Pará

PARÁ QUE ORGULHA E TRANSFORMA: Em defesa dos rios da Amazônia

PARÁ QUE ORGULHA E TRANSFORMA: Em defesa dos rios da Amazônia

Cintia Magno

Essenciais à manutenção da vida, os recursos hídricos disponíveis no planeta já dão sinais dos efeitos causados pela intervenção humana no meio ambiente. Em diferentes cenários, populações inteiras enfrentam problemas de escassez ou má qualidade da água, mesmo vivendo em um planeta cuja superfície é 70% composta pelo líquido, segundo aponta a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA).

Exatamente por isso, não há como pensar um cenário de transformação social sem se preocupar com a preservação desse recurso fundamental. Foi exatamente isso que um grupo de jovens universitários levou em consideração ao desenvolver um projeto que se ocupasse de diminuir a quantidade de plástico nos rios da Amazônia.

Ainda em 2020, o projeto Anamã nasceu com a missão primeira de interromper o fluxo de plástico nos rios urbanos da Amazônia, por meio do uso de ferramentas de baixo custo, como as ecobarreiras, e da implementação de centros de reciclagem e tecnologias sustentáveis.

Mais do que mudar o cenário dos rios que cortam a cidade, a iniciativa também buscou atuar em conjunto com as comunidades em situação de vulnerabilidade socioeconômica, gerando renda por meio da promoção do mercado de reciclagem em cidades e municípios. Uma transformação que vai além do ambiental, passando essencialmente por mudanças sociais.

Alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 6 (água limpa e saneamento), 12 (consumo e produção responsáveis) e 14 (vida debaixo d’água), o projeto conta, atualmente, com 8 membros voluntários, estudantes de diferentes cursos da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Estudante do curso de publicidade na universidade, Beatriz Araújo é diretora de comunicação do Anamã e conta que o principal produto adotado pelo projeto, hoje, é o sistema de ecobarreira, instalado em conjunto com um ecoponto.

“As ecobarreiras retêm os resíduos antes que cheguem aos oceanos e os ecopontos são para descartes de resíduos domésticos e auxílio em ações de educação ambiental em comunidades e escolas. Todos são produzidos por Tubos e Conexões de PVC, com parceria da Amanco Wavin, no qual fomos campeões por 2 anos do Prêmio Inovação Social Amanco Wavin, que premia iniciativas que utilizam o plástico de maneira inovadora com o objetivo de ajudar comunidades vulneráveis e proteger o meio ambiente”, explica.

Atualmente, o projeto atua em rios do distrito de Icoaraci, em Belém, e do município de Bujaru, mas Beatriz destaca que a ideia é expandir a instalação das ecobarreiras para todos os rios do Pará. Durante o tempo em que o Anamã já está em atuação, os efeitos gerados pela instalação das barreiras de baixo custo são evidentes.

“Desde a instalação de nossas ecobarreiras conseguimos tirar dos rios 312,95KG de resíduos não descartados, já impactamos mais de 185.3K de pessoas com nosso sistema”, relata. “Isso é muito gratificante para gente, uma ideia tão pequena se tornar algo tão grande e necessária para a população. É isso que a gente quer, que o Anamã cresça e consiga impactar mais pessoas, com as nossas instalações e ações de educação ambiental e limpeza das praias”.

Além da instalação das ecobarreiras e ecopontos de coleta, o projeto também desenvolve ações pontuais de limpeza de praias e canais da cidade, como a ação Anamã na Praia, que já promoveu mutirões de limpeza voluntária em praias do distrito de Icoaraci. Apenas em uma edição, realizada na Praia do Cruzeiro, as 15 pessoas participantes do mutirão conseguiram recolher 6 kg de resíduos descartados irregularmente, incluindo garrafas Pet, tampas de metal, bitucas de cigarro, embalagens de plástico, pedaços de isopor, variados tipos de plástico de alta e baixa densidade, entre outros materiais.

Mais do que limpar pontualmente os rios, a ação tem como objetivo principal promover a conscientização e a educação ambiental.

Desde que foi iniciado, todo esse trabalho conjunto já foi reconhecido por diferentes premiações, incluindo competições internacionais e nacionais de empreendedorismo, que possibilitaram recursos para que os jovens pudessem investir em aprimoramento técnico, tanto para o desenvolvimento de novos protótipos das soluções inovadoras, como também investimento no estudo que possam aprimorar os impactos das soluções desenvolvidas. “Para mim, o projeto tem a importância de transformar vidas.

Através dele eu consigo ver de perto o resultado incrível que transforma realidades das comunidades por meio das ações de educação ambiental e conscientização do descarte irregular de lixo. Me faz ter certeza de que o empreendedorismo social é a esperança que precisamos para construir um mundo melhor”, finaliza Beatriz.

ENTENDA

Ecobarreiras

São barreiras ecológicas de baixo custo, feitas com fios de PET e canos de tubulação, montadas e instaladas pelo Anamã em canais e rios urbanos.

Elas impedem que o plástico jogado nos rios e canais chegue aos oceanos.

A implantação do sistema impacta positivamente a qualidade de vida das pessoas que vivem às margens dos rios urbanos e, indiretamente, de toda a população.

Ecopontos

São pontos de coleta de resíduos, feitos com tubulações, também montados e instalados pelo Anamã próximos às ecobarreiras, ao longo dos canais da cidade.

Eles concentram os resíduos recicláveis, facilitando o trabalho das cooperativas.

Fonte: Com informações do perfil @oanama_ no Instagram.

EM NÚMEROS

312,95 Kg

de resíduos foram evitados de ir parar irregularmente dos rios urbanos através da instalação das ecobarreiras desenvolvidas pelo projeto Anamã, instaladas em Icoaraci e no município de Bujaru.

185 mil

Pessoas já foram impactadas positivamente pelo projeto.

O projeto Anamã desenvolve ações para limpeza de praias do Estado com a participação de estudantes e voluntários FOTOs: Beatriz Araújo