Pará - O Sebrae vem trabalhando para que os pequenos negócios sejam protagonistas na COP 30. Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO, o presidente nacional do serviço, Décio Lima, fala sobre a sustentabilidade como um valor permanente para quem hoje está à frente dessas empresas, que correspondem a 95% dos negócios do país. Ele explica que o Sebrae tem trabalhado para que esses empreendedores estejam preparados para atender à demanda crescente, com qualidade, identidade regional e compromisso ambiental. Além disso, destaca que a COP impulsiona frentes como inovação em produtos sustentáveis, serviços de baixo impacto ambiental e soluções tecnológicas verdes – tudo isso abre portas para novos mercados e parcerias internacionais.
P De que forma os pequenos negócios podem se tornar referência na sustentabilidade e referência para a COP 30?
R A Amazônia, palco da COP 30, pulsa com a energia de milhares de pequenos negócios que dependem diretamente da floresta e, ao mesmo tempo, são essenciais para a sua preservação. Longe de serem apenas empreendimentos comerciais, já são muitas as iniciativas estruturadas em um modelo de desenvolvimento sustentável, oposto às velhas fórmulas de exploração das riquezas baseadas no desperdício e na poluição, tão prejudiciais aos sistemas naturais. Empresas que trabalham com a coleta e beneficiamento de produtos naturais da floresta, como açaí, castanha-do-brasil, óleos vegetais, insumos medicinais e ingredientes para a indústria de cosméticos estão na vanguarda desse movimento. São pequenos negócios que operam dentro da economia circular, com a reutilização, reparação, reciclagem e recuperação de produtos e materiais. Como os pequenos negócios são a maioria das empresas brasileiras, abrangendo cerca de 95% dos negócios, é preciso que eles já nasçam ou se adaptem rapidamente a este conceito, pois a sustentabilidade é um valor que não tem mais volta, veio para ficar. O país com seus seis biomas – Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa – gera oportunidades para os pequenos negócios do país. O primeiro edital do Inova Cerrado e Pantanal Ideação, por exemplo, alcançou 330 iniciativas. Em 2025, lançamos o Edital de Tração do Inova Cerrado e Pantanal. Recebemos 697 propostas do Cerrado e 264 propostas do Pantanal. A meta é acelerar 300 empresas durante 6 meses.
P Como se dá na prática a relação dos pequenos negócios com os recursos naturais?
R Ao valorizar os recursos naturais da Amazônia de forma responsável, esses negócios geram emprego e renda para as comunidades locais, populações ribeirinhas, quilombolas e indígenas e ao mesmo tempo incentivam a manutenção da floresta em pé e combatem o desmatamento. Esse segmento vive agora uma verdadeira revolução. Impulsionadas por pesquisas científicas de ponta, startups brasileiras estão abrindo novas fronteiras para a bioeconomia, com descobertas inovadoras que oferecem aplicações nunca imaginadas para as riquezas naturais da Amazônia na cura de doenças, na indústria da beleza, na indústria têxtil, entre outros segmentos. Nesse contexto, o Sebrae tornou-se um ator estratégico. Por meio de programas de apoio à inovação, como o Inova Amazônia, estamos contribuindo para levar ao mercado as descobertas que antes estariam confinadas aos laboratórios das universidades. Atualmente, o Inova Amazônia já acelerou 409 empresas e pré-acelerou 660 potenciais negócios em 9 estados diferentes. O Inova Biomas, com abrangência nacional, tem como objetivo fomentar negócios inovadores e soluções sustentáveis dos biomas brasileiros para o mundo. O legado que queremos deixar vai muito além do evento. A COP30 é um marco, mas o que realmente importa é o que ela pode transformar de maneira permanente. Queremos uma nova geração de pequenos negócios, mais conscientes, mais conectados ao seu território, mais preparados para os desafios e oportunidades de uma economia de baixo carbono. É uma oportunidade, pois o evento vai ocorrer no coração da Amazônia, e que vai servir de inspiração na geração de novos negócios sustentáveis em todos os sentidos.
P Além dessas iniciativas, há outras em curso?
R Atuando em várias frentes, o Sebrae tem trabalhado para fortalecer um marco regulatório que incentive a produção e o consumo de produtos e serviços da bioeconomia, garantindo a rastreabilidade, a sustentabilidade e a repartição justa dos benefícios. Temos propiciado também o apoio financeiro e técnico para que essas startups e pequenos negócios do universo da bioeconomia ganhem escala e conquistem mercados no Brasil e no exterior. Ao adotar essas medidas, temos a oportunidade de transformar a Amazônia em um polo de inovação e desenvolvimento sustentável, gerando riqueza para a região, protegendo a floresta e promovendo a inclusão.
P O Brasil vai sediar pela primeira vez uma COP dentro da floresta. Há um significado simbólico no próprio fato em si. O que temos para mostrar ao mundo?
R A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que acontece pela primeira vez na história dentro de uma floresta equatorial, será uma ocasião inédita para o Brasil mostrar ao mundo que é possível conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental e a justiça social. Esta é a hora de agirmos. Governos, empresas e sociedade civil precisam unir forças para garantir que o sonho de um novo modelo de economia deixe de ser apenas uma utopia. Em todo o Brasil, já são mais de 30% de donos de pequenos negócios que afirmam já adotarem práticas relacionadas à economia circular. Nós acreditamos na transição verde e sabemos que o povo brasileiro será um exemplo para o mundo na mitigação da crise climática. Produzindo e consumindo de forma responsável, reduzindo a quantidade de resíduos gerados, aproveitando ao máximo os recursos e minimizando o impacto ambiental, os pequenos negócios são referência nessa nova economia.