Pará

Pais influenciadores contam suas rotinas nas redes sociais

A ideia inicial que levou o servidor público Paulo Henrique Gaia a criar um perfil nas redes sociais que falasse sobre a sua paternidade foi guardar memórias sobre as experiências vivenciadas com as filhas Antonella e Ana Clara.
A ideia inicial que levou o servidor público Paulo Henrique Gaia a criar um perfil nas redes sociais que falasse sobre a sua paternidade foi guardar memórias sobre as experiências vivenciadas com as filhas Antonella e Ana Clara.

Cintia Magno

Em diferentes redes sociais, um assunto tem sido cada vez mais presente nas discussões levantadas por perfis das diversas regiões do país, o da paternidade. Além de falar sobre a própria rotina com os filhos, os pais por trás dessas contas buscam trocar experiências e discutir questões como paternidade ativa e paternidade consciente.

No dia dedicado a homenagear todos eles, o DIÁRIO conversou com pais influenciadores de diferentes Estados para falar sobre a relação deles com os filhos e o que os motiva a produzir tais conteúdos.

A ideia inicial que levou o servidor público Paulo Henrique Gaia a criar um perfil nas redes sociais que falasse sobre a sua paternidade foi guardar memórias sobre as experiências vivenciadas com as filhas Antonella e Ana Clara. A partir do conteúdo compartilhado, porém, ele viu crescer o interesse das pessoas, dando origem ao @opaidadupla.

“A ideia inicial era apenas guardar memórias para que no futuro as meninas pudessem ver e recordar, independente do tempo que passasse, entretanto, a rotina de um pai extremamente ativo chamou bastante atenção das pessoas e as coisas tomaram outra proporção”.

A repercussão gerada acabou levando Paulo Henrique ao contato com outros pais que, assim como ele, tinham interesse em trocar experiências sobre a paternidade. Dessa forma, do Estado do Pará, ele pode se conectar com pais de todos os cantos do Brasil e até mesmo do exterior, participando de conferências, lives e debates que envolvem o tema.

“Poder dividir as telas com pessoas como Marcos Piangers e Andressa Reis, que são referência no mundo paterno e materno, com toda certeza é uma honra. Trocar experiências com tantos outros pais, alguns especialistas comportamentais, outros em parentalidade e por aí vai”, avalia.

“Há tempos atrás eu diria que um movimento como esse era praticamente impossível de existir, por N fatores tais como preconceitos bobos, “de que cuidar de filho é coisa de mãe ou mulherzinha”. É mais um sinal de que é possível equilibramos as coisas e termos mais homens assumindo sua paternidade de forma ativa”.

Ainda que criar e educar filhos esteja longe de ser uma tarefa simples, Paulo não encontra outra palavra para descrever a experiência que não ‘maravilhosa’. Ele aponta que são três anos de diferença entre a filha mais velha, Antonella, com oito anos, e a caçula, a Ana Clara, de cinco anos. E, naturalmente, as vivências tidas com cada uma são diferentes.

Ainda que criar e educar filhos esteja longe de ser uma tarefa simples, Paulo não encontra outra palavra para descrever a experiência que não ‘maravilhosa’. Foto: Octavio Cardoso / Diário do Pará.

“Minhas filhas são de mães de diferentes, entretanto, estou diariamente com as duas, não somente por isso, elas possuem temperamentos bem opostos. Ana Clara vive a vida elétrica, no 220 o tempo todo, superinteligente, comunicativa. Antonella já é mais calma, sempre doce com todo mundo e está sempre envolvida em eventos que tenham dança”, conta, ao falar também sobre como vê a paternidade.

“O paternar não é modinha, não é só na rede social. Ser pai vai além disso: é na madrugada quando você precisa acordar e trocar uma fralda, ou quando passou o dia trabalhando mas tem que ir pra urgência e só conseguir chegar em casa de madrugada porque sua filha não tá bem. Hoje as pessoas já me veem de forma mais normal, mas antes era como se eu fosse um super-herói e estivesse fazendo algo incrível, só por estar levando minhas filhas sozinho ao pediatra, cuidando delas sozinho, fazendo um penteado diferente e arrumando pra irmos passear”.

Parte da rotina mantida com o filho Vicente também é compartilhada pelo professor Marcos Braga nas redes sociais. Ele lembra que assim que sua esposa deu a notícia de que ele se tornaria pai, foi tomado por um turbilhão de sentimentos, mas um em especial acabou prevalecendo.

“Eu estava feliz e toda essa felicidade fez a chave virar na minha cabeça para essa realidade maravilhosa que iríamos viver. O Vicente é uma criança muito ativa e desafiadora. A cada nova fase da vida dele vemos que ser pais não é tão fácil, mas o amor é muito maior e acabamos nos dando bem em cada novo ciclo que aparece”.

Além da grande alegria que sentiu no momento, Marcos teve uma certeza, a de que iria apresentar ao filho a uma segunda língua, o inglês. Foi então que o professor de inglês partiu para as redes.

Parte da rotina mantida com o filho Vicente também é compartilhada pelo professor Marcos Braga nas redes sociais.

“Comecei a estudar sobre o aprendizado de línguas para bebês e a entender do que se tratava a criação bilíngue. Desde a barriga, o Vicente já escutava musiquinhas e eu falava com ele em inglês. Quando entrei nas redes sociais, vi que não havia muitos perfis tratando sobre esse tema, muito menos com um pai a frente compartilhando as experiências da paternidade. Foi então que decidi me jogar de cabeça neste mundo criando o perfil no Instagram @papaibilingue e aos poucos fui me conectando a essa rede de apoio com outros pais que também tratam de assuntos diversos relacionados a paternidade”.

A partir dessa conexão com pais de outras partes do Brasil, para além do Estado do Pará, onde vive, Marcos pode discutir e refletir não apenas sobre a educação bilingue, mas todo o resto que envolve o universo da paternidade.

“Contar com amigos pessoais e profissionais de diversas áreas como saúde, educação, psicologia, administração etc. e que levam o seu conhecimento em direção a paternidade, nos dá muito mais segurança na criação de nossos filhos. Antigamente as rodas de conversa de pais eram somente sobre futebol, trabalho e afins. Fazer lives, palestras e discutir assuntos de importância para a família como um todo, tem ficado cada vez mais comum entre os pais. Para mim essas ações representam uma boa evolução nas atitudes masculinas e paternais hoje em dia. Tais atitudes tendem a ficar cada vez mais rotineiras e fazendo a diferença na formação de nossas crianças”.

 

PATERNIDADE TAMBÉM SE APRENDE

Estudar sobre a nova experiência também foi o caminho encontrado pelo Ewerton Carneiro, pai da Belle e do Bento. “Quando Belle nasceu, após o período mais tenso, eu comecei a estudar sobre criação de filhos e comecei seguir muitos psicólogos, vi várias sugestões de atividades, eu reproduzia com Belle e começava a postar, até então não tinha o perfil no insta”, lembra, ele que vive com a família no Estado do Maranhão. “Com a vinda do Bento criei o @paide2carneirinhos. O nome vem do meu sobrenome e foi uma homenagem ao meu pai Jaime Carneiro”.

Estudar sobre a nova experiência também foi o caminho encontrado pelo Ewerton Carneiro, pai da Belle e do Bento.

A partir da atuação com o perfil, onde ele passou a publicar conteúdos sobre a paternidade, livros e brincadeiras para fazer com os filhos, Ewerton também percebeu um crescimento na busca por informações sobre o universo da criação de filhos e sobre querer acertar numa paternidade mais amável. “É bom ver esse crescimento, esse movimento muda muitos pais e promove um ambiente mais saudável na paternidade”, considera. “Eu participo de um grupo com pais de todo Brasil. É um ambiente seguro pra se expressar, muitas vezes expor fragilidades e, acima de tudo, pedir apoio”.

Dentro dessa grande rede que envolve diferentes pais, o objetivo em comum é aprender mais sobre como educar e como ser pai. E Ewerton reforça que, sim, eles estudam o tema, ao mesmo tempo em que aprendem diariamente com a prática da paternidade. “Belle chegou pra me ensinar ou pra me impulsionar a estudar a ser pai. Foi uma montanha russa de emoções”, considera.

“Eu digo que Bento chegou num momento mais light, mas trouxe os desafios de ser pai de menino – pense numa energia! Foi diferente os anos iniciais de cada um, mas nos preencheu muito enquanto família. Eu e minha esposa somos gratos a Deus por nossa família e tudo que vivemos”.

 

Relatos de um pai participativo

Muitos ensinamentos também foram apresentados a João Simplício após a vinda do João Vicente, hoje com oito anos, e do Benjamin, que acabou de completar um ano, cada um guardando uma vivência única de paternidade.

Muitos ensinamentos também foram apresentados a João Simplício após a vinda do João Vicente, hoje com oito anos, e do Benjamin, que acabou de completar um ano.

 

“Eu sempre digo que foram experiências diferentes nas gestações e os meus filhos, hoje, são um norte da minha vida, no sentido de que eles me dão força para encarar o dia a dia. Se o João Vicente me ensinou a ser pai na prática, a desenvolver o meu laço paterno, de a gente ter uma um coração fora do seu corpo que bate tão forte quanto o seu, o Benjamin ensinou a ter mais fé, me ensinou a acreditar em milagres, a renovar cada vez a minha fé em Deus e Nossa Senhora”, considera.

João Vicente nasceu de nove meses, depois de uma gestação bem tranquila. Já a gestação do caçula Benjamin foi mais complicada. João Simplício lembra que quando a esposa estava com 21 semanas de gestação, perdeu líquido amniótico e, ao chegar na emergência, o que a família ouviu dos médicos é que não havia um protocolo para esses casos quando se está neste período da gestação. Os dias que sucederam foram difíceis, com a necessidade de repouso absoluto da mãe e, depois, dois meses de internação até que Benjamin viesse ao mundo.

“O Benjamin nasceu com uma displasia bronco-pulmonar, que é como se o pulmão dele não tivesse se desenvolvido direito, ele ficou durante 6 a 7 meses internado no hospital e a gente indo todos os dias visitá-lo na neonatal até que ele teve alta. Ele veio para casa via home care e hoje ele ainda está em home care. O que os médicos dizem é que o pulmão dele precisa se expandir mais para que ele possa largar esse oxigênio”, lembra o pai.

“E a gente tem essa luta diária, a rotina da gente é muito pesada, mas eu devo dizer que o aprendizado que eu tive com o Benjamin é o de me reencontrar com a minha fé, de acreditar em milagres porque ele foi um verdadeiro milagre”.

Ainda antes da chegada do caçula, João Simplício começou a compartilhar as muitas experiências que envolvem a paternidade no perfil @borapai, que faz referência a uma expressão comum também na Bahia, onde eles vivem.

“Quando eu criei o perfil, o João Vicente tinha dois aninhos e eu decidi colocar fotos sobre a minha paternidade no Instagram. Isso foi em 2018 e naquela época o João Vicente já falava e ele tinha muito isso de dizer ‘bora pai fazer isso’, ele dizia ‘bora pai, salvar o dia’ porque para ele ‘salvar o dia’ era brincar com os bonecos”, lembra. “Então eu criei o @borapai. O perfil foi criado de maneira totalmente despretensiosa. Eu não queria criar movimento”.

Também sem imaginar a proporção que poderia ter, ao mesmo tempo João começou a escrever alguns textos sobre a experiência. A ideia seria guardar essas recordações, mas, ao mostrá-los para a esposa e, depois, para outras pessoas, acabou nascendo a ideia de publicar os textos em um livro, o ‘Bora pai, relatos de um pai participativo’. Da mesma forma como aconteceu com o perfil, também com o livro João percebeu o interesse e o feedback positivo de várias pessoas sobre os temas que ele abordava.

“Eu comecei a perceber esse movimento, esse crescimento das pessoas me seguirem para entender um pouco mais a minha experiência, para saber um pouco mais como é ser pai de menino, sobre como eu enxergava a paternidade”, lembra.

Com a experiência adquirida até aqui, João Simplício considera que a sociedade está evoluindo para um cenário de maior conscientização sobre o papel dos pais na criação de seus filhos, em busca de uma paternidade consciente.

“A gente vive numa sociedade que ainda tem uma estrutura muito machista, que as mulheres foram criadas para serem as únicas criadoras dos seus filhos e os pais eram aqueles que pagavam as contas. O que eu percebo é que quanto mais a gente tem eventos e pessoas falando sobre a importância da participação do pai na educação e na criação dos filhos, os homens têm falado ‘opa, tem alguma coisa que estão falando que eu consigo ver em mim, tanto de certo, quanto de errado’”, considera.

“Quando você participa dessas lives, conferências, desse movimento, a primeira coisa que você percebe é que encontrou seus pares”.

 

Assim nascem os grupos de paternidade

As conferências online já realizadas pela rede dos quais eles fazem parte é uma amostra de como o movimento tem crescido. Pai do Arthur José, de 4 anos, e da Laura Maria, de 8 meses, Ageu Viana é o líder da Rede de Apoio à Paternidade Ativa, Afetiva e Integral, a @papaisinfluenciadores.

Pai do Arthur José, de 4 anos, e da Laura Maria, de 8 meses, Ageu Viana é o líder da Rede de Apoio à Paternidade Ativa.

“Quando a minha esposa ficou grávida no final de 2018, eu me senti bastante perdido. Por mais que eu seja um profissional da saúde e saiba todo o trânsito de uma gestação, na questão afetiva mesmo da paternidade eu me senti bem desamparado”, lembra. “Eu fiquei pensando ‘Como que será esse exercício da paternidade?’, ‘O que é ser pai?’, então eu fui para as redes sociais buscar algum perfil que falasse de paternidade, que abordasse paternidade e que trouxesse algum conteúdo, mas no sentido de buscar como se fosse um manual de como fazer”.

Buscando esses perfis, Ageu encontrou muita coisa a respeito da paternidade, inclusive, que não existe manual. Foi então que ele, que é dono do perfil @papaidescomplicado, resolveu fazer contato com outros pais que também produziam conteúdos sobre o assunto.

“Eu comecei a mandar direct falando que a gente poderia montar um grupo de WhatsApp com pais que possuem perfis no Instagram e de repente eu tinha mais de 50 perfis dentro do grupo de paternidade, com pessoas de mais de 15 estados diferentes, discutindo questões muito latentes sobre paternidade, sobre essa questão de expor a nossa paternidade na rede social e de que a gente não estava expondo ali no sentido de buscar aplausos, ou título de paizão”.

Quando veio a pandemia, em 2020, o grupo acabou se fortalecendo. Foi, então, que surgiu a ideia de fazer uma conferência online. De Minas Gerais, onde vive, Ageu conseguiu reunir 300 inscritos de vários pontos do país.

“O movimento ganhou o corpo e foi chegando mais pais no grupo de WhatsApp e a gente começou a filtrar porque o objetivo não era montar um grupo de pais para falar de paternidade, mas montar uma rede de pais que influenciavam sobre paternidade para a gente tentar influenciar de forma mais forte e alcançar mais pessoas”, conta. “Fizemos a segunda conferência online de pais em 2021 e em 2023 tivemos a terceira edição”.

Frente à participação sempre muito interessada de uma quantidade significativa de pais, Ageu considera que a sociedade, hoje, está vivendo um momento de ‘primavera’ da paternidade ativa, mas que ainda precisa avançar bastante.

“As pessoas ainda consideram pouco estranho o homem ocupar esse lugar da paternidade ativa porque sempre ficou nas costas da mãe, essa mãe sempre esteve sobrecarregada, então, no momento em que essas pessoas vão abrindo essas redes e mostrando a paternidade real, do dia a dia, isso vai gerando quase um neurônio-espelho. Os homens vão se sentindo menos tímidos de exercerem a sua paternidade ativa porque ele encontra os seus pares ali”, avalia.

“Claro que a gente está num movimento muito inicial ainda, mas eu percebo que tem sido bem mais aberto falar de paternidade ativa e bem mais normal encontrar os homens exercendo e falando sobre a sua paternidade com mais propriedade”.

Quando se trata de entender o que significa a própria paternidade, Ageu não tem dúvidas de que é um exercício complexo, mas com ganhos imensuráveis. “É um exercício complexo, no sentido da responsabilidade que é ser pai, mas ao mesmo tempo é algo maravilhoso e muito completo na perspectiva de vida mesmo, de humanidade, você saber que tem alguém que te ama de forma Incondicional e que se parece com você, que curte estar com você, então, a paternidade é essa coisa desafiadora, mas ao mesmo tempo apaixonante de viver”.