Atraso, frotas reduzidas, longo tempo de espera e falta de paradas de ônibus são as principais situações enfrentadas pelos moradores de Ananindeua em relação ao transporte coletivo. Os relatos ainda envolvem a superlotação dos veículos e ausência de horário fixo, problemas que comprometem a pontualidade e o desempenho no trabalho. Por isso, para chegar aos compromissos, os passageiros têm que se “espremer” nos horários de pico, tanto na ida quanto na volta.
Em 2023, a Prefeitura de Ananindeua anunciou a licitação da concessão do serviço de transporte público do município, que previa a reestruturação e modernização dos ônibus intramunicipais, promessa de campanha do prefeito Daniel, para o primeiro mandato. Em outubro de 2024, 10 novos micro-ônibus com ar-condicionado, da linha “Distrito Industrial – Cidade Nova Castanheira” foram entregues. Porém, os coletivos não atendem a uma grande parcela da população, já que o percurso segue apenas até o Shopping Castanheira.
A Cidade Nova é um dos pontos mais críticos em relação aos ônibus. Com uma grande população de trabalhadores que saem do município rumo a Belém, os moradores das Cidade Nova 8 e 5 convivem diariamente com as condições precárias dos ônibus.
Desde as primeiras horas da manhã, uma grande fila se forma à espera do ônibus “Cidade Nova 8 – Presidente Vargas”, próximo ao Ginásio “Abacatão”. Mesmo estando antes das 7h no ponto de ônibus, a entrevistada chega constantemente uma hora após o horário de trabalho, às 8h. Outros moradores relatam a existência de apenas três veículos da linha.
“O meu horário é oito horas, mas eu só chego quase às nove da manhã, quase todos os dias é esse atraso. Já ouvi reclamação, mas não tenho muito o que fazer, tenho que esperar porque dependo do ônibus. Na volta é a mesma coisa. Se saio às uma da tarde, chego na Cidade Nova quase três horas. A gente sempre fica mais de meia hora esperando ônibus. Quando chega, vem cheio. É uma situação difícil porque a minha única opção é essa linha”, relatou Caly.
A solução seria desmembrar a administração do transporte público do município, segundo a servidora pública e moradora de Ananindeua, Claudia Santiago. Isso porque com uma frota reduzida, os ônibus têm que percorrer as duas cidades, Belém e Ananindeua, em um percurso extenso até voltar ao município de origem. Portanto, a espera exaustiva pelos veículos, que já não tem um horário definido, se transforma em cansaço físico e mental, comprometendo até o desempenho laboral.
“É sempre um sufoco, só saem lotados e não têm horário fixo. Antes tinha ônibus de 6h30, 6h45, 7h e 7h15. Agora sai um às 6h30 e outro só às 7h15. Quem depende de um ônibus aqui corre o risco de perder o emprego e tem muita gente que perde porque o chefe não aceita uma desculpa todo dia. Eu venho pra cá às 6h40 pra chegar na Presidente Vargas só 9h e tem dias que eu chego 9h30. Se eu não chegar no ponto cedo, eu não pego lugar sentada e vou em pé da Cidade Nova até a José Malcher”, conta a servidora pública.
Desorganização dá o tom
A situação também se repete no final da linha do “Cidade Nova 5 – Ver-O-Peso”, situada na travessa WE.31. Por lá, a parada de ônibus não possui estrutura alguma para abrigar os passageiros, que esperam enfileirados, desde a madrugada, embaixo do telhado de uma casa também. Segundo alguns moradores, a desorganização é tanta no ponto do único coletivo que atende a população do bairro que nem sequer o fiscal sabe dizer os horários de parada dos veículos. A situação os obriga a chegar cedo no local para esperar, em pé, a boa sorte dos ônibus aparecerem.
Segundo o morador Inácio Lima, 68 anos, a redução da frota do Cidade Nova 5 se intensifica nos finais de semana. A saída é andar mais ou pagar aplicativo para ir até outro ponto que tenha mais opções de ônibus, comprometendo ainda mais a renda mensal.
Márcia Emília, 46, que mora no bairro do Guajará I, relata que a dificuldade é grande, principalmente em relação aos ônibus intermunicipais. “Eu costumo resolver tudo pela Cidade Nova porque para ir em Belém a gente leva de uma a duas horas só pra chegar. Mesmo trabalhando aqui, é comum me atrasar porque são poucos ônibus. De seis às sete da manhã, eles passam de 15 em 15 minutos, mas passou disso começa a demorar mais de 40 minutos”, revela a cuidadora de idosos.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Ananindeua, mas até o fechamento desta edição, não teve resposta.
O QUE DIZ O SETRANSBEL
- O SETRANSBEL informa que a oferta de transporte coletivo na Região Metropolitana de Belém é dimensionada de acordo com a demanda de passageiros ao longo do dia, buscando atender as necessidades da população de forma eficiente.
- A limpeza dos veículos é realizada diariamente, assegurando condições adequadas para a circulação dos mesmos.
- “Atualmente, a frota em operação em Belém e região metropolitana conta com cerca de 1.100 ônibus, que percorrem aproximadamente 250.000 quilômetros por dia. O índice de incidentes técnicos está em torno de 1,5%, considerado adequado para a dimensão da operação”, informou.
- “Esclarecemos que não há redução de frota ou falta de horários fixos. No entanto, as obras de infraestrutura em andamento, como na BR-316, Avenida Mário Covas e Independência, têm ocasionado atrasos nas viagens e comprometido a carga horária dos rodoviários, impactando a frequência dos ônibus nos pontos de origem e destino”.
- O SETRANSBEL diz ainda que reafirma seu compromisso com a qualidade do serviço e permanece à disposição para colaborar com as autoridades e a população, visando o contínuo aprimoramento do sistema de transporte coletivo.