Pará

Para os ciclistas, cidades avançam, mas ainda guardam muitos perigos

Nesta segunda-feira (19), é celebrado o dia de quem anda pelas ruas em duas rodas a trabalho ou lazer e precisa enfrentar um trânsito agressivo. Segundo pesquisa, houve aumento de internações por acidentes com bicicletas
Nesta segunda-feira (19), é celebrado o dia de quem anda pelas ruas em duas rodas a trabalho ou lazer e precisa enfrentar um trânsito agressivo. Segundo pesquisa, houve aumento de internações por acidentes com bicicletas. Foto: Antonio Melo

O Dia Nacional do Ciclista é celebrado nesta segunda-feira (19). A data carrega um ato simbólico em homenagem ao biólogo Pedro Davison, morto aos 25 anos de idade após ser atropelado por um carro sob direção de motorista bêbado com CNH vencida. O ano era 2006 e o jovem ciclista pedalava em Brasília. O motorista alcoolizado fugiu sem prestar socorro. “Pedrinho”, como era conhecido, enxergava a bicicleta como um símbolo de liberdade e objeto de relação para o futuro entre pessoas e mobilidade. Dezoito anos após a morte de Pedro Davison, a situação dos ciclistas continua sendo de medo nas ruas.

De acordo com a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), a partir de dados compilados do Ministério da Saúde, as internações envolvendo ciclistas aumentaram em 3% no SUS quando comparados os anos de 2022 e 2023. No ano passado foram registradas 15.573 internações em todo o Brasil; já em 2022 o número total registrado foi de 15.101. Quanto ao número de óbitos, conforme o último dado disponível pela Abramet, o total é 12.058 ciclistas que perderam a vida no ano de 2022.

Segundo a Prefeitura de Belém, por meio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), até julho deste ano, a malha cicloviária de Belém é de 163 quilômetros de extensão, que englobam ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. Para a integrante do coletivo ParáCiclo e diretora da União de Ciclistas do Brasil, Ruth Costa, houve um aumento significativo no número de ciclistas em Belém, mas a cidade segue sem o olhar necessário para este modelo de deslocamento. “É um transporte que contribui para a saúde das pessoas e é mais sustentável. A bicicleta e a mobilidade ativa em geral são instrumentos de mitigação da crise climática e precisam ser vistos como tal, e incentivados pelo poder público, com políticas públicas”.

Ruth ressalta, também, que é preciso ter campanhas educativas, melhor infraestrutura cicloviária e respeito por parte dos condutores de veículos motorizados, como carros e motocicletas, para que a gestão pública tenha um olhar mais responsável sobre os ciclistas na capital paraense. “Temos tentado pautar a importância da mobilidade ativa e sustentável principalmente para a população pobre e periférica e fazer contato com o poder público para que isso seja levado em consideração no planejamento das cidades”, destaca Ruth sobre o trabalho do coletivo ParáCiclo.

Entre segunda-feira (19) e sexta-feira (23), o ParáCiclo participa da 4ª Edição da Pesquisa Nacional Perfil Ciclista Brasileiro para, a partir destes dados, subsidiar políticas públicas voltadas à mobilidade urbana. A abordagem aos ciclistas será realizada ao longo da avenida Augusto Montenegro. O levantamento será feito por um grupo de pesquisadores que mapeiam pontos estratégicos que possuem grande fluxo de ciclistas. A análise dos dados coletados vai contribuir com a compreensão dos desafios e caminhos possíveis para incremento da mobilidade urbana por bicicletas.

DESAFIOS

O Diário ouviu os ciclistas nas ruas de Belém e a reclamação unânime foi a falta de respeito dos motoristas de carros e motos. A aposentada Darlene Capeloni, 67 anos, gosta de utilizar a bicicleta como transporte e exercício para deixar a saúde em dia. Porém, andar com a bike pela cidade é um desafio para a ciclista. Diariamente, a Darlene tem o caminho cruzado com motocicletas e carros nas ciclofaixas, um risco que deixa a aposentada apreensiva quanto a mobilidade em Belém. “É um desrespeito total. Não temos segurança. Quando a gente vê, tem uma moto ou outro tipo de veículo quase atropelando a gente. Falta fiscalização”, denuncia Darlene.

Dois meses atrás, na Rodovia Arthur Bernardes, Landoaldo Veloso, autônomo de 50 anos, passou por uma situação desesperadora sobre as duas rodas. Landoaldo utilizava a bicicleta para ir ao trabalho quando foi atingido por um carro. Com a queda, ele teve ferimentos entre o lábio superior e o nariz e na parte interna da boca. “Eu poderia ter perdido a vida. Fiquei com uma marca que está escondida sob o bigode. Desde então, preciso ficar mais atento porque o desrespeito com o ciclista é muito grande. Temos que fazer malabarismos para não ser atingidos por carros e motos”.

Também autônomo, Miguel Santana, 61, considera que o perigo está maior para os ciclistas em Belém “por ter aumentado a quantidade de veículos na cidade”. Uma das reclamações de Miguel é carros ocupando irregularmente as ciclofaixas, o que obriga os ciclistas a realizar manobras perigosas pela rua para seguir no caminho. “A meu ver tem muito carro. Isso acaba refletindo em maior perigo pra gente que usa a bicicleta. Muitos motoristas são agressivos e imprudentes. É tudo questão de educação no trânsito e fiscalização, que precisam melhorar”, confessa o ciclista sobre a rotina nas ruas de Belém.