Pará

Pará teve mais de 27 toneladas de drogas apreendidas em 4 anos

Combate ao tráfico de drogas é reforçado no Pará. Foto: Divulgação
Combate ao tráfico de drogas é reforçado no Pará. Foto: Divulgação

Carol Menezes

O reforço no combate ao tráfico de entorpecentes tem rendido números cada vez mais positivos às estatísticas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), em 2019, de janeiro a dezembro, foram apreendidos 3,4 toneladas de drogas (cocaína e maconha) em todo o Pará e em 2020, no mesmo período, 10,9 toneladas de entorpecentes.

Em 2021, de janeiro a dezembro, foram dez toneladas do material apreendido. Já em 2022, foram apreendidas mais de 3,2 toneladas de drogas, material esse todo incinerado após procedimentos judiciais.

No dia 18 de janeiro, última quarta-feira, a Polícia Civil do Pará apreendeu, em uma embarcação próximo à Óbidos, no Baixo Amazonas, 1,6 tonelada de droga que estava escondida embaixo de uma carga de 12 toneladas de pirarucu. Três pessoas foram presas e as investigações seguem para encontrar todos os envolvidos no crime.

Coordenador de estudo sobre violência na região Norte, o professor e pesquisador da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Aiala Colares, entre 2019 e 2021 coordenou uma pesquisa sobre o tema desenvolvida em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O resultado desse trabalho foi publicado em junho como parte do anuário da entidade, e divulgado durante a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27). Ele avalia que, apesar dos inegáveis avanços, ainda há um problema muito sério para enfrentar em relação ao tráfico de drogas no estado do Pará, que é justamente a conexão desse tipo de atividade ilícita com outras, a exemplo da exploração e contrabando de madeira, o contrabando de minérios, além de atividades realizadas para a lavagem de dinheiro.

“Essa multiplicidade de relações ocorre em toda a região amazônica e nos últimos anos vem ganhando força econômica, o que exige um esforço de todos os estados da região no enfrentamento ao crime organizado. Minha avaliação é que nos últimos quatro anos as forças de segurança do estado do Pará têm atuado mais efetivamente no combate ao narcotráfico e a quantidade de drogas apreendidas demonstram isso. Mas também chama-se a atenção para o fato de que cada vez mais cocaína e skank atravessam o Pará em direção aos mercados nacionais e internacionais. Isso significa que tem aumentado cada vez mais a pressão das redes ilegais em nosso estado, onde rotas são criadas constantemente obedecendo às estratégias do crime e tentando fugir das fiscalizações da polícia”, atenta Aiala.

 

Pará continental é dificuldade

Para o pesquisador, os desafios são muitos, e ele destaca a dimensão territorial do estado como uma das principais, já que o Pará é área de trânsito praticamente obrigatória para o transporte da cocaína que chega pelos rios, estradas e por aviões de pequeno porte que pousam em pistas de clandestinas e privadas localizadas em fazendas.

“Há ainda o esquema de corrupção de agentes públicos e privados que tiram proveito da articulação dessas redes e isso tem favorecido o surgimento de narcomilícias. As desigualdades sociais temos que também destacar, sobretudo na região do Marajó, que ainda apresenta um baixo IDH e convive com problemas de exploração sexual, tráfico de pessoas e tráfico de drogas. Precisamos urgentemente criar um plano estratégico para essa região”, sugere.

 

Políticas sociais inclusivas são caminho acertado

Ele aponta ainda riscos nas áreas do entorno dos grandes projetos que tiveram um crescimento populacional não acompanhado de estruturas que pudessem atender às demandas sociais que foram criadas, principalmente Altamira, Marabá e Parauapebas, municípios que têm chamado a atenção nos últimos meses em relação aos dados de violência letal. Nesse aspecto, Aiala reforça a importância de o governo garantir a presença do Estado nesse embate, aliando isso à implementação de políticas de promoção social.

Aiala Colares destaca a dimensão territorial do estado como uma das principais, já que o Pará é área de trânsito praticamente obrigatória para o transporte da cocaína que chega pelos rios, estradas e por aviões de pequeno porte que pousam em pistas de clandestinas e privadas localizadas em fazendas. Foto: Divulgação

Aiala Colares incluiu o Pará na rede de observatórios de segurança a partir de seu grupo de pesquisa da Uepa, com o objetivo justamente de comparar dados sobre segurança pública coletados com os dados do governo como forma de orientar na elaboração de políticas públicas.

“Acredito que projetos como o Terrritórios pela Paz (TerPaz) são extremamente importantes para se pensar aquilo que eu chamo de políticas públicas de segurança pública, ou seja, desenvolver atividades que criem uma cultura de paz e de cidadania, bem como de oportunidades. Pensar uma sociedade civilizada pode parecer utopia, mas acho possível quando o Estado anda de mãos dadas com universidade e com sociedade, pois muito pode ser feito a partir dessa relação”.

 

Segurança combate o Pará como corredor da droga

O titular da Segup, Úalame Machado, confirma a questão territorial como uma grande peculiaridade dentro desse combate. Cita que o Brasil é um país com fronteiras imensas, inclusive com os três grandes países produtores de cocaína mundiais: Bolívia, Colômbia e Peru. E mesmo o Pará não estando na fronteira, realmente no limite desse país, acaba sendo uma rota do tráfico não só pela passagem, mas também como ponto de exportação.

Uálame assegura que os números dos últimos anos apresentam muitas toneladas de drogas apreendidas, um número cada vez maior de quantidade resgatada a cada operação em um trabalho feito de forma integrada. Foto: Agência Pará

“O Pará tem um grande corredor da droga, que é o rio Amazonas, a droga que entra pelo estado do Amazonas, por Tabatinga, no Brasil e em Letícia, na Colômbia, e que passa pelo Pará, assim como nas rodovias, a exemplo da Transamazônica. Então o Pará acaba sendo o local por onde a droga necessariamente tem de passar para ser distribuída para o restante do Brasil, é a partir daqui, onde há uma grande malha viária que vai interligar o estado com o restante do Brasil, porque não é possível partir de Manaus, por exemplo. O Pará tem então essa ‘importância’, no sentido de que a partir daqui, que temos as rodovias, pela área terrestre, é a partir daqui também que se consegue ter portos que facilitam a exportação da droga, a exemplo do porto de Vila do Conde, em Barcarena, um dos portos mais próximos tanto da Europa quanto dos EUA, o que tem tornado um atrativo para essa modalidade criminosa”, traça o secretário de Estado.

Em razão disso, as forças de segurança pública estaduais intensificaram o combate ao tráfico. Uálame assegura que os números dos últimos anos apresentam muitas toneladas de drogas apreendidas, um número cada vez maior de quantidade resgatada a cada operação em um trabalho feito de forma integrada, e com articulação grande da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal. Toda essa união foca não apenas na chegada da droga como também na sua exportação nacional e internacional.

 

Mais investimentos e reestruturação das estratégias

“Investimos muito em equipamentos de inteligência e visão noturna, visão termal, na parte fluvial, que é o principal corredor de droga no estado. Hoje temos mais de 80 embarcações do grupamento fluvial, três delas são blindadas, importante para esse combate ao tráfico tendo em vista que esses criminosos utilizam armamento muito pesado. Construímos a base fluvial de Antônio Lemos, em Breves, que tem sido importantíssima não só para o combate aos roubos naquela região, mas também ao tráfico de drogas”, relata.

Uálame Machado antecipa que está sendo iniciado o processo de licitação para a construção de mais duas bases fluviais, uma em Abaetetuba, na entrada do corredor do rio Tocantins, e uma outra em Óbidos, oeste paraense, justamente na entrada de quem vem do rio Amazonas, obrigatoriamente.

“Por isso que a gente pretende colocar essa base em Óbidos, que vai ser realmente fundamental nesse combate. De resto, manter o forte investimento em tecnologia, no efetivo das polícias Civil e Militar, que aumentaram significativamente nesse período, para que a gente pudesse realmente fazer uma presença maior em todo e qualquer local, além dos equipamentos, principalmente os relacionados a tecnologias, e as embarcações, que facilitaram muito e ampliaram muito as nossas ações”, finaliza o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do estado.