CORRUPÇÃO EM ANANINDEUA

“Pagaram até avião com verba pública”: MP detalha esquema que afastou Daniel Santos

Gaeco aponta uso de empreiteiras para comprar fazenda e avião de prefeito de Ananindeua. Entenda o esquema!

Gaeco aponta uso de empreiteiras para comprar fazenda e avião de prefeito de Ananindeua.
Gaeco aponta uso de empreiteiras para comprar fazenda e avião de prefeito de Ananindeua.

Ananindeua e Pará - Uma dívida de R$ 4 milhões em uma negociação de fazenda foi o ponto de partida da investigação do Ministério Público do Pará (MPPA) que culminou no afastamento do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos (PSB). A denúncia foi feita pela antiga proprietária da fazenda, que afirmou ter vendido a propriedade ao gestor por R$ 16 milhões, mas recebeu apenas R$ 12 milhões.

Segundo a mulher, após procurar o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ela foi novamente abordada por Daniel Santos, que teria tentado convencê-la a retirar a denúncia em troca do pagamento do valor restante. A tentativa de suborno, segundo o promotor Arnaldo Azevedo, caracteriza obstrução à Justiça. Por isso, o MPPA solicitou sua prisão ou, alternativamente, o afastamento do cargo – medida que foi acatada pelo Judiciário.

Empresas contratadas pela prefeitura ajudaram a pagar fazenda e avião

A apuração revelou que parte do pagamento da fazenda foi feito pela empreiteira Edifikka Construtora Ltda., que possui contratos ativos com a Prefeitura de Ananindeua. A empresa também assinou cartas de crédito para veículos adquiridos pela vendedora da fazenda.

As denúncias ganharam força após o depoimento de Ronaldo Sousa, dono de outra empreiteira contratada pelo município. Ele afirmou que, para receber pelos serviços prestados, precisou adquirir uma escavadeira de R$ 870 mil, abastecer com combustível a fazenda JD Agropecuária — pertencente ao prefeito — e pagar R$ 300 mil de uma parcela de uma aeronave, cujo valor total seria de R$ 10,9 milhões.

Posteriormente, Ronaldo recuou nas declarações, dias depois de ter recebido mais de R$ 800 mil da Prefeitura. Ainda assim, o MPPA confirmou suas informações por meio de documentos e notas fiscais.

A empresa fornecedora do combustível confirmou ao MPPA que o produto foi comprado pela empreiteira de Ronaldo e entregue à JD Agropecuária. Os recibos foram assinados por funcionários da fazenda. Ao todo, foram mais de R$ 1,8 milhão em combustível repassados à propriedade rural do prefeito.

O mesmo ocorreu com os pagamentos da aeronave. A Maia Aviation confirmou que a parcela de R$ 300 mil foi paga pela empreiteira de Ronaldo. Segundo o MPPA, a aeronave foi paga com recursos de pelo menos oito empresas contratadas pela prefeitura, totalizando R$ 4,1 milhões em repasses diretos à aeronave. Entre as empresas envolvidas estão a Everest Empreendimentos Imobiliários, a Martins Construtora e a DSL, de propriedade de Danilo Linhares, dono também da Edifikka.

Dinheiro público foi parar em aeronave particular, diz MP

De acordo com o promotor Arnaldo Azevedo, a Everest recebeu R$ 2 milhões da Prefeitura de Ananindeua em 11 de janeiro de 2023. Apenas dois dias depois, em 13 de janeiro, repassou R$ 650 mil para pagar parcelas do avião do prefeito. Em 7 de fevereiro, mais R$ 321 mil foram desembolsados pela mesma empresa para a aeronave.

Já a Martins Engenharia, que recebeu R$ 429 mil da prefeitura, repassou R$ 284 mil para o pagamento do avião em 8 de fevereiro.

“O Ministério Público não está inventando nada. Os documentos estão aí. As empresas recebem da prefeitura e, dias depois, pagam bens de uso pessoal ou de propriedade do prefeito. Ele precisa explicar por que isso aconteceu”, afirmou o promotor, que coordena o Centro Integrado de Investigação do MPPA.

A aeronave mencionada na investigação não foi apreendida durante a operação porque não estava em solo paraense no momento da ação.