Pará

Pará tem 540 mil pessoas que nem estudam, nem trabalham

 Foto: Irene Almeida
Foto: Irene Almeida

Luiza Mello

O Brasil tem quase 10 milhões de pessoas classificadas no grupo que ficou conhecido como “nem-nem”, as que não estudam nem trabalham. Do total de 49 milhões de brasileiros na faixa etária de 15 a 29 anos, 20% não estão matriculados em nenhum tipo de instituição de ensino e não têm nenhuma ocupação, percentual um pouco menor do que o de 2019, quando o número chegou a 22,4%, mas, ainda assim, considerado muito alto.

No Pará esse grupo reúne um total de 540 mil pessoas. Desse total, 456 mil paraenses se identificaram como pretas ou pardas. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Educação 2022, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última semana.

De acordo com o levantamento, cerca de 18,3% dos jovens de 14 a 29 anos não concluíram o ensino médio, seja por abandono ou por nunca terem frequentado a escola. A principal justificativa apontada (40,2%) por pessoas nessa condição e na faixa etária de 15 a 29 anos foi a necessidade de trabalhar, embora nem sempre tenham conseguido uma vaga de emprego.

Esse intervalo (entre 18 e 24 anos) geralmente marca a transição dos estudos para o mercado de trabalho – motivo pelo qual essa faixa etária passou a ser usada na definição da chamada “geração nem-nem”: jovens que não estudam nem trabalham.

Entre os principais motivos por terem abandonado ou nunca frequentado a escola, a gravidez (22,4%) e a necessidade de realizar tarefas domésticas ou cuidar de outras pessoas (10,3%) aparecem com frequência entre as mulheres paraenses.

A geração nem-nem tem se tornado uma preocupação crescente em muitos países, incluindo o Brasil. Essa realidade, que afeta cerca de um em cada cinco jovens brasileiros, revela uma lacuna preocupante no acesso à educação e às oportunidades de emprego, mostra o levantamento Pnad Continua.

O Brasil foi identificado em um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como o 2º país com maior proporção de jovens que não estudam e nem trabalham, com 35,9% dos jovens brasileiros nesta situação.

A falta de engajamento educacional e profissional desses jovens é motivo de preocupação pelos impactos que pode trazer para sua própria vida e para o desenvolvimento da sociedade, avalia o estudo da OCDE. “Ao ficarem fora do ambiente escolar e do mercado de trabalho, esses jovens enfrentam desafios significativos para sua inserção social e econômica. Sem uma educação adequada e sem experiências profissionais, suas perspectivas de futuro são limitadas, o que pode levar a um ciclo de exclusão social e pobreza”, aponta a Organização.

De acordo com o levantamento, cerca de 18,3% dos jovens de 14 a 29 anos não concluíram o ensino médio FOTO: Irene Almeida

OCDE

De acordo com o documento, a média brasileira de jovens sem qualquer tipo de ocupação representa mais do que o dobro da média dos países que integram a OCDE, cujo índice é de 16,6%. O relatório aponta ainda que 18% dos estudantes brasileiros desistem da graduação e 49% só a concluem cerca de três anos após o programado.

De acordo com o economista Ildo Lautharte, responsável pelo trabalho “Prática Global de Educação”, desenvolvido pelo Banco Mundial, o problema da geração nem-nem não é simples e nem de rápida solução. “Mas há uma saída”, garante. “É necessária atenção maior na educação, na saúde, no mercado de trabalho. Enfim, uma ação conjunta, uma cesta de atividades. É o que pode solucionar o problema”.

A ausência de oportunidades para a geração nem-nem reflete a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a educação e a empregabilidade dos jovens. Investimentos em educação de qualidade, programas de capacitação profissional e políticas de inclusão no mercado de trabalho são essenciais para reverter esse quadro preocupante.