Pará

Pará que orgulha e transforma: Sustentabilidade é o combustível que os move

Time Enactus UFPA: estudantes de diferentes cursos da instituição se unem em projetos de transformação da realidade social na Amazônia FOTO: divulgação
Time Enactus UFPA: estudantes de diferentes cursos da instituição se unem em projetos de transformação da realidade social na Amazônia FOTO: divulgação

Cintia Magno

Em comunidades ribeirinhas que dependem do uso de geradores para ter acesso a energia elétrica, a necessidade de recorrer ao diesel convencional para abastecer o equipamento gera um impacto considerável não apenas na vida financeira da população, mas também no meio ambiente. Fruto de uma fonte não renovável, o diesel convencional elimina gases de efeito estufa no ambiente quando queimado, contribuindo com o aquecimento global, mas quando feito a partir de outras fontes, o combustível pode se tornar mais sustentável.

Foi a partir desse entendimento que um grupo de estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificou uma alternativa que pode beneficiar essas comunidades, a possibilidade de produzir biodiesel de baixo custo através do óleo de cozinha residual. Batizado de Biolume, o projeto constitui um dos projetos de empreendedorismo social do time Enactus UFPA, organização formada por estudantes da instituição engajados com a transformação da realidade local. “Por meio do trabalho voluntário desses alunos, procuramos aplicar o conhecimento científico em prol da resolução de problemas e do aproveitamento de oportunidades presentes na nossa região, sempre com intuito de gerar renda e impacto socioambiental positivo em comunidades em situações de vulnerabilidade”, explicam a presidente do Time Enactus UFPA, Heloise Queiroz, e o professor da Faculdade de Administração da UFPA, José Augusto Lacerda.

A estudante e o professor lembram que o Biolume nasceu no âmbito de um hackathon interno do time que tinha como tema ‘Caminhos para a COP 30 e além’. Os participantes do desafio tinham que preparar soluções para alguns dos problemas englobados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo o que trata de energia limpa e acessível.

“Em suma, o seu propósito é utilizar o óleo de cozinha para gerar uma fonte renovável de energia para as comunidades que ainda não estão ligadas ao Sistema Interligado Nacional de energia (SIN), produzindo um biodiesel de custo acessível feito com esse óleo de cozinha residual. Assim, o projeto se revelou como uma inovação capaz de abordar duas problemáticas: a poluição dos rios por esse óleo e a falta de acesso à energia pelas comunidades ribeirinhas”, explicam.

No momento, o projeto está em fase de implementação. Heloise e o professor José Augusto explicam que o Biolume possui um mínimo produto viável (MVP) desenvolvido e em fase de testagem. “Além disso, a iniciativa já estabeleceu contatos e pré-definiu uma comunidade parceira, localizada em Itacuruçá – Abaetetuba. Adicionalmente, já contamos com nove parceiros para o fornecimento do óleo residual e com a parceria do Laboratório de Biossoluções da Amazônia para o desenvolvimento do biodiesel. Com esses resultados prévios, o projeto em breve deve entrar em operação enquanto um negócio social liderado pelo Time Enactus UFPA”.

O time explica que o óleo residual é uma ótima matéria prima para biodiesel, eficiência que é atestada por uma série de pesquisas. Além disso, ele possui um custo de aquisição menor ou até mesmo inexistente, em comparação à matéria prima de outros combustíveis, fazendo com que o produto final tenha um baixo custo.

“Basta considerarmos que o preço do diesel comum que alimenta os geradores é em média R$8,00 nas áreas parceiras, e que o nosso preço estimado é de R$4,50. Com isso, conseguimos ver facilmente que há um impacto financeiro na renda das comunidades, uma vez que a fonte de energia fica muito mais acessível”, consideram.

“Indo além: se considerarmos que há um gasto frequente com o diesel para geradores, logo concluímos que a diminuição de seu custo trará uma economia considerável para essa população. Como procuramos sempre constituir modelos de negócio sustentáveis (sustainabel business models – SBM’s), tentamos impactar um número ainda maior de pessoas, adoentando assim o que batizamos de sistema 7 por 1, isto é, a cada sete litros vendidos, um será doado para a comunidade”.

Por envolver produtos químicos controlados, a produção do biodiesel não poderia ser feita pela própria comunidade. A ideia do projeto é que, ao efetuar esse aproveitamento do óleo de cozinha residual, se aplique na prática diferentes princípios da Economia Circular em prol de diferentes comunidades e territórios da região.

“Desde sua criação, o projeto tem sido reconhecido por diferentes organizações. Já na sua gênese, em uma competição de projetos inovadores apoiada pela Coalizão pelo Impacto, uma organização existente em 6 cidades do Brasil, com foco no fortalecimento de ecossistemas de negócios engajados com aspectos socioambientais – e não só com aspectos financeiros. Graças a essa competição, o projeto passou por uma jornada de mentorias e capacitações desenvolvendo modelos de negócios e plano financeiros, sendo o Biolume o grande ganhador do capital semente oferecido pela organização. Além disso, somos atualmente um dos semifinalistas de um edital da Amanco, em parceria com a Enactus Brasil”.