TECNOLOGIAS SOCIAIS

Pesquisas da Ufra serão apresentadas na COP da Biodiversidade

Evento mundial iniciou nesta segunda-feira (21) e segue até o dia 01 de novembro de 2024, na cidade de Cali, na Colômbia.

Ilha do Combu. Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.
Ilha do Combu. Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.

Captação de água da chuva, banheiro ecológico ribeirinho e a fossa ecológica são as tecnologias sociais que serão apresentadas pela professora Vania Neu, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), durante a 16ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, a COP da Biodiversidade. O evento mundial iniciou nesta segunda-feira (21) e segue até o dia 01 de novembro de 2024, na cidade de Cali, na Colômbia.

No dia 31 de outubro, a professora é uma das convidadas da mesa “Tecnologias sociais para conservação e restauração da sociobiodiversidade da Amazônia” e vai mostrar os resultados de anos de pesquisa e aplicação de T.S na região amazônica. O evento será transmitido de forma online, às 5h30, horário de Brasília (DF).

Segundo Vania Neu, as T.S são frutos do diálogo entre o saber tradicional e o conhecimento científico e que trazer soluções efetivas, sustentáveis e culturalmente apropriadas para questões ambientais, de saúde coletiva, desenvolvimento comunitário e inclusão social.

“Pensar em tecnologias sociais para a Amazônia é de extrema importância devido a singularidade e complexidade da região, que enfrenta desafios ambientais, sociais e econômicos únicos, como a falta de infraestrutura básica, desmatamento, mudanças climáticas e isolamento geográfico”, diz.

Ela explica que o uso de tecnologias sociais adaptadas à realidade local contribui com soluções sustentáveis e contextualizadas, que promovam o desenvolvimento sem comprometer a ecologia, a cultura e a qualidade de vida das comunidades amazônicas.

“Quando falamos em saneamento, em cuidar das águas, a gente fala em manutenção da biodiversidade, manter a qualidade da água dos rios e da fauna aquática. É muito importante incluir as pessoas nesse processo, então quando falamos em sociobiodiversidade devemos pensar na qualidade de vida dos povos que vivem na Amazônia, para que eles tenham água potável e uma vida digna”.

Entre as tecnologias apresentadas, está o Sistema de captação de água da chuva, que funciona sem a necessidade de bomba d’água e energia elétrica. A água chega nas residências por meio da gravidade e após o descarte dos primeiros milímetros de chuva, seguida do tratamento e da filtragem é possível garantir água potável para as comunidades.

“Garantir qualidade de vida, com acesso à saneamento para os povos tradicionais, são condições vitais, para que os guardiões da biodiversidade, possam permanecer em seus territórios, e assim garantir a proteção da biodiversidade. A captação e armazenamento da água de chuva já é uma forma de adaptação às mudanças climáticas em curso”, diz.

Banheiro ecológico

Outra tecnologia é o banheiro ecológico ribeirinho (BER) ou banheiro seco, uma tecnologia desenvolvida para áreas sujeitas a inundações, seja por influência da maré, ou pela variação sazonal do rio. Se antes os dejetos iam direto para o rio ou contaminavam o solo, com a instalação do BER, este material é depositado em um reservatório. Com a adição de serragem e cal virgem, o material se transforma em adubo orgânico, livre de patógenos, por meio da compostagem.

Tanque de Evapotranspiração

A terceira tecnologia que será apresentada é o Tanque de Evapotranspiração (TEvap), tecnologia social já utilizada em outros locais do país, mas que para a Amazônia foi necessário adaptações para o clima local. A tecnologia é uma solução baseada na natureza, com a utilização de plantas, que realizam o tratamento do esgoto e a produção de alimento seguro. Para a construção do sistema, são usados resíduos como pneus e entulhos, enquanto as plantas recomendadas para a montagem do sistema devem ter folhas grandes, como bananeiras e taiobas.

“Esta tecnologia permite que a água contaminada entre no sistema e as plantas devolvem água limpa para a atmosfera, tudo isso movido pela energia do sol. Com esse sistema de tratamento, os dejetos não chegam ao rio e nem contaminam o lençol freático, mas alimentam um sistema vivo e produtivo”, diz.

Atualmente, as tecnologias desenvolvidas a partir de projetos da professora estão instaladas na Ilha das Onças, localizada no município de Barcarena, região metropolitana de Belém e na Ilha do Combu. Segundo dados do Sistema Nacional de Indicadores de Saneamento (SNIS 2022) reunidos pelo instituto Trata Brasil, pelo menos 80.615 habitantes do município de Barcarena, não têm acesso a água potável, o que representa 63,7% da população. Já no município de Belém, capital paraense, esses números representam 4,5% da população.

Em Barcarena, mais precisamente na comunidade do Furo Grande, as tecnologias desenvolvidas pela Ufra atendem de forma direta pelo menos 100 pessoas. No total, o projeto conseguiu realizar a instalação de 15 sistemas de captação de água de chuva e 15 banheiros secos. Já no Combu, os sistemas de saneamento beneficiam 30 pessoas de forma direta.

O sistema de captação de água da chuva também está implantado em uma escola na Ilha de Tamarateua, Resex Marinha, localizada no município de Marapanim, onde atende cerca de 80 pessoas.

“Quando olhar para a Amazônia é preciso entender que as pessoas fazem parte desse sistema. Se hoje a Amazônia ainda tem áreas preservadas, isso é graças aos povos tradicionais que aqui vivem, cuidam e preservam. Cuidar da Amazônia, perpassa pelo respeito a esses povos”, diz a professora.

A COP da Biodiversidade

A COP de Biodiversidade é o principal fórum global onde os países se reúnem para discutir e negociar ações para a conservação da biodiversidade. Na COP 15 foram definidas 23 metas no Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês), com prazo para que sejam cumpridas até 2030 e cujo objetivo é deter e reverter a perda de biodiversidade, colocando a natureza em um caminho de recuperação para o benefício das pessoas e do planeta . (Fonte: Agência Brasil)