Carol Menezes
O Pará repetiu, no primeiro semestre de 2022, um feito alcançado também no mesmo período em 2021: a liderança na geração de empregos com carteira assinada entre mulheres no Norte. São mais de 30% do total de 31 mil novos postos de trabalho ocupados por elas, o melhor percentual de toda a região.
De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA) divulgados esta semana, muito embora o quantitativo de empregos formais criados tenha caído de um modo geral entre um ano e outro em todo o Brasil, o estado segue na frente no número de pessoas do sexo feminino com CLT. Dos 31.038 postos criados nestes primeiros seis meses de 2022, 20.936 foram de homens contratados, e o restante 10.102 postos de trabalhos femininos, ou seja, cerca de 32% dos postos de trabalhos gerados este ano no Pará foram femininos.
De janeiro a julho de 2021 o saldo total de empregos no Pará foi de 52.596 postos de trabalho, e deste total, 36.263 foram postos de trabalhos masculinos e o restante 16.333, ou 31%, foram de contratações entre mulheres. Mesmo com a queda, motivada principalmente pelo aumento dos custos relacionados à inflação e outras altas, o Pará segue conseguindo manter o destaque na geração do emprego formal.
“Quando se vê a quantidade de empregos gerados sair de 52 mil para 31 mil, uma tendência que foi não só do Pará, mas de todos os estados do país, pode-se entender que isso tem a ver com o alto custo econômico de matéria prima, dos combustíveis, e de outros insumos que impossibilitam maior expansão”, justifica o economista e técnico do Dieese/PA, Everson Costa.
Ele complementa que há um contexto econômico de custos, uma série de aumentos para o trabalhador e também para o segmento privado. “Preços de bens, produtos e serviços subiram muito. Temos uma inflação de dois dígitos. No ano passado, o contexto inflacionário e de custo era outro. Mas mesmo neste contexto não tão favorável, nós seguimos gerando postos de trabalho, e liderando no Norte, inclusive entre mulheres empregadas”, detalha.
SETORES
Ao mesmo tempo, Everson destaca que a presença feminina hoje está em todos os setores da economia, inclusive os que antes eram restritos a homens, como é o caso da construção civil. “Isso reforça que a participação das mulheres vêm numa crescente, embora ainda enfrente dificuldades, resistência, preconceito, diferenças de salário, e ainda careça certamente de políticas públicas, de formatos e leis que possam lidar com essa realidade que inclui mulheres”, avalia o economista.
Primeira de sua função nas obras do novo Estádio do Mangueirão, em Belém, a rejunteira Ijaneide Ferreira, de 35 anos, está há cerca de quatro meses trabalhando pela primeira vez na vida com carteira assinada. Ela já trabalhava informalmente na área há pelo menos três anos, mas nunca em nada grande como é a obra do complexo. Casada e mãe de quatro filhos, ela conseguiu o cargo por indicação do cunhado, que também trabalha na obra.
“Eu aprendi esse trabalho que eu faço construindo a minha própria casa, e fiz outros trabalhos pequenos. Confesso que tinha muita vontade de trabalhar com assinatura em carteira, mas faltava oportunidade. O mercado, embora seja grande, é bem mais difícil para mulheres, e concorrido”, admite Ijaneide.
Ela também conta que entrar em um ambiente de trabalho predominantemente masculino foi desafiador no início. “Leva um tempo para se adaptar, para as duas partes, mas há respeito da grande maioria, e também muita admiração”, revela a rejunteira.