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PARÁ QUE ORGULHA E TRANSFORMA: Onde se organiza, se transforma

PARÁ QUE ORGULHA E TRANSFORMA: Onde se organiza, se transforma

Cintia Magno

Quando o esforço coletivo se move em busca de uma produção agrícola mais sustentável ou agroecológica, os efeitos causados vão além do alcance fundamental de uma condição de segurança alimentar. Alcançam, também, mudanças na própria forma de organização e empoderamento comunitário, transformando as vidas das comunidades tradicionais que vivem no campo.

O entendimento da agroecologia como um movimento coletivo de transformação foi o que levou ao nascimento, ainda em 1994, da Associação Paraense de Apoio as Comunidades Carentes (APACC). Apesar de ter surgido em Belém, a ONG logo mudou para o município de Cametá e, desde então, desenvolve atividades com comunidades rurais do território do Baixo Tocantins.

“Nesse trabalho a gente faz diversas ações de formação, em vários temas da agricultura familiar, desde o manejo do açaí, da piscicultura, da criação de abelhas, da produção de hortaliças”, explica o coordenador executivo da APACC, Franquismar Marciel. “O nosso principal público são os agricultores e as agricultoras familiares, são eles que a gente quer que melhorem a qualidade de vida. A agroecologia utiliza da mão de obra familiar, a agroecologia faz um formato sustentável de agricultura, ela traz saúde, traz comida de verdade na mesa das pessoas”.

Cumprida a primeira etapa com o processo formativo realizado com as famílias, o trabalho desenvolvido pela ONG também promove a implantação de unidades produtivas agroecológicas que servem como espaços demonstrativos para que as comunidades possam perceber de que maneira é possível, cada vez mais, melhorar os seus sistemas produtivos. “Depois tem todo um processo de assessoria e monitoramento, e a gente faz com que esses agricultores e agricultoras possam ter uma propriedade diversificada, que é uma das lógicas da agroecologia, ter uma diversidade de produtos que te dá a possibilidade de se alimentar melhor e, ao mesmo tempo, fazer um elo com o mercado”, considera.

“Aí entra toda essa ação da agricultura sustentável, no sentido de manter a agricultora, o agricultor e o extrativista no campo, produzindo de forma sustentável, sem degradar o meio ambiente, e gerando melhor renda, gerando segurança alimentar, melhoria geral de qualidade de vida para essas pessoas, dando oportunidade para que os jovens filhos dessas famílias também possam estudar”.

Franquismar explica, ainda, que o trabalho agroecológico desenvolvido também vai além da parte produtiva, visando promover transformações em diferentes níveis de organização dessas comunidades. “Nós temos um trabalho voltado à agroecologia que envolve toda a parte social, educacional, toda essa parte do debate de gênero e empoderamento feminino. Então, o nosso foco agroecológico é muito amplo porque nós acreditamos que agroecologia é tudo isso e, para ela avançar no seu modo de vida, ela tem que ir além do processo produtivo”.

A partir da implantação das unidades produtivas nos territórios, cria-se um local de formações, que são feitas tanto pela própria APACC, como por organizações parceiras envolvidas na chamada Rede Jirau de Agroecologia, uma rede de multiplicadores que, hoje, reúne em torno de 40 organizações, incluindo diversas cooperativas que trabalham com ações de comercialização desses produtos, associações e também algumas entidades do poder público, como é o caso da Adepará, que contribui com o processo de certificação de alguns produtos.

“Então, a gente trabalha todos esses vieses dentro do contexto da agroecologia, no sentido de dar uma agricultura sustentável de forma que eles possam aproveitar também o que eles têm na comunidade, implantar inovações nas suas propriedades e que a partir daí eles possam ter uma melhor qualidade de vida, e que possam, ao mesmo tempo, desenvolver um processo de comercialização desses produtos, gerando recursos financeiros também”, pontua Franquismar. “A partir desse ciclo produtivo, a gente consegue aumentar a capacidade produtiva dos comunitários e, aí, se eles já conseguiram aumentar a qualidade produtiva, se estão se alimentando melhor, vem a possibilidade de comercializar também. É preciso também dar oportunidade dessas pessoas comercializarem esses produtos”.

MERCADO AGROECOLÓGICO

É neste cenário que entram as ações de fortalecimento do empreendedorismo, também foco de atuação da ONG. “Quando a gente trabalha a agroecologia, nos nossos quintais tem produção e isso fortalece o trabalho da mulher enquanto protagonista da sua propriedade, da gestão do seu empreendimento. Então, a gente trabalha toda essa linha de comercialização, que é a parte de mercados institucionais, que é o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e as feiras com produtos agroecológicos que acontecem em alguns municípios do território do Baixo Tocantins, como Limoeiro do Ajuru, Igarapé-Miri, Cametá e agora temos uma Rede de Mulheres Quilombolas em Mocajuba também”, explica a assessora técnica da APACC, Elizeth Marques.

“As feiras são uma forma de a gente mostrar para o poder público o quanto é importante a agricultura familiar se fortalecer, que a agricultura familiar tem a produção e só precisa de um apoio. Além das feiras municipais a gente conseguiu fazer uma formação, articulando parcerias através da Rede Jirau de Agroecologia, e temos as feiras em Belém que acontecem na Praça Eneida de Moraes e é uma forma de organização e mobilização dos agricultores de alguns municípios, unindo forças, para mostrar que a gente tem produção, mas que a gente também tem dificuldades como a falta de transporte para levar esses produtos para Belém”.

Elizeth lembra que a capacidade produtiva da agricultura familiar gera em torno de 75% dos alimentos do país e, não à toa, é capaz de gerar transformações na qualidade de vida tanto das famílias que produzem o alimento, quanto dos consumidores e do planeta como um todo. “A Agroecologia vai como um meio produtivo e de organização que dá a oportunidade de uma relação de confiança entre agricultores, familiares e os consumidores. Agroecologia é transformação”, finaliza.

Fotos: Divulgação