Cintia Magno
A eliminação do uso de sacolas plásticas na produção de mudas é capaz de contribuir com uma agricultura e um consumo mais sustentável e, mais do que isso, com a geração de renda para comunidades tradicionais. Esse foi justamente o entendimento que levou um grupo de jovens universitários de Altamira, no sudoeste do Pará, a se mobilizar para desenvolver uma tecnologia voltada para a produção de mudas mais sustentáveis e de baixo custo.
Para que tal trabalho fosse possível, os jovens universitários que estudam no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Altamira, deram vida, em setembro de 2020, ao Eco Xingu, um negócio social que tem como principal produto os eco-tubetes, tecnologia de baixo custo voltada para a produção de mudas.
Líder do projeto Eco Xingu, Karina Quadros lembra que, à época do surgimento do projeto, ainda se vivenciavam períodos mais intensos da pandemia da Covid-19, portanto, ela e outros colegas da UFPA se reuniram de forma online para criar o primeiro projeto, o que se concretizou dentro de apenas uma semana.
“O Eco Xingu faz parte do time Enactus UFPA de Altamira. A Enactus lança todo ano alguns desafios globais que times Enactus do mundo todo podem participar, então, eu engajei o pessoal. Será que a gente não consegue criar um projeto? Não custa nada tentar”, lembra Karina, ao se referir à organização internacional sem fins lucrativos que busca inspirar jovens universitários a transformar vidas por meio da ação empreendedora.
“A Enactus lançou a Race to Rethink Plastic, que é a corrida para repensar o planeta. E a questão do plástico é um problema muito grande, então tentamos criar algo para diminuir a questão do plástico. A gente fez um brainstorm, cada um deu uma ideia e nasceu o Eco Xingu”.
O time que criou o Eco Xingu é formado por muitos estudantes de cursos como Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal e Ciências Agrárias e, a partir das experiências desses estudantes durante a ida a campo, e o contato direto com os produtores rurais, eles perceberam que o plástico descartado incorretamente era um problema.
“Aquele saquinho, em que se produzem mudas é muito efetivo, só que muitas propriedades descartam incorretamente aquele saquinho preto de plástico após o uso. Depois que se rasga aquele saquinho para plantar a muda, ele é jogado no quintal e aquilo gera uma poluição muito grande, causa aumento de emissões de CO2 porque muitos dos produtores reúnem esses saquinhos e queimam, e também tem a questão de que muitas propriedades têm animais, que muitas vezes levam esses resíduos para os igarapés, então, tudo isso gera uma poluição muito grande. Foi aí que a gente pensou em criar algo”.
Outra preocupação dos jovens com a questão do plástico possibilitou o complemento perfeito para o projeto. Percebendo que no principal cartão postal de Altamira, o Rio Xingu, também se encontrava muito plástico descartado irregularmente, sobretudo garrafas PET, os jovens decidiram pensar em uma maneira de reaproveitar essas PETs.
“A gente sabe como a garrafa PET é muito prejudicial se descartada incorretamente e em Altamira a gente tem o nosso cartão postal, que é o Rio Xingu, e a gente vai lá e encontra um monte de plástico jogado, garrafas, sacos, então a gente pensou se não poderia aliar essas duas problemáticas e, quem sabe, fazer uma solução a partir disso?”, lembra Karina. “Então, a gente pensou em reutilizar a garrafa PET, seguindo o princípio da economia circular. A gente tornou a garrafa PET, que as pessoas descartam incorretamente, em um novo produto final”.
Ao fazer adaptações em garrafas PET comuns, o time de jovens criou um produto que nomearam de eco-tubete, tecnologia que possibilita a produção de mudas, eliminando, assim, o uso dos saquinhos plásticos que eram descartados após o primeiro uso. Com isso, há quase três anos o Eco Xingu tem produzido mudas nos eco-tubetes feitos a partir da reutilização de garrafas PET e, mais do que isso, já tem levado a solução para os produtores rurais.
“A gente tem produzido mudas de açaí, de cacau, espécies fortes aqui da região da Transamazônica e Xingu e já validamos com duas comunidades, então, a gente produz mudas e também visitamos as comunidades”, explica a líder do projeto que, atualmente, está com um estoque de mais de cem mudas de açaí para fazer doação. “A gente testou se ia dar certo, se a planta ia conseguir crescer na garrafinha e funcionou. Os produtores rurais também nos deram várias dicas, porque o objetivo é que os produtores realmente usem as mudas nos eco-tubetes, então eles que têm a experiência, a expertise para falar para a gente o que que pode ser melhorado no produto, o que não deu certo. Algumas espécies ainda estão em validação”.
Durante as visitas realizadas aos produtores, os jovens universitários também realizam capacitações para explicar como utilizar os eco-tubetes, além de desenvolver ações de educação ambiental tanto no campo, quanto em Altamira.
“A gente faz algumas ações de coleta de garrafas, alertando a população, porque muito desse plástico chega nos rios. E no campo também, para o produtor não descartar aquele saquinho no quintal e, sim, descartar corretamente, além de explicar como ele deve usar o eco-tubete, porque o eco-tubete oferece um diferencial em relação ao saco”, considera.
“O saco plástico só pode ser utilizado uma vez para produzir mudas porque é preciso rasgá-lo para fazer o plantio. Já o nosso produto, o eco-tubete, pode ser utilizado mais de uma vez. A garrafa PET tem vários anos de vida útil, então, a longo prazo isso vai gerar uma economia para o bolso do produtor. Então, a gente tem capacitado eles sobre como usar o nosso recipiente e sobre como produzir porque o objetivo é que eles utilizem mesmo”.
ECO XINGU
l O Eco Xingu é um negócio social que nasceu de um desafio global que um grupo de estudantes da UFPA de Altamira se engajou para criar uma solução para diminuir o uso do plástico. Para isso, o time tem reutilizado garrafas PET para produzir mudas, utilizando a garrafa adaptada como suporte e condicionamento das mudas, evitando o uso de sacolas plásticas na produção e, consequentemente, gerando menos impacto negativo ao meio ambiente.