiar, podendo atingir 50 metros de altura, o que seria mais ou menos um prédio de 16 andares. A grandiosidade da dimensão da árvore, ou melhor, dos frutos dela, refletiu em uma gigantesca divergência e alvoroço nas redes sociais. Tudo começou quando o ator amazonense Adanilo se referiu à castanha-do-pará como castanha-da-amazônia durante o preparo de um café da manhã ao vivo no programa “É de Casa”, da TV Globo, no último sábado (4).
“A caboquinha é uma combinação de goma de tapioca misturada com castanha, a castanha-da-amazônia, para dar aquele toque especial”, disse o ator em rede nacional. Em seguida, a apresentadora da atração Talitha Morete corrigiu o ator dizendo que o nome era castanha-do-pará. A situação ficou ainda mais constrangedora quando o ator rebateu a apresentadora afirmando que a oleaginosa “é do Pará também, da Amazônia, do Brasil” e ainda completou dizendo que “chamam (a castanha) de um monte de nome”.
REDES SOCIAIS
Nas redes sociais, as discussões estavam afloradas em torno do assunto, com quem defendesse fortemente o nome castanha-do-pará, como a ex-BBB paraense Alane Dias. No TikTok, a bailarina fez uma publicação que teve mais de 470 mil visualizações e quase cinco mil comentários. No vídeo, ela faz questão de exibir a castanha e critica quem quer nomear a oleaginosa com outros termos.
FEIRA
Polêmicas à parte, O DIÁRIO foi até a feira do Ver-o-Peso ouvir a opinião de quem trabalha diretamente com a comercialização das castanhas. Só a nível de curiosidade para quem gosta de consumir a oleaginosa: o quilo da castanha descascada e torrada custa R$ 90,00; o quilo da versão com casca custa R$ 30,00, e a unidade do ouriço com cerca de 18 castanhas com casca tem o valor de R$ 5,00.
Com 31 anos de idade, o feirante Valdeir Mendonça desde a adolescência trabalha com a venda de castanhas na principal feira de Belém. Para ele, não há necessidade de ter novas nomenclaturas, pois o nome castanha-do-pará já representa a importância dela para a nossa região e para o Brasil. “Desde pequeno eu conheço com esse nome e vou continuar chamando assim por aqui”.
O paraibano Tonny Reis, 34, trabalha no Ver-o-Peso há quase dois anos com as vendas de castanhas, como a do Pará e de caju. O feirante comenta que já viajou para diferentes regiões do Brasil e observou que, fora do nosso Estado, a oleaginosa é mais conhecida como castanha-do-pará, e não castanha-da-amazônia ou castanha-do-brasil.
Há quem não veja problema da castanha-do-pará ter outras nomenclaturas. A feirante Franci Ferreira, 34, há mais de duas décadas trabalha com a comercialização das castanhas, negócio que veio de geração com a família. Para ela, chamar a oleaginosa de castanha-do-pará ou castanha-da-amazônia não é motivo para polêmicas, pois, de acordo com ela, a castanha sempre foi da região. “Pra mim não importa como ela (castanha) é chamada. Não tem necessidade de todo esse burburinho e discussão”.
Historiadora explica que fruto era exportado com essa nomenclatura desde o século 18
De acordo com a professora da Faculdade de História do Campus Ananindeua da Universidade Federal do Pará (UFPA), Sidiana Macêdo, a castanha-do-pará, tradicionalmente e historicamente, é conhecida por esse nome desde os primeiros relatos sobre esse tipo de oleaginosa na região, quando foi dado o nome de castanha-do-pará.
“Ela era, inclusive, exportada com essa denominação desde o século XVIII”, explica a historiadora da alimentação. Naquela época, o Pará fazia parte do chamado estado do Grão-Pará e Maranhão, um estado que existiu e que era formado pelo Pará, Roraima, Amapá, Maranhão e Piauí. O extrativismo da castanha era uma das principais atividades econômicas paraenses. O preço, inclusive, variava bastante e estava constantemente nas pautas comerciais dos jornais.
“Na prática, havia muitos coletores que se especializaram nesta atividade e quando chegava o tempo da colheita faziam o seu ganha pão”.
Na dissertação de mestrado com o tema “Daquilo que se come: uma história do abastecimento e da alimentação em Belém (1850-1900)”, a historiadora analisou vários dos produtos de abastecimento e exportação do Pará, e a castanha se destacava como um dos mais importantes itens alimentares de origem extrativista, no que se refere ao consumo local.