No final de abril deste ano, a aposentada Marta Silva, 75 anos, apresentou uma úlcera infectada no olho direito. Mesmo com tratamento clínico, a condição evolui para o afinamento do tecido ocular com risco iminente de perfuração. A idosa foi encaminhada para o Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, e já está inscrita, de forma prioritária, para receber uma nova córnea.
O Hospital Ophir Loyola atua com esse tipo de intervenção terapêutica, desde o ano de 2008, quando realizou o primeiro transplante de córnea pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Pará.
Responsável técnico pelo BTO, o oftalmologista Alan Costa aponta as estratégias adotadas pelo serviço para aumentar a doação de tecidos oculares. A fila de espera apresentava mais de 1.100 inscritos em 2022, número que caiu para 963 até o dia 05 de junho deste ano, e sofre variação conforme a entrada ou saída de pacientes.
O especialista destaca que o BTO exerceu um papel muito importante na redução da fila ao reproduzir experiências exitosas de outras capitais brasileiras, a exemplo da cooperação com o IMOL.
“Além da qualificação dos profissionais, divulgamos o tema em diversas frentes de ensino, promovemos campanhas e, principalmente, estabelecemos a parceria com a Polícia Científica do Pará (Pcepa). Criamos uma extensão do BTO do nosso serviço no IMOL com uma equipe atuante em regime integral. E treinamos as equipes da Polícia Científica em relação à condução e armazenamento dos cadáveres, a fim de que consigam estabelecer as circunstâncias ideais à enucleação do globo ocular dos corpos, em caso de doação”, disse Alan Costa.
Segundo o especialista, a equipe atua 24h no HOL (sede) e na extensão do serviço localizada no prédio da Polícia científica para realizar a triagem de possíveis doadores nos serviços de mortes violentas e de causas naturais, bem como atende às notificações de doações da Central Estadual de Transplante (CET), subordinada à Secretaria Estadual de Saúde (Sespa).
“Nós temos realizado articulações internas e externas, assim como executamos diversos projetos dentro os quais o do ano vigente ‘Doe Córneas: Responsabilidade Social’, que ganhou reforços dos principais clubes do Pará, que divulgam, durante os jogos, informações sobre como se tornar um doador. Assim, estamos cumprindo com o papel de reduzir a fila de espera e, consequentemente, aumentar o número de transplantes em nosso estado, por meio de um serviço de qualidade e segurança efetiva”, destacou Alan Costa.
O Banco de Tecido Ocular é responsável por todas as etapas do processamento dos tecidos oculares doados no Pará: captação, avaliação, preservação e armazenamento à destinação para transplante.
“Fazemos buscas de potenciais doadores, acolhemos as famílias enlutadas e executamos todos os trâmites do processo de doação. É um trabalho diário, ininterrupto em que nossa equipe está sempre oportunizando esse ato de caridade e amor às famílias. A melhor abordagem, acolhimento e humanização da enfermagem repercutiram na redução da recusa das família”, informou a gerente de enfermagem do BTO, Cristiane Moreira.
“A sensação é de felicidade e alívio, porque já sofri muito com a dor e a infecção. Só não fiz o procedimento antes porque tive uma alteração no exame de risco cardiológico, então precisei me cuidar e esperar a situação normalizar para ser liberada e ser submetida ao procedimento. Após o transplante, espero ter qualidade de vida, afinal é o último recurso da medicina para tratar essa infecção ocular. E que bom que há quem se solidariza com quem tanto espera por uma doação”, disse Marta Silva, de 75 anos.
A aposentada é somente uma das beneficiadas com o trabalho desenvolvido pelas equipes de Transplante de Córnea e do Banco de Tecido Ocular (BTO) do HOL. Com os esforços para reduzir a fila, o BTO registrou o aumento do número de doações de córnea em 2023. Somente nos primeiros cinco meses deste ano, foram recebidas 266 córneas, o maior número registrado na história do serviço.