Até o dia 16 de abril está sendo realizada a segunda edição da “Semana dos Povos Indígenas: Aldeando a COP-30”, no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. A iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi), tem como objetivo celebrar e reconhecer a riqueza cultural e ancestralidade das diversas etnias indígenas do território paraenses como forma de sensibilizar à população sobre a relevância em preservar o meio ambiente e as terras indígenas.
A Semana dos Povos Indígenas reunirá cerca de 400 indígenas de diversas etnias, como Wai Wai, Kaxuyana, Munduruku, Tembé, Kayapó, Xikrin, Xipaya, Curuaia, Juruna, Parakanã, Apiaká, Warao, Assurini, Sateré Mawé, Atikum, Anambé, Gavião, Arara e Guarani. O evento está promovendo debates sobre as demandas dos povos indígenas da região, além de ações de emissão de documentos, serviços de saúde, educação, previdência e assistência social. O público ainda terá a oportunidade de participar da feira da arte indígena, apresentação de danças e desfile de moda ancestral, entre outros momentos.
Nesta segunda-feira (14), a programação contou com a abertura da II Feira da Arte Indígenas, com a exposição de dezenas de artigos produzidos pelas etnias indígenas paraenses. Pela manhã também foi realizado o Seminário de Educação Indígena: Construção da Política Estadual da Educação Indígena do Estado do Pará. Na ocasião, estiveram presentes a secretária nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ceiça Pitaguary; a coordenadora da Educação Escolar Indígena (Seind), da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc), Vera Arapiuns; além de lideranças indígenas.
A secretária de Estado dos Povos Indígenas (Sepi), Puyr Tembé, ressaltou a importância de um evento que dialoga com as demandas das etnias indígenas paraenses. “Mais uma vez, os povos indígenas demandam ao governo do Estado, ao nosso governador Helder Barbalho, que pediu para que fizesse porque teve sucesso a primeira. E esse ano a gente não quer fazer diferente. A gente está aqui não só por isso, mas também para construir, para pensar, elaborar políticas públicas a partir das demandas que vêm dos territórios indígenas. A gente aqui festeja, mas também a gente constrói um futuro, um caminhar para os povos indígenas”, afirmou.
O evento ainda busca regulamentar uma Lei de Educação Escola Indígena, iniciativa inédita no estado. A programação também contará com um debate sobre as Caravanas Rumo à COP 30, com participação do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Segundo a titular da pasta estadual, o momento será voltado a discussão sobre a presença e preparação de representantes dos povos indígena para a Conferência das Partes das Nações Unidas (COP-30), a ser realizada em novembro deste ano, em Belém.
Preparativos para a COP-30
“É justo que a gente prepare essas lideranças indígenas, que a gente fale o que é a COP e o que se discute. É preparar os povos indígenas para que possamos ter condições de mostrar tradicionalmente e ancestralmente que só vai ser possível mudar o contexto das mudanças climáticas a partir da escuta dos povos indígenas. Cientificamente já foi comprovado que a demarcação das terras indígenas é um caminho para a questão ambiental do nosso país e do do mundo. A caravana passando nos territórios, sensibilizando, mobilizando, articulando e informando os povos indígenas para participarem é um gesto justo e válido para que possamos nos preparar para um debate tão técnico. Eu acho que não basta ser técnico, é preciso compreender e entender a leitura ancestral e tradicional dos povos indígenas”, disse.
IMPORTÂNCIA
A índigena da etnia Wai Wai, Marlucia Gomes, presidente da Associação das Mulheres Indígenas da região do município de Oriximiná (Amirmo), ressaltou que o evento é um meio de diálogo com o poder público em relação às demandas das populações indígenas. Habitante da região próxima às Guianas, Marlucia relata que seu povo enfrenta dificuldade de locomoção, além de áreas de saúde e educação. Por isso, o convite para participar do debate serviu como oportunidade de falar sobre as reivindicações e se fazer conhecer os produtos produzidos no território, como pimenta e artigos de artesanato.
“É muito difícil para gente chegar até aqui, são três dias. A gente tá muito feliz porque estamos aprendendo a ter contato com os demais e queremos falar dos problemas também que a gente, o que a gente precisa. A nossa aldeia é muito longe da cidade, é meio, assim, esquecida pelas autoridades. E a gente está aqui para ouvir e buscar também o nosso parceiro, que tem que nos ajudar. O que a gente precisa na nossa aldeia é mais reforço na educação, na saúde, mais na saúde porque a gente não tem um bom atendimento, não tem casa para os funcionários trabalharem direitinho e dar um apoio para a gente. Estamos lutando para que os nossos parentes não tenham que vir para a cidade e deixar a cultura deles lá”, revelou Marluce.
A cultura indígena e seus valores
Na abertura do evento, os indígenas de etnias diversas fizeram danças e entoaram cânticos ancestrais. De acordo com Bepbjá Kayapó, professor indígena da etnia Kayapó, esse fragmento da cultura indígena são valores sagrados aos povos indígenas. “Os cantos que nós apresentamos hoje são os cantos onde a gente nomeia as crianças, como se fosse registro do nome das crianças. Então, esse cântico é muito importante pro povo Kayapó que a gente sempre valoriza o nosso cântico, que é onde a gente tem esses valores da nossa cultura. A importância é mostrar a nossa cultura, mostrar a nossa língua para o mundo ver que nós, povos Kayapós, temos essa riqueza de cultura, de pintura. Nós estamos aqui hoje mostrando a nossa cultura, nossas músicas, para que o mundo vê e respeite a nossa tradição”, afirmou.