Pará

Órgãos federais ignoram caos no Porto de Vila do Conde

Foto: Wagner Santana/Diário do Pará
Foto: Wagner Santana/Diário do Pará

Por Luiz Flávio

O poder público pode ter lavado as mãos em relação ao caos administrativo que se instalou no Porto de Vila do Conde, em Barcarena, o maior em operação no Estado do Pará. Primeiro a Companhia das Docas do Pará (CDP) se eximiu de responsabilidades. Agora a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), autarquia federal vinculada ao Ministério da Infraestrutura, responsável pela regulamentação, controle tarifário, estudo e desenvolvimento do transporte aquaviário no Brasil, informa apenas que “a Gerência Regional de Belém está ciente dos acontecimentos e que acompanhará o desdobramento dos fatos visando a regularização da situação”, sem informar qualquer providência para resolver ou atenuar a situação, que atravanca o desenvolvimento do Estado e causa inúmeros prejuízos a importadores e exportadores no Pará.

Ne última terça-feira (13), o DIÁRIO encaminhou ao órgão federal uma série de questionamentos acerca dos inúmeros problemas crônicos de gestão aliados à falta de comunicação e de investimentos efetivos enfrentados por despachantes, transportadores e empresas de importação e exportação que operam no porto de Vila do Conde, que vive um caos administrativo nas últimas semanas. A responsável é a empresa Santos Brasil, que há 15 anos arrendou a movimentação e contêineres no porto. Até o fechamento desta edição, no início da noite da última sexta-feira (16), nenhum posicionamento da Antaq havia sido encaminhado ao jornal.

Após reportagem do DIÁRIO publicada no domingo passado, que teve grande repercussão, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) convocou uma reunião de trabalho na última quarta-feira (14), na sede da entidade, em Belém, para debater a questão. Por volta de 60 representantes despachantes, transportadores e empresas de importação e exportação que operam no porto de Vila do Conde colocaram de viva voz aos representantes da Santos Brasil todos os problemas de gestão, de comunicação e de infraestrutura os principais enfrentados nos últimos meses.

A Santos Brasil, mais uma vez, se comprometeu a equacionar os problemas, dando um prazo até o final do mês de outubro para reestabelecer os “padrões de produtividade” no terminal de contêineres. As categorias reclamaram principalmente da demora excessiva na liberação e cargas que vem deixando inúmeros importadores e exportadores com prejuízos imensuráveis.

As empresas deixaram claro na reunião que podem até suspender suas operações de importação e exportação do Porto de Vila do Conde e transferi-los para o Porto de Santana, em Macapá, por conta dos inúmeros prejuízos econômicos que vêm sofrendo nos últimos meses em razão dos problemas recorrentes, o que acarretaria prejuízos tanto para economia de Barcarena como a do Estado no que se refere à arrecadação e impostos.

Um empresário exportador presente à reunião, e que preferiu se manter no anonimato, afirmou que sempre acompanha com ceticismo as reuniões patrocinadas pela Santos Brasil. “É sempre a mesma ladainha: nós participamos desses encontros, a empresa promete mundos e fundos, alega uma série de dificuldades e garante que vai resolver as questões, mas tudo continua a mesma coisa. Esperamos que agora, com a pressão da mídia que expôs essa situação, as coisas efetivamente se normalizem”, espera.

Empresas de comércio exterior afirmam que a Santos Brasil não se preparou para o crescimento da região Norte e em especial do Pará. Hoje existem dezenas de contêineres parados do porto que está sem movimentação por falta de maquinário. Cargas para Dia das Mães e Natal, por exemplo, chegam com 2 meses de antecedência em média, e com esse problema gerado pela Santos Brasil isso não vem sendo cumprido. Cargas encomendadas para o Dia dos Pais, mês passado, continuam encalhadas no porto sem liberação, causando um grande prejuízo.

Transportadoras que atuam no porto afirmam que o grande gargalo hoje em Vila do Conde é o descarregamento das cargas, onde os motoristas das empresas passam horas a fio em filas no porto esperando atendimento, acarretando um atraso grande na entrega dos produtos ao cliente final, extrapolando todos os prazos e gerando um efeito cascata. Quando o porto não cumpre o agendamento para o descarregamento gera um atraso na entrega e outro agendamento precisa ser marcado, prejudicando os clientes.

Como os prazos de carregamentos e de destinação final das cargas não são cumpridos, os clientes acarretam muitos prejuízos pois não conseguem colocar seus produtos no comércio. O resultado é que muitas empresas vêm substituindo o modal fluvial pelo rodoviário e se não há carga para transportar, a empresa fica no prejuízo e o resultado final é demissão de funcionários e até fechar as portas.

Empresa diz que problema “é pontual”

Em nota encaminhada ao jornal, A Santos Brasil afirma que nos últimos meses foi realizada recomposição do piso do Terminal de Contêineres de Vila do Conde, fazendo-se necessária a utilização de áreas externas para a armazenagem de contêineres. Essa operação emergencial comprometeu temporariamente o parque de máquinas, reduzindo a capacidade operacional do terminal. Nas últimas semanas, somou-se a isso o aumento da demanda de contêineres vazios, exigindo mais dos equipamentos e mais áreas externas. Desta forma, os equipamentos de movimentação foram utilizados diuturnamente em condições extremas, em área de piso irregular, condição operacional que reduziu a sua disponibilidade a 50% do ideal”.

Segundo a empresa trata-se de um ‘problema pontual que já está sendo sanado”. Entre as medidas emergenciais adotadas estão a locação de duas Reach Stakers (utilizadas para a movimentação de contêineres) – a primeira entrou em operação no último dia 14/9; e a segunda, no próximo dia 29; além da transferência de uma terceira Reach Staker de outra unidade da empresa, equipamento que iniciará sua operação em 20/10. “A Santos Brasil também deslocou uma equipe de manutenção de seu terminal em Santos para agilizar eventuais reparações que se façam necessárias”.

A Santos Brasil afirma desconhecer a realidade atual do porto, onde navios passam vários dias, em alguns casos semanas, no porto esperando para descarregar suas cargas, afirmando que as operações de embarque e desembarque de cargas em navios de contêineres, mesmo os operados nas últimas semanas no terminal, “levam horas e não semanas”.

Questionada por quem arca com o prejuízo das empresas que importam e exportam produtos através do porto e demoram dias para liberar suas cargas, a Santos Brasil afirmou que “Infelizmente, um problema pontual reduziu temporariamente a produtividade da Santos Brasil” e que a redução da produtividade do Tecon Vila do Conde “é pontual e a companhia já adotou todas as medidas possíveis para que o terminal retome seu padrão normal. A previsão é de que o nível de serviço cresça já nas próximas semanas e que a situação se normalize”.