A formanda Maria Clara Pinheiro da Silva, de 25 anos, recebeu o Prêmio Amaral Costa de melhor TCC, durante a cerimônia de formatura da turma de 2018 da Faculdade de Medicina da UFPA, realizada no último dia 02 de janeiro.
A pesquisa comparou os resultados clínicos radiográficos de dois métodos de fixação no tratamento cirúrgico minimamente invasivo do hálux valgo, como é cientificamente chamado o joanete: a utilização de fios de Kirschner (conhecidos como pinos), e a utilização de parafusos canulados.
O grande interesse da pesquisa foi avaliar se o fio de Kirschner, que possui um custo menor e técnica mais simples, apresenta resultados tão satisfatórios quanto a cirurgia com o uso de parafuso. “São fatores que impactam diretamente nos custos do sistema de saúde e na recuperação pós-operatória do paciente”, destaca Maria Clara.
O estudo foi realizado no período de 2021 a 2023, no Hospital Maradei, com 40 pacientes do SUS, oriundos da região metropolitana de Belém e de municípios do nordeste e sudeste do Pará. Foi desenvolvido em parceria com o ortopedista Wagner Sampaio, especialista em cirurgia do pé e tornozelo pela ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé), e orientada pelo professor de ortopedia da UFPA, Dr. João Alberto Maradei Pereira.
No TCC, Maria Clara apresentou a análise dos seis meses iniciais da pesquisa, envolvendo 40 pés operados. “Neste período, nossa estatística demonstrou que o parafuso e o fio de Kirschner possuem resultados equivalentes. A diferença, estatisticamente, está no tempo de cirurgia, pois é maior quando se utiliza o parafuso.”, explica.
O ortopedista Wagner Sampaio destaca que esse resultado inicial mostra que um número maior de pacientes poderá ser favorecido com a cirurgia que utiliza o fio de Kirschner, por ser também um material simples e de fácil disponibilidade.
“E pode proporcionar resultados clínicos radiográficos semelhantes a de outros materiais de síntese, sendo também seguro e eficaz. Os custos para o sistema único de saúde serão menores, portanto, uma maior parcela da população será contemplada com este tipo de tratamento.”, avalia.
O médico acrescenta que o TCC é extremamente relevante pois faz parte de uma linha de pesquisa maior que utiliza o estudo randomizado, considerado o padrão ouro e o mais alto nível de evidência científica, quando se trata de pesquisa de intervenção. E o estudo continuará em desenvolvimento pelos próximos dois anos. Vale ressaltar que, desde o início da pesquisa, foram realizadas 215 cirurgias de correção de joanete no hospital.
O orientador da pesquisa, o professor João Alberto Maradei Pereira, destaca que o estudo traz luz a um outro aspecto importante na medicina que é o uso racional dos recursos financeiros. “Se ao final da pesquisa, os resultados seguirem os mesmos, poderemos afirmar que é mais racional utilizarmos os recursos financeiros do material mais caro em outra aplicação ortopédica. Isto é otimizar o uso de recursos com qualidade.”, ressalta.
Sobre o Joanete
Estudo da ABTPé, divulgado em 2023, apontou que cerca de 30% da população brasileira tem joanete, que se caracteriza pelo aumento do volume da estrutura que está localizada imediatamente antes do dedão do pé. O joanete habitualmente vem associado com uma deformidade desse dedo, o hálux valgo, patologia que pode propiciar a degeneração da articulação do primeiro dedo do pé, fazendo com que ele se deforme.
Principais Causas
- Doenças degenerativas – como artrite reumatóide e gota
- Hereditariedade- pé plano, herança familiar, frouxidão ligamentar familiar
- Alterações neurológicas – derrame, paralisia cerebral, trauma de coluna (medular).
- Calçados – o uso excessivo de calçados de salto alto e bico fino também podem gerar joanetes e a hereditariedade tem grande influência no aparecimento da doença.
Tratamento
O objetivo do tratamento é sanar a dor, que pode ser conseguida com a modificação do padrão do calçado.
O uso de aparelhos para melhorar o posicionamento dos dedos e palmilhas pode aliviar parcialmente e provisoriamente os sintomas, porém o seu uso não previne e não corrige a deformidade.
Quando a correção é necessária, a única opção é a cirurgia. É importante ressaltar que mesmo após a cirurgia, o joanete pode voltar parcial ou completamente