MUITA BRONCA

Polícia Federal lacra urnas e paralisa votação para reitoria da Ufra

Oficiais de Justiça cumpriram ordem judicial que determinava a suspensão da consulta pública para a escolha da nova reitoria da Ufra.

Oficiais de Justiça cumpriram ordem judicial que determinava a suspensão da consulta pública para a escolha da nova reitoria da Ufra.
Oficiais de Justiça cumpriram ordem judicial que determinava a suspensão da consulta pública para a escolha da nova reitoria da Ufra. Foto: Mauro Ângelo

Na noite de quinta-feira (29), dois oficiais de Justiça cumpriram ordem judicial que determinava a suspensão da consulta pública para a escolha da nova reitoria da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). A paralisação atingiu os campi de Belém e do interior, onde a votação também ocorria.

Em Belém, o dia foi marcado por intensos protestos de membros da comunidade acadêmica, incluindo professores, técnicos e estudantes, além de candidaturas de oposição que pediam o cancelamento do processo. As chapas adversárias da atual gestão acusam a administração da universidade de manipular regras do estatuto eleitoral para beneficiar a reitora licenciada, Herdjania Veras de Lima, que lidera a chapa da situação.

Edilêne Barbosa, candidata à reitoria pela Chapa 1 e autora da ação judicial que resultou na suspensão da eleição, afirma que a universidade está sem processos democráticos há quatro anos. “Tudo tem sido feito por meio de referendos. Entrei com diversas ações na Justiça para restabelecer a democracia na Ufra, e obtive várias decisões favoráveis, incluindo uma liminar que exige a regularização do Conselho Universitário”, declarou.

Segundo ela, a decisão judicial previa, inicialmente, a recomposição do Conselho Universitário por meio de eleições. Os opositores argumentam que o atual conselho é formado, em grande parte, por membros nomeados sem votação, o que comprometeria sua legitimidade para conduzir o processo de escolha da reitoria.

A professora Gracialda Ferreira, da Chapa 4, também questiona a legalidade do processo e denuncia ações que considera irregulares, como a impugnação de sua candidatura. “Estamos enfrentando a quebra da paridade garantida em nosso estatuto, que assegura voz equilibrada entre servidores e estudantes na escolha da gestão”, disse.

Tatiane Pacheco, da Chapa 3, destacou que, apesar das diferenças entre as candidaturas de oposição, há consenso sobre a falta de lisura no processo. “Revogaram o artigo 26 do estatuto para permitir que a reitora se afastasse por apenas 12 dias, quando o regulamento exige um mínimo de 90 dias”, afirmou.

Confusão e cumprimento da ordem judicial

Pela manhã, a 5ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Pará já havia expedido decisão pedindo a interrupção da eleição. Mesmo assim, a votação continuou, o que gerou tumultos. Herdjania de Lima foi impedida de entrar na sala onde ocorriam os trabalhos, sob forte protesto da oposição, e deixou o local após discussão com manifestantes.

À tarde, os opositores pressionaram pela paralisação definitiva da votação, alegando descumprimento da ordem judicial. A situação levou à emissão de um segundo mandado, cumprido às 18h48, com o apoio da Polícia Federal. Somente então as urnas foram desligadas, lacradas e levadas à sede da PF em Belém. Urnas do interior do Estado também foram apreendidas.

Segundo o presidente da comissão eleitoral, Adriano Vitti Mota, a coleta de votos foi interrompida por volta das 16h30. Ele foi criticado pelas chapas de oposição por não seguir imediatamente a determinação judicial. Antes da chegada da polícia, Vitti Mota pediu a retirada das pessoas da sala, alegando ter recebido uma ordem da “reitora” — sem esclarecer o nome — o que gerou novo confronto verbal.

Decisão judicial e penalidades

A juíza federal Maria Carolina Valente do Carmo determinou a suspensão imediata da eleição e o lacre de todo o material de votação. A decisão ainda autorizava a prisão em flagrante de quem resistisse à ordem, incluindo o reitor em exercício, Jaime Viana, e o presidente da comissão eleitoral, além de fixar multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

A escolha da nova reitoria da Ufra depende da formação de uma lista tríplice aprovada pelo Conselho Universitário, que é encaminhada ao presidente da República, responsável pela nomeação do novo gestor.

Até o fechamento desta edição, a reitora licenciada Herdjania Veras de Lima, a Ufra e o presidente da comissão eleitoral não se pronunciaram sobre as denúncias. Tentativas de contato feitas pela reportagem por meio da assessoria de imprensa da universidade não foram atendidas.