Cintia Magno
No ambiente marcado pela presença viva da natureza, as lições sobre o funcionamento das florestas e a sua importância para a própria manutenção da vida na terra são apresentados de forma interativa e lúdica. É dentro de uma reserva florestal que atores voluntários dão vida aos icônicos personagens que compõem o ‘Teatro de Floresta’, uma tecnologia social de educação ambiental desenvolvida pelo Instituto Amigos da Floresta Amazônica (Asflora) para acolher estudantes de escolas públicas e privadas de todo o Estado.
No prédio do instituto, instalado nas dependências da Escola Estadual Agroindustrial Juscelino Kubitschek, em Marituba, são planejadas todas as atividades desenvolvidas pela organização não governamental, incluindo o ‘Teatro de Floresta’, que é apenas um dentre tantos projetos voltados para a educação ambiental desenvolvidos pelo instituto.
Diretora de Comunicação e Social do Asflora, Josiane Mattos explica que todo mundo que faz parte da instituição, hoje, é ou já fez parte do teatro. “Quando eu entrei no Asflora eu era uma estudante de gestão ambiental e eu me encontrei nessa profissão porque eu já tinha a vivência de ter sido criada na roça, fazendo farinha. Então, quando eu vim para o Asflora para trabalhar com o Sistema Miyawaki [método de recuperação da vegetação natural de áreas degradadas que leva o nome de seu criador, o botânico japonês Akira Miyawaki] eu me apaixonei, só que para eu ir para o sistema eu precisava participar do teatro, então, eu fui a árvore e a mudinha”.
Josiane explica que através de elementos da floresta, como a árvore, a muda de planta e a mãe natureza, e de personagens do próprio folclore paraense, como o Curupira e a Matinta Perera, o teatro percorre uma trilha dentro da floresta apontando para as crianças ensinamentos como impactos ambientais, a necessidade de redução e reaproveitamento dos resíduos sólidos, os ciclos de vida, o fenômeno da dispersão das sementes pela floresta, a importância da polinização realizada pelas abelhas, entre outros temas ligados à educação ambiental.
Josiane conta que o encantamento das crianças que participam da atividade é tanta que não é incomum que, já no meio da trilha, elas também passem a interagir com os personagens do teatro para ajudar a proteger a mãe natureza. “O papel da Matinta no teatro, que inclusive é interpretado por uma especialista em resíduos sólidos, é explicar sobre a questão do resíduo sólido. Já a abelhinha vai explicando a importância da polinização no meio ambiente. O curupira chega no meio da trilha para dar um susto e vem brigando com a Mãe Natureza porque ela deixou aquele pessoal entrar na mata, então, a gente vai se atualizando conforme os anos vão passando”, exemplifica.
“A gente observa pela própria linguagem corporal como as crianças ficam presas na história. A gente sempre atendeu escolas públicas e privadas, de forma gratuita, e depois o teatro começou a sair para outros locais. Hoje, o projeto continua dentro do Estado. As escolas fazem contato com a gente demandando o teatro e a gente vai”.
O trabalho desenvolvido pelo Asflora e seus voluntários do teatro, todos atores amadores, busca promover a educação ambiental para além da sala de aula, de forma prática e integrada à própria natureza. Pelo impacto positivo causado pelo teatro, o projeto já foi contemplado, inclusive, com o selo de certificação de tecnologia social na 10 ª edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, que premia instituições sem fins lucrativos que apresentem iniciativas e projetos que desenvolvem algum tipo de beneficiamento social inovador, que possa fazer a diferença e ser reaplicado em qualquer lugar do Brasil.
“Não adianta a criança apenas ir para a escola, sentar e aprender português, matemática, química no quadro. A gente tem que trazer o aluno para a vivência prática, para quando ele sair da sala de aula ele poder aplicar na vida dele, no mercado de trabalho”, considera Josiane Mattos.
Apesar do reconhecimento e da grandiosidade do projeto, as ações desenvolvidas pelo Asflora voltadas para a educação ambiental vão além do Teatro de Floresta. Dentro das dependências da Escola Juscelino Kubitschek, o instituto mantém uma área de recuperação criada a partir do modelo Miyawaki, além de uma área de plantio baseado no Sistema Agroflorestal (SAF), um horto e até mesmo uma criação de abelhas sem ferrão para ajudar na polinização das plantas e, claro, na conscientização das crianças sobre a importância do serviço prestado por esses animais.
“Aqui dentro da escola nós cuidamos de dois viveiros que a gente produz anualmente, em cada viveiro, 10 mil mudas de espécies florestais, frutíferas, plantas medicinais e ornamentais. Com isso, surgiu a importância de a gente resgatar a questão dos chás e ervas medicinais, então, a gente montou um horto com plantas medicinais para trabalhar a educação ambiental e imaginamos também criar abelhas sem ferrão e conseguimos”, conta Josiane.
Além dos próprios alunos da escola Juscelino Kubitschek e demais escolas que buscam o Asflora, o instituto também recebe alunos da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) para estágios.
Através do Sistema Agroflorestal plantado nas dependências da escola com o intuito de ser uma ferramenta de ensino, o instituto também atua na formação de agentes ambientais. A coordenadora de Educação Ambiental do Asflora, Isabelle Botelho, conta que já foram formadas quatro turmas.
“Quando os alunos chegam a gente percebe que eles têm muita dificuldade nessa questão da escrita, da leitura, da pesquisa e a gente tenta ir mitigando essas coisas”, explica, ao contar que as ações de educação vão além da questão ambiental, mais especificamente, abarcando também outros saberes que serão importantes para o futuro profissional dos estudantes. “Eles ficam aqui com a gente por seis meses, que é o período do estágio dos agentes ambientais, e quando eles saem eles já conseguem escrever qualquer coisa. O Asflora tem uma pessoa só para ensinar os meninos a escreverem artigos e relatórios”.
Quando finalizam o período do estágio, Isabelle conta que os jovens que fazem parte da formação de agentes ambientais precisam elaborar um trabalho de conclusão do estágio, justamente porque, no futuro, quando eles forem fazer uma faculdade, terão que fazer um Trabalho de Conclusão de Curso. Com isso, a expectativa é que os jovens possam sair de lá, após o ensino médio, preparados para seguir com a vida educacional ou mesmo acessar o mercado de trabalho, e entendendo o seu papel dentro do meio ambiente.
SOBRE O INSTITUTO
l O Instituto Amigos da Floresta Amazônica (Asflora), criado em 2000, é uma entidade civil, de caráter técnico, científico e beneficente, sem fins lucrativos que tem como missão: educar, preservar, reflorestar e promover o intercâmbio de informações, tendo como princípio o desenvolvimento sustentável da região amazônica em suas dimensões ambientais, culturais, sociais e econômicas.
l Desse modo, ao longo dos anos, o instituto tem desenvolvido ações de educação ambiental e, entre elas, está o ‘Teatro de Floresta’. O projeto surgiu no ano de 2004 como fruto da preocupação do instituto em educar ambientalmente crianças e adolescentes através da experiência lúdica do teatro. Acredita-se que o indivíduo que, quando criança, teve contato com as lições transmitidas pelo ‘Teatro de Floresta’ pode ser encarado como um possível agente multiplicador ambiental.
Fonte: Asflora.