Luiza Mello
Em 143 dos 144 municípios paraenses estão em circulação mais motocicletas do que carros. Somente Belém registra um número maior de automóveis: 245.769 contra 147.260 motos. A frota total registrada pelo sistema Renavam no Pará é de 2.478.988 veículos, sendo 1.285.165 composta por motocicletas e motonetas, ou mais de 51% do total dos meios de transporte da população paraense. Com toda essa circulação de veículos automotores de duas rodas, o Estado registrou 5,9 óbitos de motociclistas por 100 mil habitantes e um total 7,2 internados por 10 mil habitantes, dados que estão acima da média nacional. Os dados são de dezembro de 2022 pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) que considera além dos carros, caminhões, tratores, caminhonetes entre outros.
Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde mostra que o Pará está entre as 10 unidades federativas com o maior número de internações nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) e de conveniados, como nas Santas Casas e em unidades de saúde filantrópicas. Em todo o país, lesões causadas por acidentes de motocicletas foram responsáveis, em 2020, por mais de 190 mil internações. Em relação à mortalidade foi a primeira causa na faixa de 5 a 14 anos, e a segunda nas faixas de 15 a 39 anos, no total de 32.716 óbitos, destes 36,7% eram motociclistas.
Maria del Carmem Bisi Molina, diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças não Transmissíveis, órgão responsável pela divulgação do boletim epidemiológico que apresentou o cenário brasileiro das lesões de motociclistas no trânsito entre 2011 e 2021, explica que o maior custo desses acidentes são as vidas que se perdem e os impactos que tais incidentes geram na rede de saúde.
CUSTOS
Os motociclistas são envolvidos em lesões de trânsito com consequências mais graves. O custo desses acidentes com condutores de motocicletas para a sociedade gira em torno de R$ 50 bilhões por ano, sendo que a maior parte deste custo é relativo à perda de produção das vítimas, além dos custos hospitalares.
O maior valor estimado é referente à perda de produção das pessoas (41,2%), causando o empobrecimento das famílias. Em caso de morte, os custos recaem sobre a previdência social. “Outro aspecto a ser considerado é o uso das motocicletas como meio de transporte para o trabalho ou como equipamento de trabalho, como nos serviços de entrega. Assim, diversos acidentes com motociclistas podem ser considerados acidentes de trabalho típicos”, acrescenta a diretora.
Os números do Sistema de Informação de Agravo e Notificações (Sinan) do Ministério da Saúde mostram que os motociclistas são também os que mais morrem em acidentes de transporte relacionados ao trabalho. E as mortes em acidentes com motos representam 21,2% (3.296 registros) dos 15.511 acidentes de trabalho fatais registrados entre os anos de 2011 e 2020.
Dados do Observatório de Segurança e Saúde revelam que os entregadores por aplicativo que usam motocicletas para trabalhar estão entre as maiores vítimas de acidentes de trabalho no Brasil. Ao longo do ano passado foram 24.642 acidentes envolvendo esses profissionais. Esse resultado se reflete no aumento do número de mortes em geral de trabalhadores e trabalhadoras no país. Em 2022 foram quase 613 mil acidentes de trabalho em diversas áreas, provocando a morte de 2.500 pessoas – 7% a mais que em 2021.
O Observatório mostra que houve aumento no número de acidentes de trabalho no Pará em 2022 após queda nos dois últimos anos. Foram 63 óbitos de trabalhadores paraenses resultantes de atividades laborais no período, entre eles os entregadores e motociclistas em geral. O levantamento é realizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A taxa de mortalidade de condutores de motocicletas no Brasil é de 5,8 por 100 mil habitantes, segundo dados divulgados pelo boletim. “Entretanto observa-se um aumento da taxa de internações no mesmo período, em 55%, considerando apenas a rede do SUS e conveniados. Em 2011, a taxa de internação de motociclistas foi de 3,9 e passou para 6,1 por 10 mil habitantes em 2021, com custo de 167 milhões de reais, apenas neste ano”, conclui o levantamento.
CAUSAS
ACIDENTES
l O Boletim Epidemiológico aponta que as principais causas são o não uso de capacete, direção sob o efeito de álcool, excesso de velocidade, alta aceleração, idade/inexperiência dos usuários, erros de frenagem, uso de drogas (que não o álcool, ou associadas), mudança de faixa ou condução em “ziguezague”, competição, direção agressiva e não se fazer visível.