Pará

Pará inicia vigilância epidemiológica para prevenir a Febre de Oropouche

O principal vetor no ciclo urbano é o mosquito Culicoides paraensis (Ceratopogonidae), conhecido popularmente como maruim. Foto: divulgação
O principal vetor no ciclo urbano é o mosquito Culicoides paraensis (Ceratopogonidae), conhecido popularmente como maruim. Foto: divulgação

O Pará é o primeiro estado brasileiro a implantar oficialmente a Vigilância Epidemiológica da Febre de Oroupoche, doença causada pelo vírus de mesmo nome, transmitida pelo mosquito conhecido como maruim. A informação foi divulgada, nesta terça-feira (27), pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
A implantação foi aprovada no dia 8 de fevereiro, pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que reúne gestores da Sespa e das secretarias Municipais de Saúde. É a CIB que aprova todas as Políticas de Saúde e as pactuações entre gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) no Pará.
Para a secretária de Estado de Saúde Pública, Ivete Vaz, esse é mais um avanço nas ações de Vigilância em Saúde no Pará. “É muito importante que os serviços de saúde estejam preparados para identificar e notificar os casos de oropouche, para que as ações de controle ocorram em tempo hábil e a população paraense seja atendida de forma adequada”, afirmou.

O vírus

O Vírus Oropouche (Orov) é um arbovírus que circula na América Central (Panamá e Trinidad e Tobago) e América do Sul (Brasil e Peru), tendo causado mais de 30 epidemias e mais de meio milhão de casos clínicos da doença, a maioria no Brasil, desde sua descoberta nos anos 1960.
Conforme estudos científicos, o Pará é o estado com maiores evidências da presença do Orov, estando presente em 39 (27,08%) dos 144 municípios, incidência muito maior que no Amazonas, por exemplo, que está enfrentando uma grande onda da doença. Daí a importância de o governo do Estado, por meio da Sespa, priorizar a vigilância desse arbovírus em território paraense.

Incidência

Segundo a diretora do Departamento de Controle de Endemias, Adriana Tapajós, nos anos de 2021 e 2022 o Instituto Evandro Chagas detectou 121 casos positivos, com detecção de anticorpo da classe IgM para o Orov, indicativo de infecção recente pelo vírus.
Os pacientes eram provenientes de municípios dos estados do Amazonas, Amapá, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e Tocantins. Foi ainda detectada por RT-qPCR uma amostra positiva para Orov em Teresina, capital do Piauí. “Esses dados comprovam a circulação recente desse vírus nesses estados, mas ainda não temos casos confirmados este ano”, ressaltou Adriana Tapajós.
Dessa forma, o objetivo da nova Vigilância é dar maior atenção e direcionamento aos casos suspeitos e passíveis de diagnóstico diferencial para Oropouche, com processos alinhados e em complemento à Vigilância das outras arboviroses, em benefício da saúde da população.

Procedimentos

Na prática, como já ocorre com os casos suspeitos de dengue, zika e chikungunya, os serviços de Saúde vão precisar preencher a ficha de notificação da doença, iniciar investigação, notificar imediatamente a Coordenação Estadual de Arboviroses e o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), e encaminhar a ficha de notificação e investigação.
Também devem colher amostras para diagnóstico e encaminhar ao Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen), para os testes sorológicos e/ou de biologia molecular; realizar a busca ativa de casos suspeitos e epizootias de primata não humano nos locais de provável infecção, e informar, educar e comunicar os moradores da região afetada sobre a doença, sinais e sintomas, além das unidades de saúde para atendimento e as medidas de prevenção. O diagnóstico precoce também é fundamental para identificar casos e desenvolver as ações de controle da doença.

Transmissão

O principal vetor no ciclo urbano é o mosquito Culicoides paraensis (Ceratopogonidae), conhecido popularmente como maruim, mas também pode ser transmitido pelo mosquito Culex quinquefasciatus, o carapanã comum. Já no ciclo silvestre, diversos mosquitos do gênero Culicoides, e das espécies Coquillettidia venezuelensis, Culex quinquefasciatus e Ae. Serratus, juntamente com seus hospedeiros vertebrados (humanos, aves, preguiças e macacos), garantem a manutenção do vírus na natureza.

Sinais e sintomas

Os principais sinais e sintomas da febre de Oropouche são quadro febril agudo, dor de cabeça, dor nas articulações e músculos, fotofobia e outras manifestações sistêmicas. Alguns pacientes raramente podem apresentar manifestações neurológicas.
Conforme Adriana Tapajós, a fase aguda da doença geralmente varia de dois a sete dias. “Em alguns casos, os sintomas costumam reaparecer entre dois e dez dias após o término do primeiro episódio febril. No entanto, os sintomas geralmente são menos graves, e os pacientes se recuperam completamente sem sequelas, mesmo em casos graves”, ressaltou.

Prevenção

De acordo com a coordenadora de Entomologia, Bárbara Almeida, a vigilância de vetores para arbovírus ainda é uma das medidas mais eficazes para identificar e evitar possíveis surtos de doenças transmitidas por insetos, sendo a vigilância entomológica uma ferramenta importante neste processo.
Quanto às medidas que podem ser adotadas pela população para controle da proliferação dos mosquitos, Bárbara Almeida apontou a limpeza de terrenos, quintais e outros ambientes que possam contribuir para a proliferação do vetor, manejo ambiental e proteções individuais, como uso de repelente.

Serviço: Para solicitar orientações e denunciar existência de possíveis criadouros de mosquito, a população deve procurar a Secretaria Municipal de Saúde.