Pará

'Pai d'égua', 'bora lá só tu': Pesquisa da Ufra cataloga fraseologias paraenses

Até o momento, já foram catalogadas 1.390 fraseologias, que serão analisadas desde a origem, se de fato são paraenses, até se existe a incidência delas fora do estado
Até o momento, já foram catalogadas 1.390 fraseologias, que serão analisadas desde a origem, se de fato são paraenses, até se existe a incidência delas fora do estado

Tu sabias que as expressões “bora lá só tu”, “só te digo vai” e “nem te bate” têm uma frequência muito maior em Belém do que nos demais municípios do estado do Pará? Essas informações fazem parte do projeto de pesquisa “Banco de Dados fraseológicos do Pará”, coordenado pela professora Carlene Salvador, do curso de Letras-Língua Portuguesa, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Belém.

“Dependendo da região, algumas fraseologias são mais frequentes ou recebem influências de outros estados. Existem expressões ditas em Belém que não são frequentes no sul do Pará e vice-versa. As comunidades linguísticas se comportam de forma diferente de acordo com a localização geográfica. O território implica no falar e na valorização da língua”, diz Carlene Salvador.

Na pesquisa da Ufra não é analisado o tradicional “égua”, mas sim o “pai d’égua”. Isso porque fraseologias são construções linguísticas formadas por, no mínimo duas palavras, que se instituem pelo uso, pela frequência e não pedem permissão da gramática normativa para existir. Mais que rebeldia, as fraseologias emergem de um contexto social que deve ser valorizado. “Muitas vezes essas expressões nascem em um contexto periférico, de pessoas que podem não ter tido acesso à educação formal, mas que a partir de um grau de informalidade se fazem entender completamente, com uma linguagem que chega na população, que a identifica, mas que são discriminadas pela norma culta. O que se percebe é que as fraseologias emergem independente do nível de formação do falante e algumas extrapolam a bolha de onde costumam emergir”, diz.

Com a recente presença de dois paraenses em um programa de tv veiculado em rede nacional, muito tem se falado sobre a identificação e representatividade do modo de falar nortista, da linguagem e expressões. “Existem fraseologias específicas que são muito características da nossa região. Essa representatividade é importante, a difusão da nossa cultura passa pelo fator linguístico e fraseológico também”, diz.

Entre as fraseologias coletadas no Pará estão expressões como “só o creme”, quando algo é muito bom; “te arreda” ou “arreda daí”, que é um pedido para a pessoa se afastar de algum lugar; “te sai”, como uma repreensão; “Não que não” que na verdade significa “sim” e outras que envolvem palavrões e analogias regionais. “Uma das mais interessantes é ‘boca de jambu’, porque o jambu faz a língua tremer, então, significa aquela pessoa que não controla a língua, é fofoqueira. Isso é algo único e é nosso”, diz a pesquisadora.

Inicialmente os pesquisadores estão reunindo as fraseologias paraenses de forma virtual, a partir de jornais, blogs e diferentes redes sociais. E na próxima fase, o grupo vai fazer a verificação na prática, nas seis mesorregiões do Estado. “Após a catalogação, nós vamos a campo para validar as informações coletadas, realizar entrevistas e verificar se de fato determinada fraseologia circula naquela região, e se tem frequência de uso pela população”, explica a professora.

Até o momento, já foram catalogadas 1.390 fraseologias, que serão analisadas desde a origem, se de fato são paraenses, até se existe a incidência delas fora do estado. O objetivo final do projeto é fazer um atlas fraseológico do Pará, documento que ficará disponível de forma online e reunirá todas essas informações de acordo com as regiões que são mais comuns, com um banco de dados sempre atualizado, com adição de informações e contribuições. A professora explica que na região Norte ainda há uma escassez de trabalhos na área fraseológica.

“Nós queremos institucionalizar essas fraseologias, estudá-las, colocá-las em dicionários. Essas expressões são deixadas à parte, porque são consideradas apenas como gírias. E não são simplesmente gírias, são nossa cultura. O estudo que estamos fazendo não é apenas uma contribuição para a linguística, mas uma valorização cultural da parte descritiva, não só normativa. É preservação da língua, daquilo que só tem aqui, e emergiu daqui”

O projeto é constituído por 12 alunos do curso de Letras- língua Portuguesa da Ufra e também por dois professores colaboradores do Instituto Federal do Pará (Ifpa) e Centro Universitário do Pará (Cesupa). A pesquisa seguirá até o final de 2025.

Fonte: Ascom Ufra